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E se você descobrisse que o ídolo do seu time é seu pai? Aconteceu com ele

Alexandre Dumoulin, da seleção francesa de rúgbi, descobriu que é filho de ex-capitão - FRANCK FIFE / AFP
Alexandre Dumoulin, da seleção francesa de rúgbi, descobriu que é filho de ex-capitão Imagem: FRANCK FIFE / AFP

Do UOL, em São Paulo

13/02/2015 00h00

O jovem Alexandre Dumoulin nasceu em Bourgoin-Jalileu, uma pequena cidade que abriga ruas com aparência medieval, prédios muito baixos e um clube de rúgbi orgulhoso de ter revelado vários jogadores para a seleção francesa.

Ele sempre gostou do esporte e sempre gostou especialmente do veterano Marc Cécillon, o principal jogador do time de Bourgoin-Jalileu. Marc Cécillon era forte, rápido e um ótimo carregador de bola. Seu talento o levaria a ser capitão da seleção francesa.

Além de bom jogador, era conhecido pela cordialidade com que tratava seus adversários e pela tranquilidade que exibia nos momentos mais tensos de uma partida.

No mundo do rúgbi francês, Marc Cécillon tinha um apelido que definia sua personalidade: “O Homem Calmo”.

Uma parte da arquibancada do estádio da cidade foi batizada em sua homenagem. Ele virou uma celebridade local e, em certa medida, nacional.

Alexander Dumoulin cresceu vendo os jogos de Cécillon. Vestiu a mesma camiseta azul-grená do Bourgoin e seguiu os passos do ídolo, chegando à seleção francesa em novembro do ano passado.

No fim de janeiro, Alex, que foi criado pela mãe e pelo padrasto, pediu a seu empresário que revelasse à imprensa um segredo que ele vinha guardando há alguns anos.

Cécillon, seu ídolo de infância, é seu pai biológico.

Marc Cécillon e Alexandre Dumoulin, jogadores de rúgby, descobriram que são pai e filho - ERIC FEFERBERG PHILIPPE DESMAZES / AFP - ERIC FEFERBERG PHILIPPE DESMAZES / AFP
Imagem: ERIC FEFERBERG PHILIPPE DESMAZES / AFP

“Alex tem atraído a atenção da mídia ultimamente e resolveu tornar pública essa situação, o que provavelmente aconteceria mais cedo ou mais tarde”, afirmou Jeremy Bouhy, seu agente e amigo a veículos da imprensa francesa.

O jogador já conhecia desde 2006 a identidade de seu pai, mas nunca quis entrar em contato com ele. Eles nunca se falaram, pessoalmente ou por telefone. Bouhy disse que Alex não quer que as pessoas pensem que ele teve uma infância ruim, longe do pai.

Seu padrasto, Montméat Xavier, também ex-jogador de rúgbi, e sua mãe Caroline Dumoulin, que teve um caso com Cécillon enquanto ele era casado, deram tudo que uma criança poderia querer. Caroline disse que nunca pediu para Cécillon assumir o filho. “Eu respeitei sua escolha de vida”, afirmou ela em 2006.

Som e fúria

Mas existe uma coisa que é preciso saber sobre Marc Cécillon. Em 2004, um ano depois de ter encerrado a carreira, durante um acesso de fúria e alcoolismo, ele deu quatro tiros em sua mulher depois de uma festa nos arredores de Bourgoin.

Mais de 60 pessoas viram Chantal morrendo. De uma hora para outra, o ex-capitão da seleção francesa, conhecido no país inteiro como “O Homem Calmo” se transformava em um passional assassino.

Ele foi preso na hora. No dia seguinte, disse não se lembrar de nada. Argumentou que amava a esposa e jamais atiraria nela (mais tarde, acabaria assumindo o crime).

Dois anos depois, foi a julgamento. A mãe de Alex (17 anos na época) foi chamada a testemunhar. Só aí, como se um caminhão de aço fosse jogado sobre ele, o garoto descobriu que seu pai era o homem para quem ele tinha torcido a vida inteira e que agora tinha matado a própria esposa.

Marc Cecillon, capitão da seleção francesa de rúgbi, em partida contra a Nova Zelândia em 1990 - EFE - EFE
Marc Cecillon, capitão da seleção francesa de rúgbi, em partida contra a Nova Zelândia em 1990
Imagem: EFE

Aos 25 anos, no auge da carreira, ele ainda não comentou publicamente a história. O técnico da seleção francesa pediu para que as pessoas respeitem sua privacidade.

Marc Cécillon tampouco falou sobre o filho. Condenado pelo assassinato da esposa, ele pegou 20 anos de prisão. Está em condicional desde 2011.

“Eles nunca se viram, mas isso não quer dizer que nunca vão se ver”, disse o empresário Jeremy Bouhy