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Além de ministério, partido ligado à Universal ganha secretarias de Esporte

George Hilton (PRB-MG) e seus correligionários ganham espaço na política do esporte - Douglas Gomes/Divulgação
George Hilton (PRB-MG) e seus correligionários ganham espaço na política do esporte Imagem: Douglas Gomes/Divulgação

Vinicius Konchinski e Vinícius Segalla*

Do UOL, no Rio de Janeiro e em São Paulo

31/12/2014 06h00

A escolha do pastor e deputado federal George Hilton (PRB-MG) para o posto de ministro do Esporte surpreendeu –e também desagradou—muitas pessoas ligadas ao mundo esportivo. Sua nomeação, entretanto, não é um fato isolado. O partido de Hilton, o PRB (Partido Republicano Brasileiro), há anos vem ganhando espaço em secretarias da área, principalmente em governos comandados pelo partido da presidente Dilma Rousseff, o PT (Partido dos Trabalhadores).

PRB e PT são aliados desde 2005, quando o Partido Republicano Brasileiro foi registrado. O vice-presidente do governo Lula (2003-2010), José Alencar, era membro do PRB. Já os fundadores do partido também são todos líderes da IURD (Igreja Universal do Reino de Deus).

O PRB foi criado por bispos e pastores da igreja. Hoje, de seus nove deputados federais, sete são pastores da IURD e dois são evangélicos de outras denominações. Um dos criadores da sigla é o senador carioca Marcelo Crivella, sobrinho de Edir Macedo, fundador da Universal.

Crivella foi ministro da Pesca no primeiro mandato de Dilma. Neste período, o Ministério do Esporte sempre foi comandado por membros do PC do B (Partido Comunista do Brasil). Em cidades e Estados governados pelo PT, no entanto, a PRB vem assumindo cargos em pastas esportivas que costumavam ser controladas pelos comunistas.

No Distrito Federal, governado por Agnelo Queiroz (PT), o PRB comanda há quatro anos a Secretaria de Esportes, com o pastor Júlio César Ribeiro. Nas últimas eleições, ele se elegeu deputado distrital. Agora, quem irá assumir a pasta esportiva no DF é a ex-jogadora de vôlei Leia, do PRB.

Em João Pessoa, o secretário municipal de Esportes carrega o nome político de Pastor Edimilson (PRB-PB). Ele está no cargo desde julho, mês em que o presidente estadual da legenda na Paraíba, deputado estadual Jutay Meneses, anunciou apoio à candidatura a senador de Lucélio Cartaxo (PT), irmão do prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PT).

O PRB ocupa ainda secretarias ligadas ao esporte em municípios menores governados pelo PT nos Estados do Maranhão, Goiás, Paraná e Rio Grande do Sul.

De acordo com o presidente da legenda, Marcos Pereira, não é uma coincidência o fato de o PRB estar assumindo pastas esportivas país afora. A opção por segmentar a atuação do partido se deve a uma estratégia do líder republicano, responsável pelas articulações.

“A ideia é fazer uma gestão integrada capaz de articular as políticas públicas do esporte em grandes projetos. Além de mostrar a capacidade administrativa do PRB, queremos deixar uma importante marca tanto no esporte de base como no profissional. O Brasil será sede das Olimpíadas em 2016 e é essencial que todos estejam integrados”, explica Pereira.   

Novas nomeações

Na última segunda-feira, o governador eleito do Ceará, Camilo Santana (PT), anunciou quem será seu secretário dos Esportes: o deputado estadual eleito David Durand (PRB-CE), pastor licenciado da Igreja Universal. Ele irá substituir o secretário Gilvan Paiva (PC do B-CE).

Na terça, deputado estadual Carlos Henrique (PRB-MG) foi anunciado pelo governador Fernando Pimentel (PT) como secretário de Esportes de Minas Gerais.

Já em São Paulo, o governador reeleito, Geraldo Alckmin (PSDB), anunciou no último dia 26 o nome de seu novo secretário estadual dos Esportes: Jean Madeira, vereador paulistano pelo PRB e pastor da Igreja Universal do Reino de Deus.  Vale ressaltar que Alckmin e seu partido fazem oposição à Dilma e ao PT.

Críticas de ex-atletas e apoio da CBF

Também na segunda-feira, a organização não governamental Atletas Pelo Brasil divulgou condenou a nomeação de George Hilton como ministro do Esporte em comunicado oficial. Em carta aberta, os atletas se dizem "envergonhados" e apontam falta de critério para a escolha do cargo.

“Exigimos muito mais respeito e cuidado com tudo que envolve o tema Esporte no Brasil. O que está muito longe de acontecer quando constatamos os critérios, ou a falta deles, que foram usados para a escolha do novo ministro”, escreveram. “A nomeação com critério unicamente político, na maior parte das vezes, traz consigo o aumento da ineficiência de gestão, descontinuidade da política, reinício de convencimentos e processos e tudo isso com custo aos cofres públicos.”

Já o presidente eleito da CBF, Marco Polo Del Nero, declarou apoio a Hilton. "Ao contrário do que pensam alguns atletas, confiamos plenamente na indicação do futuro ministro dos Esportes, senhor George Hilton", disse ele. "Devemos aguardar suas ações para após criticar ou não".

O presidente do PRB, Marcos Pereira, também defendeu a escolha de seu correligionário para o Ministério do Esporte. Declarou também em comunicado que o deputado federal está “está debruçado sobre os temas concernentes ao Ministério do Esporte durante esses dias que antecedem sua posse”.

Ressaltou ainda que o partido espera fazer no Ministério do Esporte uma “gestão comprometida e eficiente”, assim como fez com Crivella no Ministério da Pesca. “A produção de pescado dobrou e o Plano Safra da Pesca e Aquicultura com R$ 4 bilhões investimentos foi lançado no período em que gerimos a pasta”, complementou Pereira.

*Atualizada às 10h