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Fifa, superpotência financeira e institucional

27/05/2015 22h15

Zurique, Suíça, 28 Mai 2015 (AFP) - Com reservas de mais de um bilhão e meio de dólares e faturamento digno de uma multinacional, a Fifa tornou-se uma potência financeira e institucional desde a chegada ao poder de Joseph Blatter, mas foi sacudida por vários casos de corrupção.

Blatter sempre costuma lembrar que a entidade precisava lidar com situação delicada de parceiros, como a empresa de marketing ISL, que acabou falindo em 2001.

Desde então, o chefão do futebol transformou a Fifa numa máquina de fazer dinheiro. Blatter entrou na instituição em 1975, como responsável pelo desenvolvimento, virou secretário-geral em 1981, cargo que exerceu até 1998, quando foi eleito presidente, sucedendo ao brasileiro João Havelange.

Foi justamente ao redistribuir com generosidade o dinheiro arrecadado às federações que o suíço conseguiu apoios importantes para se reeleger três vezes, e é o favorito para buscar o quinto mandato.

"Quando era secretário-geral de João Havelange, Blatter aproveitou o fato de o brasileiro viajar muito para dirigir de fato da Fifa. Quando virou presidente, já tinha todas as chaves", explica uma fonte próxima da presidência da Fifa.



- Faturamento de US$ 5,7 bi -Em março do ano passado, a Fifa anunciou um lucro recorde de 338 milhões de dólares no período 2011/2014, com faturamento de US$ 5,7 bilhões, boa parte graças a arrecadação da Copa do Mundo de 2014, no Brasil.

Essas cifras astronômicas se devem a um aumento significativo dos direitos de TV e marketing.

Graças a esta verba, comparável apenas à do Comitê Olímpico Internacional (COI) no mundo do esporte, a Fifa conseguiu bancar o comitê organizador do último Mundial com 453 milhões de dólares.

A entidade garante que 72% do dinheiro é "reinvestido diretamente no futebol". Foram gastos entre 2011 e 2014 mais de um bilhão de dólares em programas de desenvolvimento do futebol, sendo que cada uma das 209 federações filiadas recebeu uma parte.

- Mediação internacional -"No início, Blatter era criticado porque não tínhamos caixa, agora é criticado porque o caixa é alto", reclamou recentemente o diretor de finanças da Fifa, Markus Kattner.

No Brasil, como na África do Sul quatro anos antes, foi criado um fundo de 100 milhões de dólares para "garantir a herança" da Copa.

Cerca de 60% foi reinvestido em infraestruturas para categorias de base e 15% para o futebol feminino.

Por mais que seja transparente em relação às suas despesas, a Fifa costuma ocultar a remuneração dos seus dirigentes.

Ao contrário do COI, que divulgou o salário do presidente Thomas Bach, a renda de Blatter continua sendo um mistério. "Simplesmente porque, como não somos cotados na bolsa de valores, não somos obrigados", justificou Kattner.

Com o poder financeiro e a influência do futebol no mundo, Blatter tenta se impor como mediador internacional, sendo que a Fifa tem mais membros que a ONU (209 contra 193).

Na semana passada, o suíço viajou ao Oriente Médio para tentar colocar panos quentes na polêmica que surgiu como efeito colateral do conflito entre Israel e Palestina.

Membro desde 1998, a Federação palestina pede a exclusão de Israel de competições internacionais por "comportamento racista contra os árabes", principalmente no que diz respeito ao deslocamento de atletas.

O presidente da Fifa se reuniu o primeiro-ministro da Israel, Benjamin Netanyahu, e em seguida com o presidente palestino, Mahmud Abbas, mas não foi suficiente.

A Palestina decidiu manter a votação de uma resolução pedindo o banimento de Israel na pauta do congresso da entidade, na sexta-feira, dia em que Blatter tentará ser eleito, apesar dos escândalos em série.

Sua serenidade foi abalada por um verdadeiro terremoto na manhã desta quarta-feira, com a detenção de sete altos dirigentes da Fifa a pedido da justiça americana, por suspeitas de corrupção.