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Guerra na Ucrânia não abala sonho europeu do Shakhtar

26/11/2014 17h49

KIEV, 26 Nov 2014 (AFP) - O conflito no leste da Ucrânia obrigou o Shakhtar Donetsk e sua legião brasileira a se exilar a mil quilômetros do seu estádio, que foi bombardeado, mas isso não impediu o clube de se classificar para as oitavas de final da Liga dos Campeões.

Mesmo com a derrota por 1 a 0 de terça-feira para o Athletic Bilbao, o Shakhtar garantiu sua vaga com uma rodada de antecedência, graças à vitória por 3 a 0 do Porto sobre o Bate Borisov, mas cedo em Belarus.

A derrota para o time basco pode surpreender, quando se sabe que a equipe jogava de mandante com o lanterna da chave H, mas o fato é que Luiz Adriano e companhia nunca estão realmente em casa. O duelo foi realizado em Lviv e os jogadores vivem e treinam na capital Kiev.

A região de Donestk é uma das mais atingidas pelo conflito entre forças governamentais e separatistas pro-russos, que de acordo com a ONU deixou mais de 4.100 vítimas desde o mês de abril.

Vitrine "É complicado viver e jogar por tanto tempo fora da nossa casa", lamentou Luiz Adriano, artilheiro da Liga dos Campeões com 9 gols marcados e titular de Dunga nos últimos dois amistosos da seleção brasileira.

"Na situação atual, é totalmente impossível jogar futebol em Donetsk. Estamos muito preocupados com o estádio, a cidade e todos os moradores que permaneceram por lá", completou o atacante de 27 anos.

O centro de treinamento Kirsha, considerado um dos mais modernos do mundo, sofreu sérios danos por conta de bombardeios, assim como a Dombass Arena, estádio especialmente renovado para a Eurocopa-2012.

O Shakhtar conta com nada menos de 13 brasileiros no elenco, inclusive o meia Bernard, que disputou a última Copa do Mundo com a seleção.

Depois de um amistoso disputado em agosto na França, pouco depois da queda do avião da Malaysia Airlines, seis jogadores se recusaram inicialmente a voltar à Ucrânia devido à crise política no país - cinco deles brasileiros (Alex Teixeira, Dentinho, Douglas Costa, Fred e Ismaily) -, mas acabaram sendo convencidos a reintegrar o elenco pelos dirigentes.

O experiente técnico Lucesco, que assumiu o comando do clube em 2004, disse no início do mês que a situação "parece com a que vi na revolução na Romênia, depois da queda do comunismo, que foi um período de caos que vivi na época".

"Espero que teremos condições de preparar bem as oitavas de final. A Liga dos Campeões é uma grande vitrine e o nosso desempenho é importante para o prestígio do nosso clube", afirmou o treinador de 69 anos, que levou o Shakhtar ao seu primeiro grande título internacional em 2009, quando se sagrou campeão da Copa Uefa (antiga versão da Liga Europa).

Cestas básicas na bilheteria Por mais que o clube esteja brilhando no cenário continental, o conflito acabou com a hegemonia do clube no âmbito nacional.

O atual pentacampeão do Campeonato Ucraniano (e vencedor de oito dos últimos dez) ocupa hoje a terceira posição, cinco pontos atrás do arquirrival Dínamo Kiev.

Em Lviv, a média de público é de 10.000 torcedores, num estádio que pode acolher 35.000. A Dombass Arena tem capacidade para mais de 50.000 e costumava estar lotado em partidas de Liga dos Campeões.

"Todo mundo quer jogar na Dombass Arena, para contar com o apoio da nossa torcida apaixonado", confessa Lucescu.

"Estamos bem em Kiev, mas Donetsk está nos nossos corações para sempre. Todos nós queremos voltar para lá", se emociona Ivan Ordets, zagueiro do Shakhtar e da seleção ucraniana.

O retorno a Donetsk, porém, não tem previsão. A bilheteria do estádio não vende mais ingressos há muito tempo, mas serve como ponto de distribuição de cesta básicas doadas por organizações humanitárias.