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Pan 2019

Pan-2019: em dia de conquistas tão emocionantes, 2 medalhas foram tristes

Jaqueline Mourão se emociona após conquista de medalha de bronze pelo moutain bike no Pan de Lima-2019 - Jonne Roriz/COB
Jaqueline Mourão se emociona após conquista de medalha de bronze pelo moutain bike no Pan de Lima-2019 Imagem: Jonne Roriz/COB

Do UOL, em São Paulo

29/07/2019 01h11

Uma medalha obtida no Pan de Lima-2019 pode ter duas faces para os atletas brasileiros. Tudo depende do contexto ao redor dessa conquista, como este domingo (28) na capital peruana nos mostrou.

Quando você ganha o ouro, como fez o paraibano Netinho, do taekwondo, aí não há muito o que discutir. Especialmente quando o lutador precisou buscar uma virada no último assalto na final da categoria até 68kg, de maneira emocionante. Ainda mais quando, para o mesmo atleta, se trata de um momento de afirmação. Ainda bem que ele não quis virar jogador de futebol, como seu pai um dia imaginou.

"Acho que ele estava machucado. Aí pensei em chutar até o final da luta, até ele não aguentar mais. Tinha fôlego para isso e consegui virar", afirmou, sobre o dominicano Bernardo Pie, seu rival na final.

O que dizer, então, da conquista do ouro pela equipe masculina de ginástica artística? Eles, primeiro, fizeram uma exibição coletiva primorosa e, depois, tiveram de virar torcedores, de olho no que o time dos Estados Unidos faria na segunda sessão de exercícios. Os norte-americanos, dessa vez, não tiveram forças: o Brasil fez 1,050 ponto a mais e conquistaram o ouro que não vinha desde Guadalajara-2011.

Agora, por outro lado, pegue o caso do atirador Julio Almeida, por exemplo. Ele ganhou a medalha de bronze na disputa de pistola de ar 10m. Algo obviamente para se comemorar - o que, registre-se, ele fez. Mas há um detalhe: os dois lugares acima no pódio foram os que garantiram vagas nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020. Além disso, Almeida liderava a competição até os últimos disparos.

Então ficou para o carioca uma sensação de que algo faltou, especialmente para um esportista de currículo já volumoso. Pensando apenas no Pan, é a sétima vez que ele vai ao pódio, tendo já sido campeão na prova de pistola livre 50m em Toronto-2015. "Pela medalha, estou muito contente. É difícil conquistar qualquer medalha. Mas perder a vaga olímpica no último tiro, nesse ponto eu não estou muito contente, não", disse Almeida, que mudou sua base de treinamentos do Rio de Janeiro para Campinas para evitar que entrasse em um tiroteio em praça pública. "Mas bola para frente."

Mesmo com sua experiência, o atirador admitiu que a pressão pelo resultado na capital peruana acabou interferindo em seu desempenho no final da disputa. "Por mais que você treine, você não consegue simular a tensão. Você treina cansado, em horários ruins, mas a emoção é difícil simular. Quando a mão está subindo, ela não está mais parada. A mão já está tremendo, e por uma fração de segundo acelerei o disparo, joguei o tiro para a esquerda."

Julio Almeida, bronze no Pan - Alexandre Loureiro/COB - Alexandre Loureiro/COB
Julio Almeida ganha mais uma medalha para sua coleção pan-americana
Imagem: Alexandre Loureiro/COB

Mountain bike dá duas medalhas

As diferentes sensações que a subida ao pódio pode gerar ficaram claras ao final da jornada do mountain bike em Lima-2019. O Brasil conseguiu duas medalhas: uma prata com Henrique Avancini e um bronze com Jaqueline Mourão.

Mourão era, de longe, a ciclista mais emocionada com seu resultado. Depois de enorme decepção no Pan do Rio, em 2007, quando ficou fora do pódio, ela simplesmente decidiu mudar de modalidade. Quer dizer, ela mudou até mesmo de ciclo olímpico - aderindo aos Jogos de inverno, com o esqui cross country. Foram quatro Olimpíadas na neve. Até que ela voltou.

"Significa muito para mim. O Pan de 2007 foi a minha maior frustração na carreira. Era favorita na época, e quarto lugar é o primeiro que não ganha medalha. Isso na frente das pessoas que amo, dos meus amigos, da família", disse a mineira de Belo Horizonte, aos 43 anos, agora medalhista pan-americana.

Avancini no Pan - REUTERS/Pilar Olivare - REUTERS/Pilar Olivare
Avancini teve problemas com sua bicicleta, mas ainda ganhou prata
Imagem: REUTERS/Pilar Olivare

Já Avancini chegou a Lima como um dos melhores do mundo na competição. Tinha grande chance de encerrar um jejum de 60 anos sem ouro no ciclismo para brasileiros. Mas foi abatido por uma nuvem de azar, com direito a suspensão quebrada e pneu furado em sua bicicleta. Que ele tenha conquistado a prata só mostra o tamanho de seu potencial.

"Consegui fazer um milagre, mas não dois. Venho competindo bem o ano inteiro. Não estou feliz, queria competir pelo ouro e tinha plenas condições de brigar por esse ouro. Mas mountain bike é assim", disse. "O mundo não muda em um dia. Venho fazendo boa temporada para conquistar o espaço no esporte. É uma boa oportunidade que perco, mas tem outras."

Nos coletivos, decepções no campo e na areia

No rúgbi de 7, a seleção brasileira feminina perdeu pela primeira vez para um adversário sul-americano, no caso a Colômbia. Pior: foi de virada. Para completar, valia a medalha de bronze. Já a equipe masculina foi derrotada pelos Estados Unidos, na disputa pelo terceiro lugar, de modo sofrido: os norte-americanos buscaram o empate no final e garantiram o bronze na prorrogação.

Maior frustração para os planos do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), porém, foi a queda da dupla Oscar e Thiago pelas quartas de final do vôlei de praia. Eles perderam para a dupla do México por 2 sets a 0. Ao menos Carol Horta e Ângela avançaram, despachando colombianas.