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"Vaquinha", Olimpíada e trenó: como três nigerianas quebraram tabu no gelo

Seun Adigun (c) e suas companheiras de bobsled, também velocistas - Reprodução/Facebook
Seun Adigun (c) e suas companheiras de bobsled, também velocistas Imagem: Reprodução/Facebook

Do UOL, em São Paulo

03/12/2017 04h00

Com temperaturas médias anuais que dificilmente baixam dos 30ºC, a Nigéria nunca teve nenhum representante nos Jogos Olímpicos de Inverno. Mas isso acaba no ano que vem. Contra a lógica geográfica e recorrendo a trenó emprestado e “vaquinha” virtual, um trio de nigerianas garantiu vaga na Olimpíada de PyeongChang, na Coreia do Sul, para disputar o bobsled.

Bobsled é aquela modalidade em que quatro ou duas pessoas (no feminino, só há duplas) descem de trenó por uma pista de gelo e atingem velocidade superior a 130 km/h. Uma das maiores referências ao esporte nas últimas décadas virou até filme: o “Jamaica Abaixo de Zero” foi inspirado na classificação histórica do quarteto masculino da Jamaica para os Jogos de Inverno de 1988.

Trinta anos depois, história semelhante será contada pelas nigerianas Seun Adigun, Akuoma Omeoga e Ngozi Onwumere. A ideia surgiu com Seun há menos de dois anos, tomou corpo rapidamente e virou realidade.

Nascida nos Estados Unidos mas com raízes nigerianas, Seun Adigun disputou a Olimpíada de Londres, em 2012, nos 100m com barreiras. Não passou da primeira fase, mas realizou seu sonho olímpico. Sonho que não acabou com sua aposentadoria das pistas. Ela encontrou duas compatriotas também atletas que compraram a ideia improvável de buscar vaga nos Jogos de Inverno de 2018.

Mas não bastava comprar a ideia, era preciso comprar os equipamentos também. Em novembro de 2016, então, a velocista que será a piloto do trenó criou uma “vaquinha” virtual para arrecadar US$ 75 mil de um total de US$ 150 mil previstos por ela para fazer o projeto se tornar realidade.

Para não perder tempo, os treinos começaram com trenós emprestados em Utah, nos Estados Unidos. A “vaquinha” deu certo e logo um patrocinador abraçou a ideia. A questão financeira estava resolvida. Mas ainda faltava a vaga.

A equipe nigeriana precisava disputar cinco eliminatórias internacionais em três circuitos diferentes dentro do prazo estabelecido. Após treinos intensos e um planejamento sem margem para erros, as três atletas conseguiram confirmar a classificação.

“Somos de um continente em que ninguém nunca imaginou deslizar no gelo a 120 km/h ou 135 km/h”, disse Seun Adigun à BBC. Elas, inclusive, serão o primeiro time africano de bobsled numa edição dos Jogos de Inverno.

“Embora eu esteja liderando o time, esse projeto é muito maior do que eu ou qualquer pessoa. Acho que o sucesso dessa equipe pode afetar positivamente milhões de pessoas. Juntos, podemos mostrar que nada é impossível com um pouco de fé, apoio e vontade de vencer”, emendou a atleta.

Seun tem a maior responsabilidade na equipe também sobre o gelo. Como piloto, é ela quem conduz o trenó em alta velocidade, precisando decorar a pista e acertar os movimentos nas mais de 15 curvas do percurso. Mas tudo deu certo até agora. Mais certo até do que elas mesmas poderiam imaginar.