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Jogadores desafiam leis da gravidade em "futevôlei" com artes marciais

Giselle Hirata

Do UOL, em São Paulo

30/09/2013 06h00

Precursores do karatê, do kung fu, do judô, do jiu-jitsu, entre outras artes marciais, os asiáticos resolveram criar um novo esporte incluindo golpes de luta: o sepaktakraw. O nome, que é difícil até de pronunciar, é uma junção de palavras de duas línguas diferentes. “Sepak”, em malaio, significa “chute”, enquanto o “takraw”, em tailandês, quer dizer “bola”.

A modalidade surgiu há uns 500 anos. No século 16, era jogada em um círculo de forma lúdica. O objetivo era passar a bola para o outro jogador sem deixá-la cair. A tradição ficou escondida entre o povo asiático até a década de 1960, quando um grupo de jogadores decidiu incluir uma rede para deixar a partida mais emocionante. A partir daí, o esporte ganhou adeptos, regras e até uma Federação, a ISTAF (International Sepaktakraw Federation).

O JOGO
A regra é clara: passar a bola para o outro lado da rede utilizando qualquer parte do corpo, exceto as mãos e os braços. Assim como no vôlei, a equipe que conseguir tocar a bola dentro da quadra do adversário marca o ponto.

Parece simples, mas é preciso ter muita habilidade para não deixar a bola cair e para realizar as jogadas, que mais parecem golpes de karatê ou até movimentos de ginástica rítmica. Quem quiser ser um jogador de sepaktakraw precisa ter precisão e elasticidade – motivo pelo qual o jogo é uma especialidade dos asiáticos.

Cada time pode ter até cinco jogadores, três em quadra e dois reservas. O jogo tem cinco sets com 15 pontos corridos. Durante cada set, o técnico pode fazer uma substituição.

A BOLA
Antigamente, nos primórdios do sepaktakraw, a bola era feita com um material chamado rattan, um tipo de bambu. Em 1982, um engenheiro tailandês introduziu bolas de tecido sintético, que são utilizadas até hoje. O tamanho e o peso da bola variam para homens e mulheres. Para as partidas de times masculinos, ela mede de 42 a 44 cm e pesa de 170 a 180g, já para os times femininos são utilizadas bolas de 43 a 45 cm, que podem pesar de 150 a 160g.

QUADRA E REDE
A quadra segue o padrão do badminton e possui 13,4 metros de comprimento por 6,1 metros de largura. E a rede pode variar na altura: 1,52 m para homens e 1,42 m para mulheres.

Artes marciais em quadra

BRASILEIROS TAMBÉM JOGAM
Apesar de não ser muito conhecido por aqui, o sepaktakraw tem uma competição mundial, a Copa do Rei da Tailândia. O evento, que já tem 25 anos, é realizado todos os anos. Só na Ásia são 18 times masculinos e 13 femininos participantes. Fora do continente, existem equipes nos EUA, no Canadá, na França, na Itália e até no Brasil.

O esporte chegou por aqui em 1989, graças ao arquiteto Hilário Nóbrega da Cunha – conhecido como o “Charles Miller do Sepaktakraw”. “Eu conheci a modalidade em Bali, durante uma viagem, e achei o jogo muito interessante. Resolvi trazer essa ideia na minha bagagem para o Brasil. Foram quase dez anos tentando introduzir o esporte aqui, mas deu certo”, disse ao UOL Esporte.  Hoje, Hilário é o vice-presidente da ABT e membro do conselho da Federação Internacional de Sepaktakraw. “E minha cidade natal, Olinda (PE), se tornou a capital brasileira desse esporte”, complementa.

E é por esse motivo que a seleção brasileira é composta, basicamente, por pernambucanos. “Atualmente contamos com 12 jogadores e cada um vem de uma modalidade esportiva diferente. No nosso time temos atletas do futevôlei, da capoeira e também do futebol”, conta Siderlei Costa Lopes, diretor técnico da Associação Brasileira de Takraw (ABT). A ideia, segundo ele, foi reunir pessoas que tinham habilidade com a bola e flexibilidade para executar as jogadas.

“E nos treinos tentamos, ao máximo, dar ênfase às especialidades de cada atleta. Por exemplo, um atacante precisa praticar o impulso e exercitar a flexibilidade para poder fazer uma boa cortada. Enquanto a defesa precisa treinar os reflexos e o domínio da bola”, explica.

E na terra do futebol, domínio da bola é o que não falta, né? “Sim, temos essa facilidade. Isso sem contar que os capoeiristas acabam se tornando grandes acrobatas em quadra”, ressalta Lopes. E foram essas habilidades que ajudaram o Brasil a ganhar quatro títulos mundiais na Copa do Rei da Tailândia, pela serie B do campeonato.

“Temos um grande potencial para o sepaktakraw. Tanto que temos a intenção de criar escolinhas em alguns estados brasileiros para ensinar as técnicas para crianças de adolescentes”, diz Lopes. O único empecilho para levar o projeto adiante, segundo ele, seria a falta de incentivo. “O esporte, apesar de ser bem aceito, ainda é pouco conhecido. Então, é complicado conseguir patrocinadores até mesmo para poder levar os jogadores para as competições, que sempre são realizadas na Ásia.”

Mas, mesmo diante dos problemas financeiros, a seleção tem participado das competições mais importantes. “E continuamos procurando atletas que queiram representar o Brasil”, pontua Hilário.

Para mais informações sobre o esporte e para saber como participar dos testes para a seleção, entre em contato com a Associação Brasileira de Takraw pelo site.