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Opinião de cientista sobre emagrecimento faz Coca-Cola ter que se explicar

Leandro Moraes/UOL
Imagem: Leandro Moraes/UOL

Daniel Lisboa

Do UOL, em São Paulo

16/09/2015 12h00

Que tal controlar o peso só com exercícios sem precisar se preocupar tanto com o que você come? Parece uma ótima ideia e, de acordo com uma notícia publicada pelo “The New York Times” no mês passado, já há cientistas defendendo essa tese. A polêmica começou depois que o vice-presidente de uma organização chamada Global Energy Balance Network declarou, em um vídeo institucional, que "a mídia popular e as revistas científicas afirmaram que as pessoas 'estão comendo demais, comendo demais, comendo demais' – culpando fast food e bebidas açucaradas pela obesidade. Mas não há nenhuma evidência clara de que, de fato, essa seja a causa" (veja o vídeo mais abaixo).

O comentário causou grande repercussão porque, posteriormente, foi revelado que a Coca-Cola colaborou com US$ 1,5 milhão para a abertura e manutenção da entidade supracitada. Agora fica a dúvida: a teoria tem algum fundamento ou trata-se apenas de lobby a favor do fast-food? E a fabricante de bebidas, o que diz sobre o assunto? O UOL Esporte foi atrás de respostas.

Coca vê mal-entendido e público informado

A Coca-Cola, claro, não gostou nada das insinuações de que os US$ 1,5 milhão em doações para a abertura da Global Energy Balance Network estariam  ligados a uma campanha pró-fast food . Em uma resposta oficial publicada no “The Wall Street Journal”, a empresa diz que “tem sido acusada de desviar o debate e sugerir que a atividade física é a única solução para a crise de obesidade. Há também relatos que nos acusam de enganar o público sobre nosso apoio às pesquisas científicas.” No comunicado, a Coca-Cola lembra que tem produtos de diversos tipos e anuncia uma série de medidas com o intuito de aumentar os esforços da empresa em reduzir calorias e aprimorar o envolvimento da marca com a realização de pesquisas.

Coca NYT - Reprodução - Reprodução
"A enviesada mensagem da Coca sobre obesidade: beba Coca. Exercite-se mais", diz o NYT
Imagem: Reprodução

Claudia Lorenzo, vice-presidente de Relações Corporativas da Coca-Cola no Brasil, em entrevista ao UOL Esporte, enfatizou os dizeres da empresa.“A pessoa certa para falar sobre estilo de vida saudável é um especialista, um médico. Nosso dever, como uma indústria de bebidas, é ter um portfólio com embalagens menores, versões diet e regular, e poder reduzir o açúcar de cada produto que fazemos. Aí, obviamente, a pessoa bem informada vai poder fazer suas escolhas.”  

Claudia lembra que um dos compromissos globais da Coca é justamente apoiar programas de atividades físicas. Mas que isso não significa mudar seu diálogo em detrimento da dieta. “Hoje em dia, com o nível de informação que a população de classe média tem, seria muito dizer que uma dieta equilibrada não é importante”, acredita a VP, para quem o episódio envolvendo a Global Energy Balance Network “parece ter acontecido por causa de uma série de mal-entendidos.”

Cientista se explica e diz que só exercício não resolve

Já James O. Hill, presidente da Global Energy Balance Network, declarou, por meio de um comunicado, que “as recentes reportagens sugerindo que o trabalho dos meus colegas, e o meu, promove a ideia de que exercícios são mais importantes que a dieta no combate à obesidade simplifica totalmente esta complexa questão”. Hill diz que “como um pesquisador do controle de peso e obesidade por mais de 25 anos, eu posso dizer de maneira inequívoca que a dieta é um componente crítico no controle do peso”, e completa afirmando que a “colaboração da indústria com a educação de alto nível é uma prática comum”. A fala, porém, destoa do que diz seu colega abaixo.

 

 

Especialista defende exercícios e alimentação saudável

“Para se ter uma vida saudável, deve-se associar o binômio alimentação adequada e exercícios físicos regulares”, diz Dr. Josivan Lima, membro da Comissão Temporária de Endocrinologia do Exercício e Esporte (CTEEE) da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). “Isso não é novo. O ser humano viveu assim desde os tempos pré-históricos e desenvolveu uma genética poupadora. Querer responsabilizar a dieta errada ou a falta de exercícios é uma ideia muito simplista. Nosso organismo não funciona assim. Precisamos de uma integração entre ingestão adequada e gastos”, explica o médico.

Dr. Josivan, porém, pondera que há muito mais em jogo do que a simples equação entre o que se consome e o que se gasta. “Alterações hormonais, genéticas e outros fatores como idade, sexo, flora intestinal bacteriana e mesmo fatores ambientais estão relacionados. Duas pessoas podem ingerir a mesma quantidade de calorias e fazer a mesma quantidade de exercícios e, mesmo assim, uma ganhar e a outra perder peso."