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Exilado de guerra, Shakhtar sonha em voltar a jogar em Donestk

29/09/2014 17h27

DONETSK, Ucrânia, 29 Set 2014 (AFP) - O conflito no leste da Ucrânia obriga o Shakhtar Donestsk a treinar em Kiev e a disputar seus jogos como mandante em Lviv, cerca de mil quilômetros a oeste do seu estádio, a moderna Donbass Arena, bombardeada em agosto.

"Nós nos sentimos bem em Kiev, mas Donetsk está nos nossos corações para sempre. Todos nós queremos voltar para lá", afirma Ivan Ordets, zagueiro do Shakhtar e da seleção ucraniana.

Nesta terça-feira, o clube receberá em Lviv o Porto, pela segunda rodada da fase de grupos da Liga dos Campeões.

O Shakhtar conta com nada menos de 13 brasileiros no seu elenco, inclusive o meia Bernard, que disputou a última Copa do Mundo com a seleção.

Depois de um amistoso disputado em agosto na França, pouco depois da queda do avião da Malaysia Airlines, seis jogadores se recusaram inicialmente a voltar à Ucrânia devido à crise política no país - cinco deles brasileiros (Alex Teixeira, Dentinho, Douglas Costa, Fred e Ismaily) -, mas acabaram sendo convencidos a reintegrar o elenco pelos dirigentes.

"Todo mundo quer jogar na Donbass Arena para sentir o apoio da nossa torcida, mas temos que jogar em Lviv porque o nosso presidente nos disse que ainda era perigoso demais para voltar", afirmou o técnico romeno rumano Mircea Lucescu.

Expectativa de estádio lotado em Lviv Os torcedores são os mais prejudicados, já que poucos têm condições de viajar mil quilômetros para assistir às partidas da equipe.

"É longe demais e sai muito caro. Cheguei a ver algumas partidas quando jogaram em Kiev, mas não é a mesma coisa do que torcer em casa. Não vejo a hora de ver o novo Shakhtar na nossa Donbass Arena. Precisamos deles aqui", disse à AFP o jovem Alexei, de 22 anos.

O Shakhtar acabou com a hegemonia do Dínamo de Kiev no futebol ucraniano, desde que foi comprado em 1996 pelo bilionário Rinat Akhmetov, homem mais rico do país.

As chances do time voltar ainda nesta temporada para suas instalações são mínimas. O Centro de Treinamento "Kirsha", que era do nível dos melhores clubes da Europa, não escapou dos bombardeios. As bombas também atingiram a fachada da Donbass Arena, estádio ultra-moderno construído para receber partidas da Eurocopa-2012.

"Ainda não sei quando teremos a possibilidade de retornar a Donetsk", reconheceu Lucescu.

Depois do incidente envolvendo os seis atletas que se recusaram a voltar ao país para o início da temporada, o clube trouxe até novos reforços, como o Márcio Azevedo, ex-zagueiro do Botafogo que estava em outra equipe da zona de conflito, o Metalist de Kharkiv.

"Agradeço muito a Lucescu por ter acreditado em mim. É uma sensação incrível disputar a Liga dos Campeões. Estava feliz igual criança na partida contra o Athletic Bilbao (jogo que terminou empatado sem gols, no país basco), afirmou Márcio à AFP.

O estádio de Lviv tem capacidade para 35.000 pessoas, mas só costuma receber 10.000 nas partidas do Campeonato Ucraniano. Os dirigentes do Shakhtar garantem, contudo, que o time receberá o Porto de casa cheia na Champions.