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Bolhas gigantes, 250km e 50ºC no deserto: a maratona mais difícil do mundo

Corredores cruzam o Saara na ultramaratona mais difícil do mundo - Divulgação
Corredores cruzam o Saara na ultramaratona mais difícil do mundo Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo

12/03/2017 04h00

Em 1984, o francês Patrick Bauer atravessou 350 km no deserto do Saara, correndo sozinho, sem encontrar nenhum oásis ou uma comunidade, ao longo de 12 dias. Dois anos depois, inspirada nessa loucura, surgiu a Marathon des Sables (ou Maratona do Saara). Trata-se simplesmente da ultramaratona conhecida como a mais difícil do mundo.

Atualmente, a prova tem entre 230km e 250km que são percorridos durante sete dias, divididos em seis estágios. O calor chega aos 50ºC. Cada um leva sua comida e sua água. Durante uma semana, dorme-se em acampamentos. Nas paradas à noite, bolhas gigantes nos pés fazem parte da rotina da equipe médica.

Algumas bolhas têm o tamanho de uma bolinha de tênis. Como o calor extremo incha os pés dos corredores, todos usam tênis um pouco maiores que o normal, mas quem exagera nessa "folga" acaba sofrendo mais.

Muito treino físico não basta. Os corredores costumam testar a concentração cumprindo longas distâncias em lugares pequenos e repetidos ou experimentando outras ultramaratonas. A organização da Maratona do Saara tem diversas exigências.

Uma delas é que cada competidor leve consigo pelo menos 14 mil calorias para a semana da prova. A ideia é forçar que as pessoas ingiram ao menos 2 mil calorias por dia.

A bagagem também tem restrição: mínimo de 6,5 kg e máximo de 15 kg. Essa mochila levada nas costas guarda itens de segurança obrigatórios: alerta de fumaça, canivete, aplicação antiveneno, além de saco de dormir e roupa para o frio das noites.

Produtos de higiene também vão na bagagem, e corta-se peso a qualquer custo. Assim, é normal ver escovas de dente com cabos cortados e até lenços úmidos ressecados, uma tática para gastar menos espaço. E tudo isso não é exagero. É preciso estar preparado para o pior: perder-se no deserto.

Foi o que aconteceu com o italiano Mauro Prosperi em 1994. Depois de uma tempestade de areia, esse ex-pentatleta olímpico ficou dez dias perdido. Nesse período, chegou a tomar a própria urina e chupar sangue de 20 morcegos para sobreviver, quando seus mantimentos se esgotaram.

Você pode se perguntar: e quem se interessa por uma prova dessas? Na edição de 2016, pouco mais de 1.100 pessoas se inscreveram; 973 completaram. Para participar da Maratona do Saara, somente a inscrição custa cerca de R$ 10 mil. O percurso varia a cada ano, quando novas dunas e subidas íngremes são acrescentadas. Neste ano, a prova acontece em abril. E mais de mil pessoas estarão lá novamente.