Topo

Garotinho emociona para ser paratleta. Só não pode saber a vida do ídolo

Karla Torralba

Do UOL, em São Paulo

25/02/2015 06h00

"Mãe, quando vou conhecer o Oscar"? A pergunta se repete todos os meses desde o verão europeu de 2012 e é de Rio Woolf, um garoto de 6 anos, que vê no paratleta Oscar Pistorius o seu maior ídolo. 

Jogos Paraolímpicos de Londres, dia 8 de setembro de 2012. Naquele dia, Oscar Pistorius reforçava ainda mais seu nome na história ao ganhar o ouro nos 400 metros T44. O triunfo foi especial não só para ele, mas também para o menino Rio, que assistia à prova no Estádio Olímpico. "Uma noite mágica para Rio e que mudou a vida dele para sempre", relembra a mãe Juliette.

Na época com quatro anos, Rio assistiu às provas paraolímpicas pela TV com muito entusiasmo. Tal entusiasmo fez com que a família do garoto levasse Rio à prova de Pistorius, que mudou sua vida. A imagem de uma pessoa correndo com próteses rumo ao estrelato nunca mais saiu da cabeça. A partir dali ele decidiu que queria ser igual ao sul-africano. 

Rio nasceu com aplasia da tíbia da perna direita, ausência do osso que liga o joelho ao tornozelo, e precisou passar por uma amputação quando tinha apenas 14 meses, o que deixou seus pais, Juliette e Trevor Woolf, extremamente preocupados com o futuro do filho. Mal sabiam que o exemplo de superação do garoto seria causa de emoção na Inglaterra e sensibilizaria várias pessoas ao redor do mundo.

O pequeno bebê ainda era muito novo para entender o tanto que tinha enfrentado e vencido em sua curta vida, mas já havia se tornado inspiração para os pais.  Aos dois anos deu os primeiros passos e com sua primeira prótese, os esportes começavam a entrar como uma das maiores paixões do menino.

Primeiro a natação, com apenas três meses; depois o futebol e o atletismo. Rio se tornou grande amante das mais diversas modalidades, torcedor do Arsenal e um aspirante a atleta. “Rio ama nadar e tem aulas uma vez por semana. Ele quer ficar na piscina ou no mar todo o dia. Depois de dar os primeiros passos, exatamente no aniversário de sua amputação, começamos a leva-lo para uma escolinha de futebol com outras crianças pequenas e ele adorava chutar a bola. Ele se tornou um fanático por futebol”, contou Juliette Woolf em entrevista ao UOL Esporte.

Apesar de estar sempre em atividade, com um sorriso no rosto e conversando com todos, Rio não escapou de sofrer preconceito. “Infelizmente pessoas olhavam para sua prótese e faziam comentários que o entristeciam. Adultos ignorantes perguntavam para ele o que tinha acontecido com a perna dele. No verão de 2012, quando ele saiu de shorts, as pessoas realmente olhavam muito para a perna dele, mas tudo mudou com os Jogos Paraolímpicos daquele ano”, relembrou a mãe do menino.

O menino que estava triste por não conseguir correr tão rápido quanto as outras crianças, que tinha desistido de jogar futebol e que, mesmo sem entender bem, sofria diferentes tipos de preconceito, acabou se tornando a explicação do que é legado olímpico.

“Graças aos Jogos de Londres-2012, a percepção do público sobre deficiência mudou com os amputados e mais pessoas da sociedade aceitam Rio. Estamos muito orgulhosos dele e agora as pessoas olham para ele e sorriem com admiração”, ressaltou Juliette.

“Rio nos contou que queria ser atleta paraolímpico quando viu Oscar Pistorius. Percebemos que o esporte poderia ajuda-lo a realizar os seus sonhos. Depois dele ver ‘as pessoas com as pernas especiais para correr’, ele ficou muito motivado e queria fazer esportes de novo”, relembrou a mãe.

