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Abilio Diniz critica salários atrasados e postura de Aidar: "Não existe!"

Do UOL, em São Paulo

13/03/2015 12h00

O torcedor do São Paulo tem razões de sobra para estar preocupado com o atual momento do time. Abilio Diniz não é exceção. O bilionário brasileiro, presidente do conselho de administração da empresa BRF e ex-mandatário do Grupo Pão de Açúcar, vive uma fase de aflições sobre o time do coração. Um dos principais motivos para isso é Carlos Miguel Aidar, que desde 2014 é presidente da equipe tricolor.

Abilio deixou clara essa preocupação em bate-papo com o jornalista Paulo Vinicius Coelho. O encontro entre os dois blogueiros do UOL Esporte foi realizado nesta semana, e o empresário foi incisivo nas críticas ao mandatário do São Paulo.

Veja abaixo o trecho da conversa em que Abilio e PVC abordaram a gestão do São Paulo:

Paulo Vinicius Coelho: Para te deixar nervoso, vamos falar sobre política do São Paulo.

Abilio Diniz: Eu não fico nervoso.

PVC: Você acha que o Aidar se equivocou na ruptura com a gestão passada?

AD: Nem é tanto assim, PVC. É o seguinte: tem uma coisa que a gente diz em direito, que é analisar o mérito ou as preliminares. Não vou nem entrar no mérito porque não é preciso. Na preliminar: o presidente, quando você vai presidir alguma coisa importante, tem que assumir e se conscientizar de que você está no topo, que você está em cima. Você não tem para quem se queixar, não tem que pedir para ninguém te ajudar… Você tem que estar lá. Se você está na presidência, você tem que exercer a presidência. Qualquer coisa que aconteça de ruim ou de bom debaixo de você onde você está presidindo é responsabilidade sua, e você tem que tratar aquilo lá dentro daquela instituição que você está presidindo. Você tem que saber agir politicamente, você tem que conciliar, você não pode brigar e você não pode reclamar na mídia. Você não pode botar para fora! Você já imaginou eu, como presidente de algumas empresas e de alguns lugares, eu começar a botar na mídia “pô, o fulano não está muito legal e coisa e tal…”? Não existe! Isso não existe! Você tem responsabilidades, ou então sai de lá. E a responsabilidade é manter aquilo perfeitamente em ordem, você fazer com que exista harmonia, com que as pessoas se entendam. Aconteceu tudo ao contrário no São Paulo! Então eu não vou entrar no mérito se a namorada tinha o contrato não sei o quê ou coisa e tal, se ele atacou o Juvenal Juvêncio e não tinha de atacar… Não precisa! Isso é o mérito. Um presidente tem de resolver os problemas dentro da sua casa, lá dentro mesmo, e saber resolver. Esse é meu ponto. Não vou entrar no mérito. Acho que tem coisas, se for entrar, tem coisas que a gente está vendo pela mídia… Pô, o São Paulo nunca ficou atrasando salário de atletas. Escuta, isso é inédito. É uma coisa nova. “Ah, mas é só direito de imagem”. Espera um pouquinho. Escuta: direito de imagem é uma maneira de você repartir, de você separar as coisas lá. Não pode! O São Paulo nunca fez isso. Agora, você olha para isso, e eu estou falando aqui sem insider, do lado de fora, pelo que vocês escrevem e pelo que a mídia coloca. Os salários estáo atrasados, e aí eu vou ver o jogo e vejo o seguinte: descobri que está escrito na camisa dos atletas “sócio-torcedor”. Tudo bem. Agora, vai na camisa do Palmeiras. Quanto é que o Palmeiras está arrecadando na camisa? “Ah, mas é o Palmeiras”. Pois o que é isso. É o Palmeiras, como é o São Paulo.

PVC: A Crefisa [patrocinadora máster do Palmeiras] tinha um contrato engatilhado com o São Paulo, mas mudou porque o presidente da Crefisa é palmeirense e quis conversar com o Paulo Nobre, mas, enfim...

AD: Isso, pra mim, é detalhe. Isso também é detalhe! Tem de ter competência. Tem de ter competência! Está lá, assumiu, tem de olhar as finanças. Escuta: não adianta olhar, chegar e dizer “quando eu cheguei no São Paulo, aquilo estava tudo esculhambado, com uma situação financeira muito ruim”. Isso não existe! Eu sou chairman da BRF, sou presidente do conselho. Eu boto lá um presidente, e o cara entra e diz: “Pô, mas o cara que estava aqui antes de mim esculhambou com as finanças todas”. Quer dizer…

PVC: Isso não existe.

