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Enxadrista que fez história luta contra doença e fala em ser nº1 de novo

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

10/10/2014 06h00

Campeão estadual, brasileiro e sul-americano. Terceiro colocado no ranking mundial quando estava em ascensão e com chances de em curto prazo poder fazer duelos que lhe fizessem galgar ao topo. Mas uma doença afastou seu sonho e impediu por décadas a chance de ser o número 1 no esporte conhecido pela paciência, estratégia e inteligência. A enfermidade ainda atrapalha, mas não impede o sonho. E nunca é tarde para isso, nem mesmo 62 anos.

Essa é a história de um esportista que talvez os mais jovens nunca tenham ouvido falar. Se trata de Henrique Costa Mecking, o Mequinho, maior jogador brasileiro de todos os tempos no xadrez. Viveu seu auge no ano de 1977, quando foi o terceiro do ranking mundial e participou de um torneio que reunia os tops da época e poderia ter chance a ser o desafiante ao então líder do ranking, o russo Anatoly Karpov.

Foi uma das estrelas brasileiras na época. Capa de revista, presença em programas de TV, como o do Chacrinha, um dos mais nobres do período, e até desfile em corpo de bombeiros após vitórias. Foi campeão brasileiro pela primeira vez com apenas 13 anos. Chegou a ser recebido pela torcida do Flamengo e bateria da escola de samba Mangueira no aeroporto após vencer um torneio internacional na extinta Iugoslávia.

Mas, para infelicidade de Mequinho, ainda em 1977 passou a ter problemas de saúde que passaram a atrapalhar seu desempenho e até sua vida. Não compreendia o que acontecia após consulta com vários especialistas.  

“Tinha 25 anos na época e fiquei com a garganta inflamada, nunca ficava boa. Ficou um ano assim, e depois passei a sentir um cansaço grande. Nenhum médico descobria o que era. De repente fiquei mudo e tinha que fazer gestos com as mãos. Tinha vontade de me esconder, era horrível”, lembrou Mequinho, em entrevista ao UOL Esporte. "Não tinha forças para escovar os dentes."

No ano seguinte, foi para Houston, no Texas, nos Estados Unidos, onde especialistas em neurologia detectaram que ele sofria de Miastenia, doença que limita e danifica o sistema nervoso e muscular e gera na pessoa cansaço e fadiga. Demonstrou alívio e felicidade por enfim saber o que tinha. Mas o instante de felicidade com a descoberta logo virou apreensão.

“O médico me disse: ´não fique feliz, essa doença é muito desconhecida para nós, e se progredir rapidamente, não poderemos te ajudar. Você hoje pode falar ainda, mas amanhã talvez nem respirar possa´. Fiquei chocadíssimo. Poderia morrer de uma hora para outra.”

Mequinho teve que interromper a carreira em função do tratamento e viu o sonho ruir desde então. Não suportava a exigência física e psicológica de disputar partidas desgastantes de cinco ou seis horas. O esporte poderia agravar o problema. Teve que parar com apenas 26 anos.

Desde então, buscou a cura não só pela medicina, mas também pela fé. O enxadrista passou a se dedicar à Renovação Carismática Católica. Se formou em teologia e filosofia. Conseguiu conviver com a doença sem risco de morte e credita isso a tudo isso mais à religião do que pelos remédios.

Após 14 anos de inatividade, Mequinho tentou voltar em 1991. Fez poucos jogos nos últimos 23 anos desde então, mas sonha em voltar a ser top. Hoje vive em um apartamento na cidade de Taubaté e participa de alguns torneios no país. Não joga há mais de um ano, mas representará a cidade de Piracicaba nos Jogos Abertos do Interior, que serão realizados em novembro, na cidade de Bauru.

Ele diz correr 4 km por dia e que não há risco nenhum de morte em função da doença. Vive à base de remédios homeopáticos e de seus trabalhos religiosos. Suas refeições são restritas a alimentos naturais. Nada industrializado ou molhos e temperos fortes.

Mequinho tem o título de Grande Mestre Internacional e figura abaixo dos 200 do mundo. Está há um ano sem jogar. Mesmo com 62 anos, crê que ainda é possível voltar a ser top e sonhar com o número um. Para isso, diz que só Deus pode ajuda-lo e espera uma “purificação” divina.  

“Jesus ouviu minha súplica e me curou. Fiquei fora de perigo e até hoje tenho crises menores que não mais colocam em risco a minha vida. Se eu voltar a ficar totalmente curado, desaparecerá esse história de eu cansar mais do que os outros; vou jogar muito melhor. Espero isso para voltar a ser um dos melhores do mundo. Se ficar bom da astenia, posso até ser o primeiro, ser o número um”, falou, empolgado.

Mequinho diz conversar com Jesus e que sua cura virá em breve, ainda sem uma data definida. A único dado que informa é que tudo isso ocorrerá depois de um conflito nuclear na Ásia, que já era para ter ocorrido há quatro anos, quando anunciou que voltaria a ser top.

“Jesus vai me curar depois dessa purificação, vou jogar xadrez muito melhor. Haverá um conflito nuclear entre dois países da Ásia, não posso falar quais. Um país vai atacar o outro com bomba atômica. Serei curado totalmente proclamado para uma missão.”