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História revelada: o dia em que o nazismo usou o futebol no Brasil

21.jan.2014 - Reprodução de imagem mostra time da década de 1930 no interior paulista que tinha suástica como símbolo - Reprodução
21.jan.2014 - Reprodução de imagem mostra time da década de 1930 no interior paulista que tinha suástica como símbolo Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

21/01/2014 16h19

O Brasil já teve um time nazista. A história foi revelada nesta terça-feira em reportagem publicada no site da emissora inglesa BBC. Foi na década de 1930, em uma fazenda no interior de São Paulo. A equipe, que tirou foto com uma suástica na bandeira, inclusive chegou a formar um atleta, Agemiro dos Santos, que mais tarde vestiu importantes camisas do futebol brasileiro como Fluminense, Botafogo e Vasco.

A história da equipe tem capítulos de desrespeito aos direitos humanos. De acordo com a reportagem da BBC, a matéria-prima do time eram garotos com cerca de 10 anos recolhidos em orfanatos do Rio de Janeiro. Levados para a fazenda que fica a 160 quilômetros de São Paulo as crianças eram submetidas a castigos e trabalhos forçados.

A foto da equipe junto à bandeira com o símbolo da suástica foi encontrada por José Ricardo Rosa Maciel, que não fazia a menor ideia da origem da imagem nem a situação que os jogadores enfrentavam. A estimativa é que seja da década de 1930. O futebol era o único momento de alívio dos garotos na rotina de trabalho e punições que iam de ficar sem comida até golpes palmatória.

Agemiro, hoje com 89 anos, lembra que havia campeonatos e o time era bom. Mas a rotina puxada e violenta se tornou insuportável e ele fugiu. Voltou para o Rio de Janeiro e depois de perambular pelas ruas, virou entregador de jornal. Quando adulto se tornou jogador de futebol atuando pelo Fluminense, Vasco e Botafogo.

A carreira foi interrompida em 1942, quando entrou para Marinha e lutou na Segunda Guerra Mundial contra a Alemanha de Hitler. A tarefa era caçar submarinos nazistas.

Pelo menos era um trabalho considerado profissional, adjetivo que não se aplicava ao futebol. Agemiro lembra que naquele tempo o esporte era amador e os jogadores eram entregadores de jornal e engraxates.

Tanto tempo passado desde os dias na fazenda não fizeram Agemiro esquecer os tempos difíceis na fazenda que mais parecia um campo de concentração. “Todo mundo que diz que teve somente dias felizes está mentindo porque todo mundo tem momentos difíceis na vida.”

A matéria da BBC informa que a fazenda no interior pertencia a abastada família Rocha Miranda, do Rio de Janeiro. Além da foto do time com a bandeira contendo a suástica, outros elementos comprovam o alinhamento ao nazismo que havia na propriedade. Certa vez os porcos derrubaram parte do chiqueiro e os tijolos tinham a suásticas. O gado também era marcado com o símbolo. Agemiro lembra que havia fotos de Hitler e que em certos momentos precisava fazer saudações a ele, algo que não entendiam o motivo.

Um descendente da família Rocha Miranda negou à BBC que os garotos fossem mantidos como quase escravos.