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George Hilton exclui igreja de ministério e vacila ao falar sobre esportes

Daniel Brito

Do UOL, em Brasília

19/01/2015 16h00

O novo ministro do Esporte pode não entender profundamente de esporte, mas recorre à política para responder sobre o assunto. De preferência, sem ter que adotar uma posição comprometedora. O comportamento ficou claro na entrevista exclusiva ao UOL Esporte, em uma sala no 7º andar do Bloco A da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, decorada com pôsteres de edições passadas dos Jogos Olímpicos, e confirmou seu discurso de posse.

Seja para questões frugais, opiniões pessoais ou posicionamento político, ele evita o aprofundamento. Ele consegue ser a favor do Campeonato Brasileiro por pontos corridos, ao mesmo tempo que demonstra seu apoio ao mata-mata. Quando perguntado, por exemplo, sobre alguma história do esporte olímpico brasileiro que guardava na memória como torcedor, Hilton não citou um único caso de conquista, recorde ou história de superação. 

Nascido há 43 anos em Alagoinhas, na Bahia, mora em Minas Gerais há 27 anos, se diz torcedor do Cruzeiro e afirma ter ido aos jogos do Cruzeiro durante o Brasileiro de 2014. Diz não ter presenciado o 7 x 1 para a Alemanha no Mineirão, porque preferiu ver de casa. "E olhe que eu moro pertinho do Mineirão. Ainda bem que não fui", justificou. 

Em 40 minutos de entrevista, não citou uma única vez Deus ou Jesus, apesar de ser pastor da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Nem faz planos de contar com membros da IURD em sua equipe. O bispo Edir Macedo, fundador da IURD, não o parabenizou pessoalmente, mas via "interlocutores". "Tem um bom tempo que não nos falamos. Mas me senti lisonjeado com a mensagem dele [Edir Macedo]."

UOL Esporte: Seu nome jamais havia sido tocado por pessoas envolvidas no esporte do Brasil até sua nomeação para ministro do Esporte. O que o qualifica para estar neste cargo?

George Hilton: O esporte no Brasil passa por um momento especial. Temos dois mega eventos e isso só foi possível graças a uma grande aritculação política do governo federal com o Congresso para que a gente pudesse aprovar medidas importantes para realização dos eventos. E este é o forte de George Hilton, a capacidade de uma grande articulação, principalmente num evento que envolve União, Estado e município do Rio de Janeiro.

Quantos projetos de lei sobre esportes o senhor apresentou na Câmara Federal nesses seus dois mandatos como deputado?
Fui líder durante dois anos, todas as propostas que dizem respeito ao esporte passaram pelo colegiado de líderes e teve a digital de George Hilton.

Mas quantos saíram de seu gabinete?
Nenhum projeto. Mas todas as propostas têm de passar por um colegiado e nós discutimos e aprovamos.

Quais, por exemplo?
Todas. Todas. Todas como a alteração da lei Pelé, que inclusive foi alvo de polêmica muito grande. Temos uma lei de responsabilidade fiscal que está tramitando e todas elas sempre teve participação do George Hilton e do meu partido, que tem ex-atletas, como o Popó [boxeador, Acelino Popó Freitas].

Quando surgiu o interesse em assumir o Ministério do Esporte?
Eu fui convidado pela presidente Dilma para fazer uma grande articulação política e dialogar com os segmentos tanto do alto rendimento e, mais do que isso, elaborar um plano nacional para disseminar a prática esportiva no Brasil. E aceitei com muito prazer e entusiasmo e estarei cumprindo com este objetivo.

O senhor disse que não é um profundo conhecedor do esporte. Isso é motivo de preocupação para os esportistas?
A gestão pública requer vivência na área politica e nós queremos que o esporte no Brasil seja fundamentado na gestão pública, que dê toda estrutura necessária e que é inerente ao poder público.

O que o senhor acha que precisa para ser considerado um “profundo conhecedor do esporte”?
A interlocução do ministro passa, sobretudo, pela capacidade de ouvir os segmentos profissionais e, mais do que isso, passa pela capacidade de dialogar com estados e municípios. Porque uma politica nacional não consegue ser bem executada se não houver o empenho de estados, municípios e outras entidades como universidades, escolas públicas, já que nosso objetivo é fortalecer o esporte educativo, as vilas militares. Existe, portanto, a necessidade de trazer vários atores para implementar isso.

O que mudou naquele George Hilton de 2005, quando foi flagrado com R$ 600 mil em dinheiro e foi expulso do PFL para o George Hilton que assume o Ministério do Esporte?
O George Hilton em 2005 estava em pleno recesso parlamentar, pastor evangélico, de forma voluntária, atendendo ao serviço da igreja, de entrega de doações, e que foi abordado, mas estava documentado e, portanto, foi liberado e sem que isso gerasse nenhum processo. Portanto, um homem religioso, que estava a serviço da sua fé e que isto em nada afeta o cidadão público e o deputado que continua aí durante o trabalho de excelência. O George Hilton de 2005 e o de agora continua sendo um servidor do país. Uma vida ilibada, sem nenhum processo, sem nada, e continua sendo um entusiasta de uma política que seja para o bem da sociedade brasileira.

Mas o senhor foi expulso do PFL por causa disso...
Eu continuo na vida pública, o PFL onde está?

