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Marin e mais seis dirigentes da Fifa detidos a dois dias da eleição

27/05/2015 10h13

Zurique, Suíça, 27 Mai 2015 (AFP) - Um terremoto sacudiu a Fifa nesta quarta-feira com a detenção em Zurique, a pedido das autoridades americanas, de sete dirigentes suspeitos de corrupção, incluindo o ex-presidente da CBF José Maria Marin, a dois dias da eleição para a presidência, na qual Joseph Blatter tentará o quinto mandato.

A votação de sexta-feira está mantida no programa previsto, assim como o 65º Congresso da entidade, confirmou a Fifa, que afirmou se considerar "vítima" no escândalo e anunciou oferecer "colaboração plena" às autoridades como "parte prejudicada".

Segundo as autoridades suíças, os sete dirigentes, cinco latino-americanos e dois britânicos, originários das Ilhas Cayman, são suspeitos de terem recebido subornos de vários milhões de dólares a partir dos anos 1990.

Além de Marin, ex-presidente da CBF e que é integrante do comitê de organização da Fifa para os Jogos Olímpicos, os demais detidos são: Jeffrey Webb (Grã-Bretanha), vice-presidente da Fifa e presidente da Concacaf, Eduardo Li (Costa Rica), membro dos comitês executivos da Fifa e da Concacaf, Julio Rocha (Nicarágua), diretor de desenvolvimento na Fifa, Costas Takkas (Grã-Bretanha), adjunto do gabinete do presidente da Concacaf, Eugenio Figueredo (Uruguai), atual vice-presidente da Fifa, e Rafael Esquivel (Venezuela), membro executivo da Conmebol.

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos indiciou por corrupção nove membros da Fifa e cinco executivos de marketing esportivo por atos ocorridos nos últimos 24 anos.

Segundo o jornal New York Times, que divulgou as primeiras informações, um dos acusados seria o paraguaio Nicolás Leoz, ex-presidente da Confederação Sul-Americana (Conmebol).

As acusações também envolvem Alejandro Burzaco, da empresa 'Torneos y Competencias', e Aaron Davidson, presidente da empresa Traffic Sports USA, assim como Hugo e Mariano Jinkis, diretores do Full Play Group.

A sede da Concacaf (Confederação de Futebol para América do Norte, Central e Caribe), que fica em Miami, foi revistada como parte do mesmo processo, segundo o Departamento de Justiça.

A investigação "se estende pelo menos ao longo de duas gerações de dirigentes de futebol, suspeitos de abuso de suas posições para obter milhões de dólares em subornos e comissões", afirma um comunicado da secretária de Justiça, Loretta Lynch.

Ao mesmo tempo, a Promotoria da Suíça apreendeu documentos eletrônicos na sede da Fifa, em uma investigação penal por suspeitas de "lavagem de dinheiro e gestão desleal" relacionadas à escolha das sedes das Copas do Mundo de 2018 e 2022.

"Os enriquecimentos ilegítimos teriam acontecido ao menos em parte na Suíça", afirma o ministério da Justiça.

- Pedido de extradição -"Representantes de meios esportivos e de empresas de marketing esportivo estariam envolvidos em pagamentos a altos funcionários de organizações do futebol (delegados da Fifa e outras pessoas de entidades afiliadas à Fifa), em troca de direitos de transmissão e direitos de marketing de competições organizadas nos Estados Unidos e na América do Sul", completa a nota do ministério, que informou atuar a pedido da promotoria do distrito leste de Nova York.

"Segundo o pedido de detenção americano, o acordo a respeito dos atos teria sido concluído nos Estados Unidos, onde também aconteceram os preparativos. Os pagamentos teriam transitado por bancos americanos", afirma o comunicado suíço.

Os suspeitos detidos são objeto de uma demanda de extradição americana e serão interrogados pela polícia de Zurique.

Caso aceitem a extradição para os Estados Unidos, o procedimento será simplificado. No caso daqueles contrários, Washington terá um prazo de 40 dias para apresentar um pedido formal de extradição.

- "Um bom dia para a Fifa" -A Fifa afirmou que se considera "vítima" do caso e se mostrou convencida de que esta quarta-feira entrará para a história como "um bom dia" para a entidade.

"Isto é bom para a Fifa, para sua reputação e a para a limpeza. Não é um dia bonito, mas também é um bom dia, as coisas avançam, queremos respostas", disse o diretor de comunicação da entidade, Walter De Gregorio.

Ele insistiu em destacar que Blatter não está envolvido no caso. Também disse que a eleição para a presidência da Fifa acontecerá na sexta-feira, como estava previsto.

"Blatter está concentrado no congresso e está relativamente tranquilo", disse Walter De Gregorio.

Também ressaltou que as Copas do Mundo de 2018, na Rússia, e 2022, no Catar, não estão ameaçadas.

"Não", respondeu Gregorio de maneira taxativa ao ser questionado se existia a possibilidade de reabrir a questão das próximas sedes.

"O que esperam que digamos? Os Mundiais serão disputados na Rússia e no Catar", afirmou, antes de recordar que o presidente da Fifa, Joseph Blatter, confirmou em várias oportunidades que este é um assunto encerrado.

O caso explodiu a dois dias da eleição para a presidência da Fifa, na qual o suíço Joseph Blatter, que comanda a entidade desde 1998, buscará o quinto mandato.

Blatter, de 79 anos, é alvo de críticas pela fortuna acumulada pela Fifa, que registrou um volume de negócios de quase dois bilhões de euros em 2014, ano da Copa do Mundo do Brasil.

O príncipe jordaniano Ali bin al-Hussein, rival de Blatter na eleição de sexta-feira, afirmou que as detenções representam "um dia triste" para o futebol.

"Emergem detalhes, não seria apropriado fazer comentários no momento", afirma em um breve comunicado o jordaniano, que baseou sua campanha na tentativa de restaurar a integridade da Fifa, da qual é um dos vice-presidentes.

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