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Copa e Olímpiada já removeram 250 mil pessoas de suas casas, aponta dossiê

Criança observa entulho de casas demolidas perto do Maracanã meses antes da Copa - Tania Rego/Agência Brasil
Criança observa entulho de casas demolidas perto do Maracanã meses antes da Copa Imagem: Tania Rego/Agência Brasil

Vinicius Konchinski

Do UOL, no Rio de Janeiro

07/11/2014 20h00

A realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil motivou várias violações de direitos básicos da população, principalmente da mais pobre, segundo um dossiê divulgado nesta sexta-feira (7) pela Ancop (Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa). O documento lista diversos casos de violência policial, desrespeito à legislação trabalhista e até remoções forçadas de famílias de suas casas causadas pelo Mundial de futebol deste ano. De acordo com o dossiê, a Copa, junto com a Olimpíada de 2016, já retirou pelo menos 250 mil pessoas de suas moradias.

O número é uma “estimativa conservadora” e diz respeito a remoções realizadas nas 12 regiões metropolitanas de cidades que receberam jogos da Copa do Mundo de 2014. No caso do Rio de Janeiro, a quantidade de pessoas removidas leva em consideração também as pessoas que tiveram que sair de suas casas por causa de projetos ligados à realização da Olimpíada de 2016.

Segundo o "Dossiê Megaeventos e Violações dos Direitos Humanos no Brasil", as remoções são um exemplo de um problema social agravado no Brasil por causa da Copa. “Se a questão habitacional no Brasil já é grave por si só, a realização da Copa em doze cidades e das Olimpíadas no Rio de Janeiro agrega um novo elemento: grandes projetos urbanos com extraordinários impactos econômicos, fundiários, urbanísticos, ambientais e sociais. Dentre estes últimos sobressai a remoção forçada, em massa de cerca de 250 mil pessoas”, destaca o documento.

Essas remoções, segundo o dossiê, contrariam pactos internacionais de direito à moradia, o Estatuto das Cidades e até a própria Constituição Federal. O número contabilizado pela Ancop também contraria o divulgado pelo governo. Durante a Copa, o governo federal informou que só 35.653 famílias tiveram que deixar suas casas por causa de projetos ligados ao torneio.

Outro problema agravado pela Copa foi o desrespeito aos trabalhadores. O dossiê destaca que operários de obras realizadas para o Mundial foram submetidos a condições degradantes de trabalho. Isso motivou inúmeras greves, que paralisaram por 103 dias as construções e reformas dos estádios da Copa –algumas dessas greves foram ilegalmente reprimidas, diz o dossiê.

“Os casos de graves violações de direitos relacionados à Copa do Mundo e aos Jogos Olímpicos se acumulam e envolvem o desrespeito às normas de segurança, perseguição a líderes sindicais e desrespeito às liberdades de organização, greve e manifestação”, informa o documento.

As paralisações, entretanto, não foram suficientes para melhorar as condições de trabalho nas obras. De acordo com o dossiê da Ancop, dez operários morreram enquanto trabalhavam em arenas Copa. Só em Manaus, quatro operários morreram enquanto trabalhavam na Arena da Amazônia. Já em São Paulo, outros três operários morreram em acidentes no canteiro de obras do Itaquerão.

O abuso do poder policial também foi destaque negativo da Copa, de acordo com o dossiê. Manifestações contra o torneio foram violentamente reprimidas em várias cidades. Uma pessoa chegou a morrer no Rio de Janeiro devido à inalação de gás lacrimogêneo lançado por policial durante uma manifestação. 

Um dia antes da final da Copa do Mundo, também no Rio de Janeiro, 19 manifestantes foram detidos temporariamente suspeitos de estarem planejando protestos violentos. No dia da final, o dossiê afirma que a Polícia Militar (PM) atuou violentamente para coibir uma manifestação pacífica que se organizava no entorno do Maracanã. “Diversos manifestantes foram espancados e xingados por PMs. Até faixas foram rasgadas por policiais”, informa o dossiê.

Diferentemente do que aponta o Dossiê Megaeventos e Violações dos Direitos Humanos no Brasil, governos consideraram que a Copa do Mundo foi positiva para o país. Logo após a realização do torneio, a própria presidente Dilma Rousseff fez um balanço sobre o evento. A presidente afirmou que o Mundial foi motivo de orgulho para o país.

"Somos um país que demonstrou sua capacidade de organização. Vocês sabem que os vatícinios, os prognósticos que se fazia sobre a copa, eram os mais terríveis possível. Iam de não vai ter Copa até 'teremos a Copa do caos'. Derrotamos sem duvida essa previsão pessimista e com a ajuda do povo brasileiro fizemos a Copa das Copas", disse ela.