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EUA denunciam corrupção em Copa do Mundo de 2010 e Copa América de 2016

27/05/2015 18h02

Nova York, 27 Mai 2015 (AFP) - A procuradora-geral dos Estados Unidos, Loretta Lynch, denunciou nesta quarta-feira um esquema de corrupção na atribuição da Copa do Mundo de 2010 à África do Sul e na organização da Copa América do Centenário, que acontecerá em 2016 em solo americano.

Os valores pagos pelas autoridades sul-africanas ultrapassariam os 10 milhões de dólares. Na Copa América, os pagamentos chegariam a 110 milhões de dólares.

"A Copa do Mundo de 2010 foi a primeira realizada no continente africano, mas, mesmo para este evento histórico, dirigentes da Fifa e outros corromperam o processo por meio de propinas para influenciar a decisão da atribuição da sede da competição", lamentou Lynch numa entrevista coletiva.

"São apenas acusações", rebateu Dominic Chimhavi, porta-voz da federação sul-africana de futebol, procurado pela AFP. "Ninguém está sendo investigado aqui", garantiu, recusando-se a fazer mais comentários sobre o assunto.

A respeito da Copa América do Centenário, a secretária de justiça americana também fez acusações pesadas.

"As investigações revelaram que aquilo que deveria ser uma manifestação esportiva foi usado como um veículo para uma rede maior encher os bolsos de executivos, com subornos que somam 110 milhões de dólares", explicou.

- Maletas num hotel -Uma acusação formal aberta em Nova York alega que o ex-vice-presidente da Fifa Jack Warner, 72 anos, desviou uma "parte substancial" dos fundos para seu uso pessoal.

O documento afirma que a Warner e sua família cultivaram laços com as autoridades do futebol sul-africano que remontam ao início dos anos 2000 e a primeira e frustrada candidatura do país para sediar a Copa do Mundo em 2006.

"Num determinado momento", diz a acusação, Warner ordenou um intermediário para voar para Paris e "recebesse uma maleta contendo pacotes de dólares em maços de 10.000 em um quarto de hotel" de um oficial sul-africano de alto escalão do comitê de candidatura.

Na preparação para a escolha do país anfitrião da Copa de 2010, ainda em 2004, um representante do comitê de candidatura marroquino teria oferecido 1 milhão de dólares a Warner para garantir seu voto, alega a acusação.

Warner supostamente informou Chuck Blazer, um ex-membro do comitê executivo da Fifa, que "funcionários de alto escalão da Fifa, o governo sul-africano e o comitê de candidatura sul-africano" estavam preparados para fazer um suborno de 10 milhões de dólares para que o país ganhasse a disputa.

Warner, cidadão de Trinidad e Tobago, deixou a Fifa em 2011 após ter sido suspenso por um comitê de ética que investigava corrupção dentro da instituição.

A promotora federal do distrito de Brooklyn, Kelly Currie, avisou, por sua vez, que a detenção de altos dirigentes "é apenas o início do nosso esforço" para combater a corrupção no futebol, não o fim.

"Desde 1991, duas gerações de dirigentes de futebol usaram seus cargos de confiança em suas organizações respectivas para pedir propinas de empresas de marketing esportivo em troca dos direitos comerciais dos torneios", denunciou Lynch.

"Estes indivíduos e organizações participaram de subornos para decidir a quem seriam atribuídos os direitos de transmissão e quem dirigiria as organizações que regem o futebol a nível mundial", completou.

- 'Copa do Mundo da corrupção' -A entrevista coletiva foi realizada em Nova York, poucas horas depois do terremoto que sacudiu o mundo da Fifa: sete altos dirigentes da organização foram detidos por suspeita de corrupção a pedido das autoridades americanas.

Entre os detidos está José Maria Marín, ex-presidente da Confederação Brasileira de futebol, que deixou o cargo em abril.

Ao mesmo tempo, num caso distinto, a Promotoria da Suíça apreendeu documentos eletrônicos na sede da Fifa, em uma investigação penal por suspeitas de "lavagem de dinheiro e gestão desleal" relacionadas à escolha das sedes das Copas do Mundo de 2018 e 2022.

Apesar das detenções, a eleição presidencial está mantida, e Blatter tem tudo para conseguir um quinto mandato.

Na mesma coletiva, Richard Weber, responsável da seção de investigações criminais da Direção do Imposto de Renda (IRS) americano, chamou o escândalo de "Copa do Mundo da fraude".