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Flávia Freire lembra início no Globo Esporte: "não entendia de futebol"

Flavia Freire durante reportagem para a TV - Arquivo Pessoal
Flavia Freire durante reportagem para a TV Imagem: Arquivo Pessoal

Marcelo Tieppo

Colaboração para o UOL, em São Paulo

04/08/2019 04h00

Flávia Freire ficou conhecida por fazer a previsão do tempo em todos os telejornais da Globo, incluindo o Jornal Nacional, durante dez anos. O que pouca gente lembra é que a trajetória de Flávia Freire como apresentadora começou no esporte, em 2004. Ela se surpreendeu quando foi avisada de que iria fazer o Globo Esporte aos sábados e cobriria as férias de Glenda Kozlowski.

"Um dia me levaram pra fazer um teste no estúdio, mas eu achei que era uma coisa de fonoaudióloga. Eu era repórter de geral, mas me deram umas notícias de esporte pra ler. Tomei um susto quando disseram que iam levar a fita para os chefes avaliarem. Começou aí minha aventura na apresentação", relembra Flávia.

A apresentadora confessa que na época não tinha o hábito de ler sobre esportes. "Eu não entendia nada de futebol. Nunca tinha feito matéria esportiva, era tudo muito novo. Mas, quando comecei a apresentar, passei a ler os jornais esportivos e os cadernos de esporte. Ainda bem que eu tive colegas maravilhosos."

Apesar do susto inicial, Flávia Freire encarou o desafio. "Ao mesmo tempo que me assustei, era também o que esperava e queria fazer. Pensei: vamos lá, eu tenho que dar conta." E foi assim que a apresentadora iniciou sua jornada pelas bancadas dos telejornais globais.

Em entrevista ao UOL Esporte, a jornalista de 44 anos nascida no Amapá relembra o início da carreira, as histórias marcantes e engraçadas na reportagem, fala da vida como empresária em Portugal, onde abriu uma clínica de estética, e revela os motivos que a levaram a pedir demissão depois de passar 19 anos na Rede Globo.

Flavia Freire posa ao lado do piloto Luciano Burti - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Flávia Freire posa ao lado do piloto Luciano Burti
Imagem: Arquivo Pessoal

Vida de repórter

Flávia Freire começou como repórter em Brasília, em 1998. Um ano depois, estava na Globo de São Paulo. "Comecei cobrindo uma licença maternidade da Abigail Costa. Só depois de uns oito meses é que me contrataram definitivamente e passei a fazer matérias de geral. Aí fiz buraco de rua, matéria policial, de comportamento, sobre flores."

Nesse período como repórter, Flávia lembra de uma reportagem em especial, o fim do sequestro do publicitário Washington Olivetto, em 2002. Ele ficou dois meses em um cativeiro numa casa no bairro do Brooklin, zona sul de São Paulo. "Nós tivemos acesso ao cativeiro e eu entrei ao vivo duas vezes no Fantástico. Era uma casa de dois andares, e o Olivetto ficou em um cubículo que tinha isolamento acústico. Lembro que ele foi localizado pela polícia porque percebeu que estava sozinho e começou a gritar. Um dos vizinhos ouviu o barulho, usou um estetoscópio para escutá-lo e chamou a polícia. Essa reportagem me marcou muito", diz Flávia.

Ela fez de tudo na principal emissora do país. "Eu era uma espécie de curinga. Apresentei todos os telejornais e programas feitos em São Paulo: Globo Rural, Bom Dia São Paulo, Antena Paulista, Jornal Hoje, Bem Estar, Radar SP."

"Na previsão do tempo, também viajei para os Estados Unidos e para a Amazônia para aprender sobre as mudanças climáticas no mundo. Foi uma fase muito boa, quando o espaço para o tempo aumentou no Jornal Nacional e já era o formato de hoje, com 1 minuto e meio de duração."

Flávia também enfrentou algumas surpresas comuns da profissão, principalmente durante entradas ao vivo. "Eu estava na Ponte das Bandeiras, ia falar sobre o trânsito e anotei todas as informações em um papelzinho. Três minutos antes de entrar no ar, o papel voou e eu fiquei desesperada. O auxiliar desceu e foi atrás do papel. Quando eu ia entrar no ar, ele me entregou o papel. Foi um trabalho de equipe. Não sei o que iria acontecer se não recuperasse aquele papel."

Senhora do tempo

Flávia Freire começou a amadurecer a ideia de deixar o Brasil e o emprego na Globo, em 2015, durante a licença-maternidade, depois do nascimento de Mateus, seu primeiro filho. "Passei os seis meses em Portugal. Meu marido é português e Porto é uma cidade ótima para se viver. Foi nessa época que comecei a pensar em deixar o Brasil para ter mais tranquilidade e mais tempo para cuidar do meu filho, fugindo da rotina pesada do jornalismo. Você tem hora para entrar, mas não sabe quando vai sair."

Além de buscar mais tempo, Flávia também começou a se questionar sobre os caminhos profissionais que estavam reservados para ela na emissora. "Me convidaram para apresentar o Hora 1, mas eu já estava querendo engravidar e tive que recusar a proposta. Depois que voltei da licença, chegaram a propor que fizesse a previsão do tempo, mas aí eu ia ser a senhora do tempo, não mais a moça do tempo", brinca.

Ela voltou para a reportagem até que decidiu, em 2017, pedir demissão. "Já melhorou muito, mas o mundo da TV ainda prioriza os homens e é ingrato com as mulheres a partir de uma certa idade. Você vê Chicos Pinheiros e Renatos Machados na bancada, mas mulheres são poucas. Felizmente, eu consegui fazer um pé de meia com o bom salário que tinha na Globo e decidimos mudar para Portugal, porque já tínhamos uma estrutura por causa do meu marido que tem família aqui."

Planos de voltar ao jornalismo

Em Portugal, Flávia Freire arriscou uma nova profissão. Ela abriu uma clínica de estética, um ano e meio atrás. "Eu precisava fazer alguma coisa, não consigo ficar parada. Poderia tentar voltar ao jornalismo, mas aqui não existem muitas oportunidades. Abri uma clínica, mas essa parte de recursos humanos dá muito trabalho e eu toco o negócio sozinha. Existe sempre a preocupação de ter o dinheiro para pagar os funcionários. Mas a equipe é muito boa", diz.

Mas quem está sentindo falta de ver a jornalista no vídeo pode se surpreender em breve. "Fui convidada para fazer parte de um projeto com canais de YouTube e eu poderia ser uma correspondente aqui em Portugal. Vamos ver, acho que vou acabar aceitando", revela Flávia Freire, que também tem outro plano: ser mãe novamente.