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Fim do embargo econômico deve influenciar o esporte cubano

AP Photo/Koji Sasahara
Imagem: AP Photo/Koji Sasahara

Luis Augusto Simon

Do UOL, em São Paulo

21/12/2014 06h00

Em 9 de agosto de 2012, o decatleta cubano Leonel Suarez igualou o recorde mundial do arremesso de dardo. O resultado o deixou próximo da medalha de bronze, que seria confirmada a seguir. Quando o recorde foi igualado,  o sistema de som anunciou o feito. As imagens mostraram um emocionado Suárez sendo cumprimentado com entusiasmo por Ashton Eaton e Trey Hardee, norte-americanos que ganharam ouro e prata, respectivamente.

No pódio, Ashton levou os dois outros medalhistas ao alto do pódio. Um abraço marcou o fim da competição entre eles. É um dos exemplos de como atletas dos dois países conseguiram, através dos tempo, uma convivência muito mais amistosa do que os governos de seus países.

A convivência e o respeito são facilitadas também por haver pouca disputa entre os dois países. Nos esportes coletivos, há uma grande vantagem dos EUA. O desnível técnico impede rivalidade. No boxe amador, a vantagem é toda cubana. A tensão fica mesmo para fora das quadras e ringues, da pista e do campo.

Em 2010, por exemplo, Cuba recusou-se a participar dos Jogos Centro Americanos e do Caribe, realizados em Mayaguez, em Porto Rico. Os dirigentes pediram garantias de que não haveria facilitação para o assédio de atletas cubanos. Em 2014, Cuba ameaçou não participar do Mundial de Atletismo júnior, em Eugene, em represália pelo fato de os EUA se recusarem a permitir a entrada no pais de Alberto Juantorena, um dos grandes atletas cubanos nos anos 80 e atualmente dirigente do atletismo. A situação foi resolvida.

Em 2005, Cuba foi participar da Série Mundial de Beisebol, realizada na Holanda. Os EUA tentaram impedir dizendo que, como haveria uma premiação em dinheiro, o embargo econômico estaria sendo quebrado. A situação se arrastou e Fidel Castro anunciou que, se vencesse o torneio, Cuba doaria o dinheiro para as vítimas do furacão Katrina. Cuba foi campeão, após eliminar os EUA – uma equipe universitária, sem grandes estrelas, nas quartas de final.

Caso a distensão política, que teve um grande passo com o restabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países evoluir para o fim do bloqueio econômico, Cuba poderá ter uma melhoria em seu esporte.

O esporte também sofre, desde a falta de dinheiro para participação em eventos no exterior até a compra de implementos esportivos. Um exemplo é o beisebol, esporte que é a grande paixão cubana. Em cada edição da Liga cubana, são necessárias 30 mil bolas, que a Ilha compra do Japão, a sete dólares a unidade, quando nos EUA, custariam 4 dólares. O prejuízo é de 90 mil dólares, conforme informação da Agência de Informação Nacional, órgão oficial do governo cubano.

Há dificuldades para a compra de dardos, luvas de boxe e até de colchões usados para o judô. O resultado da falta de intercâmbio leva a indústria esportiva cubana a um atraso tecnológico. O nadador Hanser Garcia, sétimo colocado nos 100 m em Londres-12, não tem um bloco de saída para treinar. Treinadores cubanos são impedidos de participar de foros esportivos realizados nos Estados Unidos.

O fim do boicote poderia trazer um fortalecimento do esporte cubano e, quem sabe, a criação de uma ou outra rivalidade esportiva entre Cuba e EUA. Que ficaria, como deve ser, apenas no campo esportivo. Atletas dos dois países já deram essa lição a seus governantes.