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RJ troca legado da Rio-2016 por investimento com cabo eleitoral Léo Moura

Léo Moura faz campanha para Pezão. Depois, vira prestador de serviço do governo - Reprodução
Léo Moura faz campanha para Pezão. Depois, vira prestador de serviço do governo Imagem: Reprodução

Vinicius Konchinski

Do UOL, no Rio de Janeiro

20/03/2015 06h00

O começo de 2015 foi de crise para o esporte do Rio de Janeiro. Por falta de dinheiro, o governo do Estado suspendeu um projeto tido como o maior legado da Olimpíada de 2016 e deixou 300 mil moradores de comunidades carentes sem aulas de futebol, natação, atletismo e outras modalidades.

Essa crise, entretanto, não prejudicou os projetos de um carismático atleta carioca: Léo Moura. Enquanto a Seelje (Secretaria Estadual de Esporte, Lazer e Juventude) cortava gastos com projetos sociais relacionados com a Olimpíada, negociava com uma empresa do ex-lateral do Flamengo um contrato milionário para abertura e manutenção de duas escolinhas esportivas: a Escolinha de Futebol e Cidadania Léo Moura e a Escola de Artes Marciais Anderson Silva.

Léo Moura fechou para sua companhia um acordo de 12 meses com o governo. Nesse acordo, ficou combinado que a Costa e Moura Assessoria e Marketing Esportivo Ltda vai receber R$ 1,854 milhão em recursos públicos. Justamente por ser uma propriedade de Léo, a empresa foi contratada sem qualquer tipo de concorrência pública.

“Conforme artigos 24 e 25 da Lei n° 8.666/93, admite-se a contratação direta por meio da dispensa ou da inexigibilidade de licitação”, informou à Seelje sobre a contratação da empresa sem licitação. “A secretaria entende pela necessidade de utilizar a imagem e a popularidade do atleta Léo Moura como exemplo de vida e ascensão social, incentivando as crianças e jovens a se manterem na vida esportiva, contribuindo com a formação humanística e profissional desses jovens.”

Essa popularidade e esse exemplo de Léo Moura também já foram usados em campanhas políticas daqueles que contrataram a empresa do lateral. Quando era capitão do Flamengo, Léo Moura gravou vídeos e pediu votos ao atual secretário de Esporte, Marco Antonio Cabral (filho do ex-governador Sergio Cabral); para o ex-secretário de Esporte, André Lazaroni; e até para o governador Luiz Fernando Pezão. A Seelje, entretanto, nega qualquer relação política com o contrato firmado com a Costa e Moura.

LÉO MOURA FAZ CAMPANHA POR SECRETÁRIO CABRAL

“A secretaria destaca que o fato de Léo Moura ter feito campanha para a eleição de Pezão e de Marco Antonio Cabral não influenciou na escolha da Costa e Moura, já que, o contrato com a pasta existe desde 2013”, informou a Seelje, citando um acordo anterior firmado com a empresa. O órgão não informou detalhes sobre o acordo. Sabe-se, porém, que em 2013 a Secretaria de Esporte era comandada por Lazaroni, político apoiado por Léo Moura.

A relação do lateral com políticos estaduais, aliás, é estreita. No domingo, o próprio Pezão esteve na inauguração de três unidades da Escolinha Léo Moura, as quais são em parte bancadas pelo governo. Cada unidade atende cerca de 250 crianças. Dos três postos visitados por Pezão e Léo, dois ficam em Piraí, cidade natal e berço político do atual governador.

Na mesma semana da inauguração, duas OS (organizações sociais) contratadas pelo governo para levar atividades esportivas a comunidades carentes do Estado convocaram seus funcionários para demiti-los. A Zico 10, projeto de Zico, e a Ascagel (Associação do Conselho Gestor de Esporte e Lazer do Estado do Rio de Janeiro) estão mandando professores e outros colaboradores embora já que não têm recebido os repasses governamentais prometidos.

Ambas integram o projeto Esporte RJ, lançado em 2007 com o nome de projeto Rio 2016. Quando surgiu, o Esporte RJ seria o “maior legado social da Olimpíada”. Por falta de verbas, entretanto, ele já foi paralisado duas vezes: uma em 2013 e outra no início de 2015.

Desde a última suspensão, a Seelje informa que o projeto está em reestruturação e será retomado. Na terça-feira, no mesmo comunicado enviado ao UOL Esporte sobre o contrato assinado com a Costa e Moura, o órgão declarou que o Esporte RJ recomeça em abril.

Léo Moura e sua empresa foram procurados também na terça-feira. Não responderam até a publicação desta reportagem.

Confira abaixo o posicionamento completo da Seelje:

A Secretaria de Estado de Esporte, Lazer e Juventude (Seelje) informa que o projeto Esporte RJ será retomado a partir de abril. A Seelje informa ainda que a Costa e Moura tem contrato com esta secretaria desde 2013. A Seelje tem conhecimento sobre a decisão da OS em relação à dispensa de funcionários _ e, quanto a este tópico, cabe destacar que a própria Seelje teve que dispensar funcionários, devido ao reequilíbrio contratual que atende à readequação orçamentária estabelecida pelo Estado. O investimento mensal no Esporte RJ era de, aproximadamente, 5 milhões de reais.

O objetivo e o motivo da ação envolvendo Costa e Moura é poder atrelar ao jogador Léo Moura, atleta de sucesso, a prática esportiva nas localidades mais carentes. O fato de Léo Moura ter a sua origem em comunidade humilde populariza e estimula o envolvimento das crianças nas práticas esportivas. O atleta é visto como exemplo de vida e ascensão social. Cerca de 250 crianças serão atendidas em cada núcleo das escolinhas de futebol.

Conforme artigos 24 e 25 da Lei n° 8.666/93, admite-se a contratação direta por meio da dispensa ou da inexigibilidade de licitação. A Seelje entende pela necessidade de utilizar a imagem e a popularidade do atleta Léo Moura como exemplo de vida e ascensão social, incentivando as crianças e jovens a se manterem na vida esportiva e de competição atlética, contribuindo, dessa forma, com a formação humanística e profissional desses jovens.

A Seelje destaca que o fato de Léo Moura ter feito campanha para a eleição de Pezão e de Marco Antonio Cabral não influenciou na escolha da Costa e Moura, já que, como citado acima, o contrato com a pasta existe desde 2013. Vale ressaltar que o projeto da Escolinha de Futebol Léo Moura não exclui o projeto Esporte RJ. As OSs, vinculadas ao Esporte RJ, têm recursos oriundos do próprio estado. Já a Escolinha de Futebol Léo Moura tem recursos oriundos da Lei Pelé.