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Pai e filho são brasileiros, mas podem eliminar o polo do país em Kazan

Tony Azevedo nasceu no Brasil, mas enfrentará o país de origem no Mundial de Kazan - Streeter Lecka/Getty Images
Tony Azevedo nasceu no Brasil, mas enfrentará o país de origem no Mundial de Kazan Imagem: Streeter Lecka/Getty Images

Guilherme Costa

Do UOL, em Kazan (Rússia)

02/08/2015 01h30

Ricardo Azevedo, 58, nasceu no Rio de Janeiro e foi jogador da seleção brasileira de polo aquático entre 1973 e 1981. O filho dele, Tony Azevedo, 33, também é carioca. No Mundial de esportes aquáticos de Kazan (Rússia), os dois são personagens relevantes na trajetória verde-amarela na modalidade. Não como protagonistas do time, porém: em 2015, os dois representantes da família Azevedo são rivais do país natal.

A seleção brasileira feminina de polo aquático já padeceu nas mãos de Ricardo. O ex-jogador hoje é técnico da China, que eliminou o time verde-amarelo nas oitavas de final – 10 a 8 no último sábado (01).

Neste domingo (02), Tony será o rival da vez. O brasileiro hoje é capitão da seleção de polo aquático dos Estados Unidos, adversária dos sul-americanos nas oitavas de final. O confronto eliminatório em Kazan terá início às 11h30 (de Brasília).

Brasileiro Ricardo Azevedo já foi técnico dos Estados Unidos e hoje comanda a seleção de polo aquático da China - USA Today - USA Today
Ricardo Azevedo nasceu no Brasil, foi técnico dos Estados Unidos e hoje comanda o polo aquático feminino da China
Imagem: USA Today

“Ele [Tony] me ligou e disse: ‘Por que eles fazem isso com a gente, papai? Por que a gente tem de sempre jogar contra o Brasil? É difícil! Eu prefiro jogar com a Sérvia’. Logicamente, é uma situação complicada”, relatou Ricardo.

Brasil e Estados Unidos já tiveram dois encontros decisivos em 2015. Os norte-americanos levaram a melhor no jogo que determinou o medalhista de ouro dos Jogos Pan-Americanos, mas os sul-americanos triunfaram na disputa do bronze da Liga Mundial.

“Quando o Brasil joga eu estou sempre de olho para saber como foi o resultado. O time tem muitos filhos de amigos meus, de caras que jogaram comigo em seleção. Para mim é sempre difícil, e a mesma coisa é para o meu filho, que também tem muitos amigos na equipe”, disse Ricardo.

O brasileiro que hoje treina a China já havia morado nos Estados Unidos na época da universidade, mas mudou-se para o país depois do nascimento do filho. Foram 30 anos trabalhando com polo aquático em terras norte-americanas, com direito a comandar a seleção local em três Jogos Olímpicos e cinco Mundiais.

Depois disso, Ricardo trabalhou na Itália por cinco anos. Há três temporadas, assumiu a equipe feminina da China, país em que vive atualmente. “Mas sempre como brasileiro, ponderou.

Quase sempre, na verdade. Neste domingo, Ricardo será torcedor dos Estados Unidos. “Acho que nesse ponto eu tenho de preferir o filho, ou senão eu não vou ter chance com a esposa. Mas quero que o Brasil esteja bem”, disse entre risos o treinador.

As cobranças da esposa são um exemplo do que a vida de nômade criou para Ricardo. O treinador da China hoje é cobrado por todos os lados por causa disso: “Meu irmão me liga e diz: ‘Ah, por que você fez isso com o Brasil?’. Aí minha esposa me liga e diz: “Ah, você fez isso com os Estados Unidos!’. Então, dá um pouco de dor de cabeça”.

Tony chegou a cogitar um caminho inverso. O capitão dos Estados Unidos foi um dos nomes abordados por COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) quando as entidades desenvolveram um plano de naturalização de estrangeiros para fortalecer o time nacional de polo.

“Se ele jogasse pelo Brasil, meu pai no céu daria piruetas. Mas a decisão era dele, e ao fim foi algo correto. O time dos Estados Unidos é muito jovem, e eles precisam dele como liderança. Ele achou que não podia deixar o time no último minuto”, contou Ricardo, que também revelou um incômodo do filho com a abordagem recebida: “Oprimeiro pensamento dele quando soube que a Olimpíada seria no Brasil era ir ao país e jogar lá. Isso é verdade. Ele pensou muito, mas não gostou da maneira como foi levado. Ele achou que foi um pouco de desrespeito. Meu filho joga sempre pelo coração”.