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Arena Multiuso? Mané Garrincha vira garagem para ônibus e sede do governo

São mais de 400 ônibus estacionados no anel externo do estádio diariamente - Daniel Brito/UOL
São mais de 400 ônibus estacionados no anel externo do estádio diariamente Imagem: Daniel Brito/UOL

Daniel Brito

Do UOL, em Brasília

06/03/2015 12h15

Um novo conceito de arena multiuso está sendo criado no Distrito Federal. O próximo grande acontecimento do Estádio Mané Garrincha, com seus 72 mil lugares, encravado no coração da capital federal, não será nenhuma partida de futebol ou show internacional, mas tornar-se sede de três secretarias de Estado. O que se soma ao fato de o local servir como garagem para mais de 400 ônibus diariamente.

O estádio mais caro da Copa do Mundo, com valor estimado em R$ 1,6 bilhão pelo TCDF (Tribunal de Contas do Distrito Federal), jamais teve sua capacidade total atingida em jogos que não fossem da Copa do Mundo. Os clubes locais estão sem condições de mandar suas partidas na arena, porque dificilmente reúnem mais de 5 mil torcedores por apresentação. Por isso, o Mané Garrincha recebeu apenas dois amistosos nos primeiros 65 dias de 2015, e gera um gasto mensal estimado em R$ 600 mil de manutenção aos cofres do GDF (Governo do Distrito Federal).

Assim, o GDF remanejará os servidores das secretarias de Esporte, de Desenvolvimento Econômico e Sustentável, e Desenvolvimento Humano e Social. A estimativa da administração da capital é de que a estrutura é tão grande que é possível acomodar 400 funcionários nas salas do estádio.

Esta é mais uma decisão pautada pela situação financeira do Distrito Federal. Desde que Rodrigo Rollemberg (PSB) recebeu o cargo de Agnelo Queiroz (PT), ele anunciou que recebeu o DF com apenas R$ 64 mil em caixa. Assim, anunciou corte de pessoal, cancelou o desfile das escolas de samba, adiou o início do ano letivo escolar, decretou estado de emergência na saúde pública, negociou parcelamento do pagamento dos salários referentes a 2014 de servidores e prestadores de serviços, cancelou a realização da Fórmula Indy e da Universíade, que seria no DF em 2017.

A transferência das secretarias, estima o GDF, gerará uma economia de R$ 10 milhões por ano em aluguel de salas na cidade.

Terminal de ônibus
Os servidores terão de vencer um labirinto de ônibus que se forma ao redor do estádio quando chegarem para trabalhar. Todos os dias, no horário comercial, cerca de 400 veículos formam o que parece ser uma barreira gigantesca. Eles fazem parte da frota da cidade, que atende a população diariamente.

O Mané Garrincha está situado a três quilômetros da Rodoviária do Plano Piloto, o principal terminal rodoviário do Distrito Federal. Por motivo de economia, as empresas de viação pública da capital têm permissão de deixar os ônibus estacionados no anel externo do estádio até que volte a circular, geralmente no horário de pico. Se tivesse que voltar para a garagem, o GDF teria de pagar quase R$ 5 por quilômetro rodado para cada coletivo.

A área que circunda o estádio, onde os ônibus estacionam, já recebeu shows de duplas sertanejas, grupos pagode e música eletrônica. Todos eles entraram na conta do governo Agnelo como justificativa pela construção da arena daquele porte.

Por enquanto, jogos de futebol foi o que o Mané Garrincha menos ofereceu ao cidadão do DF. Segundo levantamento do jornal Correio Braziliense, isso faz com que Brasília seja a sede da Copa-2014 que menos partidas recebeu em 2015 no palco do Mundial.

Há a previsão de que as finais do Campeonato Candango sejam realizadas no Mané Garrincha, em abril, assim como a abertura da Série A do Campeonato Brasileiro, no duelo entre Cruzeiro e Corinthians, em maio.