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Corrupção em eleição para 2016 driblou regra criada após escândalo de 1998

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Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

05/09/2017 14h21

A operação da Polícia Federal envolvendo o Comitê Olímpico do Brasil (COB) e seu presidente, Carlos Arthur Nuzman, não é o primeiro escândalo envolvendo compra de votos e pagamento de propinas durante o processo de escolha da cidade sede para os Jogos Olímpicos. No final da década de 90, a disputa entre as cidades de Salt Lake City, nos EUA, e Nagano, no Japão, pelos Jogos de Inverno de 1998 e 2002 mostrou uma realidade assustadora.

A cidade norte-americana foi derrotada na eleição para 1998 e acusou os japoneses de hospedarem membros do Comitê Olímpico Internacional (COI) com direito a voto no processo) a resorts de luxo no país – e até fornecer os serviços de gueixas (acusações sobre fornecimento de favores sexuais foram negados). Na eleição seguinte, os próprios norte-americanos reagiram.

Em quatro investigações diferentes, foram descobertos vários indícios de compra de votos, com propinas de até um milhão de dólares. Um dos casos mais emblemáticos foi o de um membro do COI que teve as despesas de educação de seu filho pagas pelo comitê organizador dos Jogos de Salt Lake – que acabou recebendo os Jogos de Inverno em 2002.

O resultado desse primeiro escândalo foi a mudança das regras da eleição da cidade-sede dos Jogos Olímpicos. O sistema de votação segue nas mãos dos membros do COI, mas desde então os dirigentes estão proibidos de entrar em contato com representantes das cidades candidatas.

O processo para a Rio-2016 já foi assim: o COI criou uma comissão de avaliação da candidatura, formado por especialistas em diversas áreas, que visitaram todas as candidatas e criaram um extenso relatório sobre cada uma delas.

O escândalo brasileiro se encaixa nessa nova realidade: antes de 1998, era comum que as próprias candidatas buscassem os membros do COI para negociar votos diretamente – existem relatos que a cidade australiana de Melbourne organizou uma apresentação especial de sua orquestra filarmônica para que a filha de um membro asiático do COI pudesse se apresentar ao piano. Agora, as cidades precisariam de intermediários para “convencer” o colégio eleitoral.

É aí que entra a ação dos empresários Arthur Soares, o Rei Arthur, e Papa Diack. O primeiro era o elo da cidade do Rio de Janeiro. O segundo, usando a influência de seu pai, Lamine Diack, ex-presidente da Federação Internacional de Atletismo, era a ligação com determinados membros do COI. De acordo com as investigações da Lava Jato, ao menos um pagamento de US$ 2 milhões foi feito por Arthur para Diack.

O mesmo Diack também está sendo investigado no processo de candidatura de Tóquio para os Jogos de 2020 e teve seu nome ligado à saída do Qatar da disputa para os Jogos de 2016, no Rio de Janeiro – os árabes negaram a ligação.