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Da cocaína ao pódio: triatleta deixou as drogas e treina no "quarto da dor"

Sanders trocou a cocaína pelo triatlo e logo se tornou triatleta profissional - Charlie Crowhurst/Getty Images for Ironman
Sanders trocou a cocaína pelo triatlo e logo se tornou triatleta profissional Imagem: Charlie Crowhurst/Getty Images for Ironman

Do UOL, em São Paulo

04/11/2017 04h00

2017 foi um ano intenso para o canadense Lionel Sanders. Ele foi campeão mundial do triatlo de longa distância da ITU (União Internacional de Triatlo) e vice-campeão mundial do Ironman, no Havaí. Mas intensidade sempre fez parte da vida desse triatleta que há oito anos consumia cocaína diariamente e saía do quarto só uma vez por semana. Hoje, o canadense treina sua resistência à dor em um quarto e se tornou um atleta de elite.

Sanders foi do esporte para as drogas e depois fez o caminho reverso. Quando disputava competições de corrida no colegial, não imaginava que poderia se tornar um atleta profissional. Mais velho, sequer conseguiu vaga na equipe de corrida da faculdade. Foi nessa época, inclusive, que trocou a rotina esportiva pela cocaína.

Em dezembro de 2009, aos 21 anos, Sanders pediu dinheiro emprestado aos pais. Eles recusaram num primeiro momento. Afinal, pouco antes, o filho universitário havia gastado o dinheiro para alimentação comprando drogas. Mas desta vez o objetivo de Sanders era diferente: ele queria se inscrever em uma prova do Ironman.

Algumas semanas antes, ao presenciar os amigos discutindo sobre o fim da cocaína que tinham, ele se deu conta de como estava encaminhando sua vida. Dias depois, disputou uma corrida de 10 km. Foi quando ele teve a ideia de encarar um Ironman e seus 3,8 km de natação, 180 km de ciclismo e 42 km de corrida.

“Eu pesquisei o que era um Ironman e vi que isso exige disciplina e motivação, tudo que eu havia perdido”, contou ele à “Runners World”. Sanders levou o plano adiante e em 2010 terminou a etapa de Louisville, nos EUA, em 10h14min31.

“A primeira coisa que eu disse quando terminei a prova foi que aquilo havia sido a maior estupidez da minha vida e nunca faria de novo. Meus pais tiveram que me ajudar a chegar no hotel. Pedi uma pizza e percebi como aquilo havia sido incrível e difícil, e mesmo assim eu havia concluído”, recordou.

Os treinos continuaram. Três anos depois, em 2013, com resultados expressivos acumulados, Sanders se tornou profissional. Se o processo para deixar a cocaína foi marcado por algumas recaídas nos primeiros meses e alguns pensamentos de suicídio, a entrada no triatlo foi tão intensa quanto o período de vício nas drogas.

E essa mesma intensidade hoje marca os treinos de Sanders. Depois de ser atropelado quatro vezes em estradas em seus treinos de bicicleta, o canadense voltou a ficar trancado em um quarto, mas agora por um bom motivo: testar seu corpo e sua mente na corrida e na bicicleta.

Com uma esteira profissional e um simulador de ciclismo, o canadense treina trancafiado no quarto que ele apelidou de “caverna da dor”. Um aquecedor e um climatizador o ajudam a simular as condições de temperatura e umidade da prova que vai enfrentar.

“Quando faço alguma coisa, faço isso com toda minha força e foco total. Quero sempre dar tudo de mim. Com as drogas e o álcool foi assim, eu podia superar tudo mundo numa festa. Então aprendi a aceitar essa minha característica”, concluiu Sanders. “Se você quer alguma coisa para valer, você terá força mental para conseguir”.