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Nuzman cogitou vida em Miami antes de fracasso eleitoral e prisão

Leo Burlá e Pedro Ivo Almeida

Do UOL, no Rio de Janeiro

06/10/2017 04h00

À medida que as investigações da Operação Lava Jato avançavam no Rio de Janeiro, o presidente do Comitê Olímpico do Brasil, Carlos Arthur Nuzman, planejava sua mudança para Miami, nos Estados Unidos.

Preso na manhã desta quinta-feira pela Polícia Federal, Nuzman condicionava uma retirada estratégica em caso de sucesso na eleição da Organização Desportiva Pan-Americana (ODEPA). Como foi derrotado pelo chileno Neven Ilic, o brasileiro viu suas intenções (e a de alguns colaboradores mais próximos que o acampanhariam) irem por "água abaixo".

Mais do que uma prova cabal de seu desprestígio entre seus pares, Nuzman não pode colocar em prática o seu plano: em caso de triunfo, mudaria a sede da entidade (atualmente na Cidade do México) para a Flórida e seguiria com vez e voto no esporte mundial. Só que a milhas de distância das confusões em casa. O que era visto por muitos como uma estratégia para angariar apoio dos norte-americanos no pleito, também era usado por seus detratores como uma tentativa de escapar da justiça brasileira.

Derrotado nas urnas, coube a Nuzman um exílio dentro de sua própria casa. Ao ser chamado a depor pela primeira vez na Polícia Federal, ele teve todos os seus passaportes confiscados, o que já inviabilizaria uma tentativa de driblar a lei. Se tivesse triunfado na ODEPA, ele teria tido tempo para planejar seus passos e passe ainda livre para viajar mundo afora.

Nuzman recebeu a voz de prisão por volta das 6h (de Brasília) desta quinta-feira. Cerca de três horas depois, ele deixou a residência em direção à sede da Polícia Federal no Rio de Janeiro. No pedido de prisão apresentado pelo Ministério Público Federal, Nuzman é acusado de tentativa de ocultação de bens. Também é apontado um aumento de patrimônio de mais de 457% entre os anos de 2006 e 2016.

“O patrimônio pessoal do Nuzman demonstra evolução bem clara. O Imposto de Renda não condiz com renda dele no Brasil ou exterior. Declara que recebia como pessoa física e que tem entrada de receita do exterior, mas não corresponde. a realidade. O patrimônio dele fora do Brasil cresce exponencialmente. Ele cita organização de palestras, mas que não condiz com prestação de serviço. Tem conta na Suíça declarada há anos, mas ela cresceu sem demonstração", explicou o procurador Rodrigo Timóteo.

O MPF-RJ identificou Nuzman como um dos responsáveis por fazer a intermediação do pagamento de propina a dirigente para ajudar na escolha do Rio de Janeiro como sede da Olimpíada de 2016 e também atrelou o dirigente a uma lista de pagamentos que seriam feitos a outros cartolas.