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Pan 2019

Pan de 87 teve três medalhas e tenistas brasileiros impedidos de jogar

Fernando Roese durante treino brasileiro da Fed Cup - Cristiano Andujar/CBT
Fernando Roese durante treino brasileiro da Fed Cup Imagem: Cristiano Andujar/CBT

Rubens Lisboa

Colaboração para o UOL, em São Paulo

04/08/2019 12h00

Uma das melhores campanhas do Brasil no tênis dos Jogos Pan-Americanos foi também uma das mais controversas, com dois dos quatro convocados da equipe brasileira impedidos de jogar em Indianápolis-1987 por serem considerados profissionais, o que era proibido no regulamento da época.

Com o ex-tenista Thomaz Koch como capitão, a Confederação Brasileira de Tênis optou por levar profissionais e não juvenis na delegação, contando com jogadores que estavam nos rankings ATP e WTA da época.

Foram convocados Fernando Roese e Nelson Aerts para jogar em simples e duplas no masculino, enquanto no feminino as escolhidas foram Gisele Miró e Patricia Medrado, que já tinha até uma prata no Pan de San Juan-1975 e achou que poderia jogar pelo ouro 12 anos depois. Roese e Miró ainda jogariam as duplas mistas.

De forma inesperada, Medrado e Aerts foram avisados que não poderiam jogar. Primeiro foi a baiana, que nem chegou a ser sorteada na chave, enquanto Neco seria adversário de um tenista da Costa Rica, mas o comitê do país entrou com reclamação e conseguiu também a exclusão dele.

Roese e Miró permaneceram e saíram dos Estados Unidos com as medalhas de ouro em simples masculino e feminino, além do bronze nas duplas mistas. Já Aerts e Medrado tiveram de voltar para casa e não receberam nem mesmo as passagens para o Brasil.

"Lembro que a situação foi muito estranha pelo seguinte. Primeiro teve essa questão de deixar os países inscreverem e lá teve os cortes de não deixar jogar e eu estava nas duplas com o Neco (Aerts), a gente sempre jogou muito bem juntos e seria uma dupla muito forte", conta Fernando Roese, que atualmente é técnico.

"Fui a primeira (excluída). Inclusive, foi curioso que todos nós éramos profissionais porque não existe uma regra específica que você assina para ser profissional do tênis", afirma Medrado.

E mesmo jogando torneios profissionais e presentes nos rankings da ATP e WTA, Roese e Miró saíram intactos de Indianápolis. O gaúcho venceu a final contra o americano Al Parker, que nunca esteve no top 100, diferentemente de Roese. Já a paranaense bateu na final a colombiana Adriana Isaza, que não teve resultados expressivos antes ou depois daquele Pan.

Irmão do polêmico John McEnroe, Patrick McEnroe já estava no top 100 de duplas durante o Pan de Indianápolis, além de também aparecer no ranking de simples, mas não foi excluído e ainda conquistou a medalha de ouro nas duplas masculinas ao lado de Luke Jensen.

Patrícia Medrado havia achado estranho que ao chegar para treinar antes do Pan, uma tenista de outro país a questionou o que ela fazia na vila. Ainda assim, não desconfiou que seria impedida de jogar, tinha cancelado sua participação em três torneios do circuito para estar no evento.

"Houve uma reunião da comissão técnica, quem foi nos acompanhando era o Thomaz Koch. Quando ele saiu, me comunicou que eu não poderia participar justamente por ser profissional. E eu: 'o que que estou fazendo aqui?'. Você nunca questiona uma convocação de sua confederação, é inquestionável", ainda lamenta 32 anos depois a ex-tenista.

"Até hoje não recebi nenhum pedido de desculpas, foi um tema totalmente ignorado. Eu fiquei mais uns dois dias, me senti super mal porque estava em um ambiente no qual estava indo para competir e fui cerceada dessa condição e fui embora da vila sem nenhuma compensação financeira", completa Medrado, uma das poucas brasileiras que estiveram no top 100 do ranking feminino.

A edição de 1987 foi a última em que o Brasil teve uma medalha de ouro na chave feminina de simples. Carolina Meligeni chegou perto da final em Lima, mas foi derrotada nas semifinais para a americana Caroline Dolehida, que decide o título neste domingo com a argentina Nadia Podoroska.