Topo

Vida de brasileiro na NFL tem até omelete gourmet e férias de quatro meses

Cairo está de férias no DF, mas retoma os treinamentos por conta própria em fevereiro - Daniel Brito/UOL
Cairo está de férias no DF, mas retoma os treinamentos por conta própria em fevereiro Imagem: Daniel Brito/UOL

Daniel Brito

Do UOL, de Brasília

28/01/2015 06h01

Entre os 26 mil torcedores que estavam no estádio Mané Garrincha para assistir ao primeiro jogo do Flamengo neste ano, contra o Shakhtar Donetsk, em Brasília, há 10 dias, estava um flamenguista que é jogador profissional de futebol, conhecido por um público muito restrito aqui, mas que já tem um relativo destaque nos Estados Unidos.

Cairo dos Santos, 23, paulista de Limeira, de família radicada no Distrito Federal, torceu pelo seu Flamengo para aproveitar os poucos dias de folga que tem desde que sua equipe entrou de férias. Mas o futebol dele é outro. Ele é kicker (chutador) do Kansas City Chiefs, da NFL. Está na história como o primeiro brasileiro a disputar a famosa liga.

Terminou a temporada de estreia com 83.3% de aproveitamento nos field goals (chutes que valem três pontos), o 20º mais eficiente entre 31 chutadores na liga. Sua equipe não avançou aos playoffs, e, por este motivo, ele está de férias desde dezembro. Só precisa se reapresentar em abril em Kansas City, um descanso que havia muito não desfrutava.

“Quando saímos de férias, a comissão técnica me pediu um plano de treinamento para este período e me pediram para passar um mês, pelo menos sem chutar, para evitar lesões e dar uma soltada na musculatura”, contou Cairo. Essa orientação, que parece absurda para um jogador de futebol que se joga no Brasil, foi apenas um dos pontos que deixaram o paulista surpreso em sua temporada de calouro na poderosa NFL.

“Lá eles são profissionais em absolutamente em tudo”, relata o kicker. E quando ele diz “tudo”, Cairo quer dizer que as coisas são levadas a sério desde o tempo de descanso até o omelete que é servido todas as manhãs aos jogadores.

O Kansas City Chiefs tem em seu CT um restaurante do mais alto nível à disposição dos jogadores desde as primeiras horas da manhã até o final da tarde, após os treinamentos. O que deixou Cairo fascinado foi a diversidade na preparação dos pratos.

“Tem picanha, tem aquele tradicional barbecue americano [churrasco], frango grelhado, sushi, salmão. Eu gosto de tudo, mas o omelete no café da manhã é espetacular”, conta Cairo. “Tem um chef só para fazer omeletes para os atletas. Você escolhe os ovos do jeito que quiser. Minha receita predileta vai com espinafre, tomate, peito de peru, presunto, cebola grelhada.”

"Marmitinha"

Os jogadores almoçam, sempre às 12h, no restaurante do Chiefs, e, às 16h já está escuro em Kansas City no inverno, o jantar acaba sendo mais por volta deste horário. “Eu ainda levo uma marmitinha para casa, porque a comida é muito boa”, elogia, cuja mãe é dona de um restaurante no centro de Brasília.

Os métodos de treinamento físico, com maior liberdade para decidir os exercícios mais eficientes para sua função como kicker, também surpreenderam o brasileiro. “Na faculdade, a gente fazia os mesmos treinos dos grandões do time, com uma carga diferente, obviamente”.

Outra diferença para os tempos de universidade - ele atuou em Tulane, do Estado de Louisiana -, são os bancos de reservas dos estádios da NFL. Nas gigantescas arenas da liga profissional, os bancos têm aquecedor, o que é fundamental para quem, como Cairo, participa de um ou dois lances em um jogo de até três horas de duração - às vezes, nem sequer em entra em campo. “Para mim é importante, porque faz frio em Kansas City, já joguei com -8ºC, foi difícil, mas o banco aquecido ajudou bastante”, relembra.

E a estrutura para recuperação pós-jogo e treino também foi motivo de um certo espanto. “A gente fica revezando em piscinas de gelo e piscinas aquecidas. E como isso ajuda na recuperação dos músculos aós exercícios intensos. Dois minutos em cada uma delas parecem tempos bem diferentes. No gelo, parece que o relógio congela e não anda. Na aquecida, o tempo voa”, conta, brincando.

Apesar da liberdade dada pela comissão técnica, Cairo vai interromper as férias agora em fevereiro. Ele viajará para Tulane para aprimorar o chute, vai treinar por conta própria nas instalações da universidade onde se formou até a data da reapresentação em Kansas City. “Minha meta é ficar com média superior a 85% de aproveitamento no field goal”, planeja. Para se ter uma ideia, Steven Hauschka, kicker do Seattle Seahwaks, que disputará o SuperBowl neste domingo, 1º, contra o New England Patriots, teve 83.8% na temporada regular, quase idêntica à do brasileiro em sua estreia.