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Blatter ou príncipe Ali: Fifa elege presidente afundada no caos

29/05/2015 09h30

Zurique, Suíça, 29 Mai 2015 (AFP) - Joseph Blatter ou o príncipe jordaniano Ali bin al-Hussein: um dos dois será eleito nesta sexta-feira presidente da Federação Internacional de Futebol (Fifa) até 2019, em uma votação abalada pelo recente do escândalo de corrupção que explodiu na quarta-feira.

Apesar das detenções e acusações por parte da justiça americana de dirigentes do futebol, o 65º Congresso da Fifa abriu sua sessão desta sexta-feira com um discurso de Blatter, que não se esquivou de falar sobre a crise que a organização vive nos últimos dias pelas detenções de seus membros por supostos casos de corrupção.

"Os acontecimentos desta semana desenharam uma sombra. Vamos tentar apagar esta sombra, não podemos admitir que a reputação da Fifa seja arrastada para a lama", declarou Blatter, de 79 anos, presidente desde 1998, antes de acrescentar: "vamos cerrar fileiras para ir adiante".

"Faço um apelo ao nosso espírito de equipe e a nossa unidade de maneira que possamos avançar juntos. Isso não é necessariamente fácil, mas hoje nos reunimos para isso, para solucionar os problemas que existem", convidou.

Blatter deixou entender que o escândalo ocorreu por conta de uma frustração da Inglaterra e dos Estados Unidos, que perderam a disputa para sediar as Copas do Mundo de 2018 e 2022, vencidas por Rússia e Catar, respectivamente.

"Se no dia 2 de dezembro de 2010 outros dois países tivessem sido designados organizadores dos Mundiais de 2018 (Rússia) e 2022 (Catar), acredito que não estaríamos assim", disparou.

O Catar, por sua vez, garantiu ter "respeitado os mais altos padrões éticos" para obter a sede do Mundial.

De Londres, o primeiro-ministro britânico James Cameron disse que Blatter "precisa deixar o cargo".

Pouco depois do discurso do suíço, o congresso foi interrompido por duas manifestantes pró-palestinas que pediam a suspensão da Federação Israelense de Futebol e que foram rapidamente expulsas da sala.

Outro incidente ocorreu durante o intervalo para o almoço: um alerta de bomba.

O secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, confirmou que uma "chamada anônima avisando sobre a colocação de uma bomba" havia sido recebida.

"Avaliamos os riscos e decidimos com as autoridades locais rastrear a sala do Congresso durante a pausa para comer. Nada foi encontrado e o Congresso pôde prosseguir", acrescentou Valcke.

Blatter deseja ser reeleito para um quinto mandato, ao fim do qual somaria 21 anos à frente da organização, se aproximando dos 24 anos do brasileiro João Havelange (1974-1998) e dos 33 do francês Jules Rimet (1921-1954).

O suíço tenta lidar com a tempestade há dois dias, mas apesar de tudo parece ser favorito diante da jovem alternativa representada pelo príncipe jordaniano Ali bin Al-Hussein, de apenas 39 anos e um dos vice-presidentes da Fifa há quatro anos.

Os acontecimentos dos últimos dias podem mudar a tendência clara a favor de Blatter e dar alguma oportunidade ao jordaniano.

"Antes do que ocorreu esta semana, pode ser que não, mas agora, com o que aconteceu, acredito que Blatter pode ser derrotado", declarou na quinta-feira o presidente da União Europeia de Futebol (UEFA), Michel Platini, inimigo declarado do atual presidente da Fifa, a quem pediu que renunciasse.



- Apoios territoriais -

Entre os europeus, a maior parte deverá votar por Ali, com exceções de peso, como a Rússia, país organizador do Mundial-2018 e cujo presidente, Vladimir Putin, considerou que a ação judicial americana desta semana tinha por objetivo evitar a reeleição de Blatter e dificultar a Copa do Mundo na Rússia.

Os Estados Unidos, ainda irritados por não terem obtido a sede do Mundial-2022, anunciaram que votarão por Ali. Assim tuitou o presidente da federação, Sunil Gulati, e seu colega canadense, Victor Montagliano, fará o mesmo.

A África é o continente com mais votos (54) e a princípio será, em sua maior parte, fiel a Blatter, artífice do primeiro Mundial organizado no continente, na África do Sul em 2010.

A Ásia conta com 46 votos e é o continente do príncipe Ali, que é jordaniano, mas não controla a Confederação Asiática de Futebol (AFC), cujo presidente é próximo a Blatter.

A CONCACAF (América do Norte, Central e Caribe), que tem 35 votos, enfrenta esta votação com a cabeça em outro lugar, depois que entre os sete detidos de quarta-feira na Suíça estavam seu presidente, Jeffrey Webb, e o costarriquenho Eduado Li, membro do Comitê Executivo de sua Confederação.

Tanto Webb quanto Li foram expulsos na quinta-feira de uma organização que agora é comandada pelo hondurenho Alfredo Hawit.

A Oceania, com 11 votos, e a América do Sul, com 10, são os que têm menos peso numérico na votação, que será realizada com cédulas e voto secreto.



- Questão de imagem -

A pressão que a Fifa recebe nos últimos dias é medida nas manchetes sobre o caso, nos minutos de televisão e nas indignações nas redes sociais.

A política não esteve à margem e, além das palavras de Putin, outros países aproveitaram para criticar Blatter. O governo britânico deseja que ele seja substituído à frente da Fifa, enquanto o francês defendeu o adiamento da eleição.

A Organização das Nações Unidas (ONU) declarou, por sua vez, que revisará os acordos que tem com a Fifa e o ex-presidente da África do Sul Thabo Mbeki desmentiu que tenham sido pagos subornos para conseguir a sede do Mundial-2010.

A pressão dos patrocinadores também prossegue, assim como a de milhões de torcedores que esperam que os problemas da Fifa não prejudiquem a imagem do esporte. À lista de marcas (Visa, McDonald's, Coca Cola, Nike, Adidas, Budweiser) que mostraram sua preocupação se somou nesta sexta-feira a sul-coreana Hyundai.