AD: Não existe, pô! Isso não existe. No caso do seu Aidar, não precisa entrar no mérito. Eu estou preocupado agora com essa história da situação financeira. E outras coisas que aparecem na mídia, também. Não tenho informações de insider, não tenho informações de lá de dentro. Conheço muita gente lá e continuo me relacionando muito bem com muitas pessoas, mas não tenho informação de dentro. Agora, tem certas coisas… Como é que foi contratado o Centurión? “Não, mas teve um torcedor que comprou o Centurión, que pagou não sei quanto, 20 e tantos milhões de reais, e aí deu de presente para o São Paulo”. Esse tipo de coisa tem de ser explicada. Não dá mais para você conviver com coisas desse tipo. Por outro lado, não paga salário de jogador. Então, esse tipo de coisa tem que encontrar uma solução.  Agora, meu problema com ele é só isso: ele tem que exercer a presidência como um presidente deve ser. O São Paulo merece ter um grande presidente. O Juvenal, no final dos seus últimos mandatos, até por alguns problemas de saúde e coisa e tal… O Juvenal, ele se afastou um pouquinho do dia a dia do São Paulo. Mas ele foi, durante a maior parte do tempo, ele foi um grande presidente. Um grande presidente. Um cara que gostava de contratar jogador muito barato, que tinha um olho muito bom. Ele com o Milton Cruz. O Milton ia lá, olhava, cochichava na orelha dele. Ele fez um bom trabalho. Tanto que nós tivemos três anos espetaculares no São Paulo, fomos tricampeões brasileiros em seguida, 2006, 2007 e 2008, com o Muricy. Foram três anos espetaculares conduzidos pelo Juvenal, que fez um grande trabalho. O que precisa hoje, no caso do São Paulo: acho que tem que ter, e aí entra em outro tema: a maneira como se elegem os dirigentes hoje é uma maneira… o negócio tem de ser mais democrático: voto direto, entendeu? Nós vamos lá, vamos votar, vamos botar a chapa aqui, cada um fazendo… a mídia coloca exatamente o que o cara pensa, vai lá o cara e vota diretamente. Acho que o Palmeiras está com voto direto.

PVC: Tem voto direto dos sócios, mas não do sócio-torcedor.

AD: Eu fiquei decepcionado com a última eleição que o Paulo Nobre ganhou. Não por ele ter ganho – eu não conheço, mas por tudo que eu ouço dele, que é um sujeito correto –, mas eu fiquei decepcionado com a quantidade de sócios que votaram. Foram 2.400, um negócio qualquer assim. Isso para mim é uma decepção.

PVC: Havia 10 mil com direito a voto, e votaram 2400 ou 2300.

AD: Pois é. Isso para mim é uma decepção. Eu sou por democracia. E sou por… quem tem que tomar certas responsabilidades são os donos. Quem é o dono do São Paulo, quem é o dono do Palmeiras? São os sócios, pô! A quem pertence o clube? Pertence aos sócios. Chama essa gente para votar. “Vamos lá votar”. Fiquei decepcionado no caso do Palmeiras. Mas a maneira como são feitas as chapas hoje… o São Paulo tem 240… o São Paulo é dirigido por um conselho consultivo que tem 240 conselheiros. Sei lá: acho que metade ou mais da metade são vitalícios, com idade extremamente avançada, e às vezes nem aparecem. Como você vai dirigir com um conselho deliberativo de 240 pessoas? Duzentas e quarenta pessoas são uma assembleia, e assembleia você precisa organizar, saber como é que faz, organizar ordem de voto. Não dá para gerenciar desse jeito. São mudanças que precisam acontecer no futebol brasileiro para nós chegarmos realmente num ponto em que clube de futebol seja um negócio e um negócio rentável. Outra coisa também que é importante, e eu sei que passa pela ideia do Aidar fazer isso, mas ele não dá transparência para o que ele está fazendo: pensar em separar o clube social do clube de futebol. Isso é uma coisa que dá para ser feita, pensada, repensada, analisada. É uma ideia que ele colocou na rua, mas não dá transparência. Agora, ele fazer e depois comunicar, aí não.