O senhor esteve no PFL, pelo PP e pelo PRB e hoje o senhor é um ministro de um governo do PT. George Hilton que mudou ou as siglas partidárias não fazem diferença?
O partido político é um fórum de discussão politica. Cada partido tem uma contribuição para dar. Fui muito bem tratado nos partidos onde estive, me orgulho muito dos partidos onde estive, tive oportunidade de expressar concordâncias e discordâncias e isso faz parte do processo democrático. Onde você está, onde você tem voz, mas sobretudo é respeitado como cidadão e como político.

A Igreja Universal do Reino de Deus participará de sua gestão no Ministério?
Igreja Universal nunca participou do meu trabalho como deputado. A igreja é local onde exerço minha crença e a minha fé. Igreja funciona como um local onde eu posso praticar a minha religiosidade. O trabalho parlamentar sempre focou a defesa ao cidadão, independentemente do seu credo.

Mas a IURD não pode participar de alguma maneira no esporte?
Igreja tem uma função que extrapola o esporte, trabalha em todas as áreas e o ministro reconhece esses valores, porém a política que será praticada aqui será a política da presidenta Dilma Rousseff.

E a igreja não pode participar?
A igreja tem que dar a contribuição dela no campo dela, lá, dentro do templo. Aqui, é o ministro George Hilton que tem, sobretudo, foco em programa de governo que precisa disseminar o esporte não só da igreja, mas de outras instituições, que podem ser parceiras.

O que o senhor detectou no Ministério do Esporte que precisa de uma ação imediata?
Vamos fazer um trabalho de continuidade, trabalho iniciou-se muito bem. nunca houve tanto alocação de recursos do Orçamento Geral da União, da lei Piva, da lei de incentivo ao esporte, não há porque não continuar e avançar. minha gestão terá duas marcas: vai avançar nos bons resultados que tem e vai implementar uma marca voltada para a massificação da prática esportiva em todo país. Queremos que o país, que é cinco vezes campeão no futebol, que tem know how na preparação de uma Olimpíada e Paraolimpíada, queremos que chegue aos rincões mais distantes deste país.

Se é uma gestão de continuidade, quem deve ser cobrado caso haja atraso nas obras para os Jogos do Rio-2016?
Não haverá atrasos, elas [as obras] seguirão o cronograma, teremos um evento que vai ficar vai ficar para historia como as maiores olimpíadas.

Mas o velódromo está com as obras atrasadas.
O prefeito [Eduardo Paes, do Rio], em conversa comigo, disse que está cuidando de maneira muito plena e existe atraso nas obras. Mas estou confiante que a ação hoje do ministério de mandar os recursos, e o trabalho que o município está desenvolvendo, o prefeito conduzirá isso com maestria.

O orçamento dos Jogos ainda não está fechado também.
Estaremos na próxima semana visitando a APO, que vai fazer um relatório bem sucinto das ações, visitar as obras da Barra da Tijuca, do Complexo de Deodoro, e temos a convicção de que essas obras serão concluídas no seu tempo. Será uma Olimpíada de sucesso, ficará para a história como a melhor de todos os tempos.

As obras do laboratório de controle de dopagem também estão atrasadas. Dá para cravar uma data para inauguração?
Não dá para cravar uma data, mas as obras estão a pleno vapor e o laboratório será inaugurado no tempo certo, contemplando o cronograma do projeto.

Qual é a responsabilidade do Ministério do Esporte nos Jogos-2016?
Ministério do Esporte é o protagonista das Olimpíadas do 2016, os outros ministérios são auxiliares, como Defesa, Justiça, Itamaraty, cada um desses ministérios, dentro das questões pontuais, serão auxiliares no processo. Mas o protagonismo neste evento, a organização, é do Ministério do Esporte. Casa Civil tem o papel de integrar o trabalho dos ministros. Quando o assunto envolve ação integrada, a Casa Civil tem que funcionar como a interlocutora das ações.

Vamos falar de esporte agora: Messi, Cristiano Ronaldo ou Neuer? Quem foi melhor em 2014?
É difícil, é difícil. A gente evita dar posições, mas por ser sul-americano, eu votaria no Messi. Eu acho que o Messi, me permita falar como parlamentar do Mercosul, honra e faz com que a gente demonstre que ainda somos (sic) um celeiro de grandes craques.

Qual foi o momento olímpico mais marcante do esporte brasileiro? Eu digo uma conquista de um atleta, uma história, um jogo. O que mais o marcou?
O parlamento nos permite que tenhamos contato com as entidades. Eu, como um dos parlamentares, participei ativamente do processo politico, e eu, como sempre fui da base do governo, me senti participante de todas essas conquistas, não só das Olimpíadas, como a da Copa do Mundo, e tenho certeza que o Brasil ainda será palco de outros grandes eventos. Por méritos dos nossos atleta, das entidades que gerenciam esses eventos, mas, sobretudo, com uma grande articulação da política.

O senhor é a favor do Campeonato Brasileiro de pontos corridos ou mata-mata?
Eu diria que a gente tem saudade de como era, mas também tem virtudes do atual. Acho que os dois condensam, de alguma forma, porque quando era aquele sistema [mata-mata], você tinha a ideia de que um time começava tão bem, mas não chegava lá no final. Mas esse a gente já acha que antecipa o espetáculo do final. Eu diria que os dois tem pontos positivos e negativos.

Mas o senhor tem que dar uma posição...
(Risos) Eu prefiro não opinar. (Risos)