A partir de então a vida de Rio mudou. A história do garoto ganhou a imprensa inglesa e ele ganhou próteses especiais para corrida no Natal de 2012. Desde então participa de competições e, assim como as Paraolimpíadas inspiraram o pequeno, ele serve de inspiração para outros.

Rio reúne seguidores em suas páginas no Twitter e no Facebook e recebe diversas mensagens de fãs, admiradores e pessoas que passam pela mesma situação que os pais do menino passaram quando ele nasceu.

“Nós recebemos muitas mensagens e eu leio todas elas em voz alta para o Rio. Recebemos cartas, mas principalmente através da internet. E as mensagens vêm de toda parte do mundo: Venezuela, Austrália, Brasil. Recebemos muitas mensagens especiais, mas também de pessoas que passam pelo mesmo.  Acho arrogância falar que somos uma inspiração para outras pessoas, mas nos sentimos bem por ajudar outras pessoas a conhecerem mais sobre a situação”, explicou Juliette.

Rio é um apaixonado pelo Brasil

Rio em sua visita ao Brasil em 2013 - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Rio conheceu Alan Fonteles em Londres e o reencontrou no Brasil
Imagem: Arquivo Pessoal

O nome de Rio é inspirado no Rio de Janeiro, cidade em que Juliette e Trevor passaram sua lua de mel. “Viajamos para vários lugares do Brasil e decidimos que se tivéssemos um filho, ele se chamaria Rio, foi o que aconteceu”, contou Juliette.

O Brasil entrou ainda mais na vida da família Woolf também após Londres-2012. Rio se tornou fã de Alan Fonteles, brasileiro que derrotou Pistorius na prova dos 200m T44 nas Paraolimpíadas. Um ano depois da competição na Inglaterra, o pequeno e os pais vieram ao Brasil a convite do Comitê Paraolímpico Brasileiro e conheceu São Paulo e a cidade que deu origem ao seu nome.

“Rio amou o Brasil e quer morar aí. Um dia eu perguntei para ele qual era o seu país favorito e, para a minha surpresa ele respondeu que era o Brasil e que poderíamos pegar um taxi para visita-lo no Rio de Janeiro”, relembrou a mãe.

Rio bateu um papo com o UOL Esporte por telefone. Com muita energia, ele relembrou todos os seus momentos no país. “Sim, eu quero viver no Brasil!”, ressaltou o menino relembrando as coisas que ele mais gostou de conhecer em sua visita: Rio de Janeiro, Maracanã e Alexandre Pato, que até então jogava pelo Corinthians. “Eu também gosto muito do Oscar e do Willian, do Chelsea”, ressaltou o menino.

Menino ainda não sabe tragédia com Oscar Pistorius

Rio Londres-2012 - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Rio Woolf estava no Estádio Olímpico de Londres no último ouro de Pistorius em 2012
Imagem: Arquivo Pessoal

A pessoa que despertou em Rio o sonho de ser paratleta foi Oscar Pistorius e as perguntas de todos os meses sobre quando será possível um encontro com o ídolo vêm com inocência de quem não sabe o que aconteceu com sua inspiração das Paraolimpíadas de Londres. O garoto não sabe que Pistorius foi condenado a cinco anos de prisão por ter matado a namorada Reeva Steenkamp, em 2013.

“Oscar mudou a vida de Rio como um grande modelo para levar o esporte para as massas. Estamos chocados com o que aconteceu. Uma tragédia para todos os envolvidos. Nós protegemos o Rio de saber da ‘queda’ de seu herói. Ele vai descobrir quando tiver idade suficiente para entender”, disse.

“Ele pergunta todos os meses quando vai conhecer Oscar e eu respondo que no momento Pistorius não está treinando ou competindo porque está machucado. Temos que separar a carreira dele da sua vida pessoal. Ainda somos muito agradecidos por tudo o que ele fez pelo movimento paraolímpico”, completou Juliette.