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Legado a Copa do Mundo de 2010 salvou a Copa Africana de Nações

18/01/2013 19h36

JOHANNESBURG, 18 Jan 2013 (AFP) - Graças à estrutura montada para a Copa do Mundo de 2010, a África do Sul conseguiu salvar Copa Africana de Nações (CAN), ao assumir de última hora a organização inicialmente atribuída à Líbia, ante da guerra civil que impediu a realização no país.

A competição começa neste sábado, com o duelo entre a anfitriã África do Sul e o estreante Cabo Verde. O campeão da CAN garante vaga na Copa das Confederações, que será realizada em junho no Brasil. Ele integrará o grupo B, junto com Espanha, Uruguai e Taiti.

A decisão de retirar a organização da Líbia foi anunciada em setembro de 2011. Nestas condições, apenas os sul-africanos tinham condições de sediar o evento com um prazo tão curto.

"Nunca poderíamos fazer isso se não contássemos com a infraestrutura da Copa do Mundo", admitiu à AFP o presidente do Comitê Local de Organização, Mvuzo Mbebe.

Enquanto a África do Sul organiza um torneio continental pouco mais de dois anos depois do Mundial, o Brasil decidiu abrir mão de sediar a Copa América-2015 em razão da proximidade com a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.

A competição será disputada em cinco dos dez estádios reformados ou construídos especialmente para o Mundial de 2010.

"Não tivemos muita coisa para fazer, só dar alguns retoques em cada um dos estádios", completou Mbebe, que ainda disse que a experiência de ter organizado uma torneio muito maior poucos anos antes tinha sido determinante.

No entanto, a escolha dos estádios foi problemática e algumas cidades se recusaram a receber jogos devido ao alto custo da organização sem ter certeza de retorno porque a CAN costuma atrair poucos torcedores nos estádios.

Por exemplo a Cidade do Cabo, que tem um lindo estádio com capacidade para 64.000 pessoas, se recusou a sediar o evento.

Já o Soccer City de Johanesburgo, que recebeu a final da Copa do Mundo de 2010, terá apenas o jogo de abertura e a decisão da CAN.

De acordo com o secretário geral da Confederação Africana, Hicham El Amrani, 555.000 dos 850.000 ingressos colocados à venda já foram comprados.

Segundo ele, "a CAN nunca antes conseguiu levar tantas pessoas aos estádios".

A África do Sul vem enfrentando vários problemas para lidar com os 'Elefantes Brancos', estádios com alto custo de manutenção que deixaram de ser rentáveis depois do Mundial, mesmo recebendo shows e jogos do campeonato local.

De acordo com Alan Winde, ministro das Finanças e do Desenvolvimento da Província da Cidade do Cabo, a arrecadação do estádio de Green Park mal consegue cobrir os custos de manutenção.

As autoridades da cidade esperavam poder usá-lo para jogos do time local de rúgbi, mas os 'Stormers' se recusaram a abandonar seu estádio histórico para jogar na nova arena.

O diretor do Departamento de Responsabilidade Social da Fifa, explicou que "o país-sede precisa de um planejamento próprio sobre o uso dos estádios a longo prazo. A Fifa não tem autoridade para controlar o uso do dinheiro público".

No entanto, para a população sul-africana, a parte mais importante do legado não tem nada a ver com os estádios.

O país ganhou novas linhas de ônibus, um trem de alta velocidade entre Johanesburgo e Pretoria, além de melhorias na iluminação pública, nas estradas, nos parques, entre outros.

Na comunidade carente de Hillbrow, em Johanesburgo, dezenas de crianças treinam todos os dias num campo doado pela seleção nacional da Holanda e pela Fundação Johann Cruyff.

A Copa do Mundo contribuiu para o orgulho nacional sul-africano, num país que sofre há décadas por causa de desigualdades sociais e tensões étnicas.