Topo

Brasil busca mostrar seu valor sem Neymar

06/10/2015 16h29

São Paulo, 6 Out 2015 (AFP) - Entre os dois últimos pesadelos vividos pela seleção brasileira, o vexame contra a Alemanha na Copa do Mundo e a eliminação para o Paraguai na Copa América, passaram-se 344 dias, um técnico, muitas explicações e uma mesma ausência, a da craque Neymar, que não estará em campo na estreia nas eliminatórias.

A seleção inicia, contra o Chile e sem seu capitão, suspenso, a campanha por uma vaga na Copa do Mundo da Rússia-2018. Um caminho que nunca foi tranquilo e pelo qual o Brasil dará os primeiros passos repleto de dúvidas, sem o apoio irrestrito de seus torcedores.

Neymar ainda precisa cumprir metade da suspensão de quatro jogos que sofreu na Copa América, ao ser expulso por brigar em campo na derrota por 1 a 0 para a Colômbia, e também não poderá jogar contra a Venezuela, na próxima terça-feira em Fortaleza.

De nada serviu seu arrependimento há alguns dias em Barcelona -"Não devo me deixar levar por coisas bobas", admitiu-, nem a espera até o último minuto da seleção. O Tribunal Arbitral do Esporte (TAS) comunicou na sexta-feira que não aceitou o recurso da CBF para adiar a punição.

Em uma geração marcada pelos fracassos com a seleção e que expôs ao mundo os imensos problemas na base do futebol brasileiro, que prioriza a exportação e venda de jovens talentos a uma formação nos valores com os quais o país escreveu parte da história do esporte, Neymar e sua irreverência com a bola no pé representam o último vestígio do famoso 'jogo bonito'.

- Vazio profundo -Desde que o então magriço atacante do Santos, com seu famoso cabelo 'moicano', estreou aos 18 anos pela seleção, em 10 de agosto de 2010, num amistoso contra os Estados Unidos, Neymar disputou 67 jogos com a camisa do Brasil, marcando 46 gols e ficando de fora de apenas quatro jogos oficiais.

Essas ausências, contudo, deixaram um saldo preocupante para o Brasil: três doloridas derrotas (7-1 para a Alemanha na semifinal da Copa do Mundo, 3 a 0 para a Holanda na disputa do 3º lugar e a eliminação nos pênaltis para o Paraguai, em junho) e apenas uma vitória, por 2 a 1 sobre a Venezuela.

Não é de se estranhar que Dunga tenha pedido um esforço da torcida e da própria equipe para que a atenção se centre nos jogadores que estarão em campo contra o Chile e contra a Venezuela, nesta quinta e na próxima terça-feira.

"Gostaríamos de contar com Neymar, mas não é possível. Temos que focar nos jogadores que vão contribuir", pediu Dunga ao anunciar a lista de convocados para as duas primeiras partidas das eliminatórias, em 17 de setembro.

Apesar do pedido, o atacante do Bayern de Munique Douglas Costa, que substituirá Neymar na ponta esquerda da seleção, tem uma missão quase impossível pela frente.

- Neymar querido -Foi o próprio Dunga que decidiu basear seu segundo projeto à frente da seleção brasileira em Neymar, seu jogador mais talentoso.

Quando assumiu a missão de reconstruir uma seleção em ruínas, nove dias depois da Alemanha conquistar a Copa do Mundo no Maracanã, o técnico não tardou em pedir a Neymar que assumisse um papel ainda maior na equipe.

O atacante, que iniciava a temporada mais gloriosa de sua carreira, na qual conquistaria a 'tríplice coroa' com o Barcelona, aceitou a braçadeira de capitão que, até então, pertencia ao zagueiro Thiago Silva, uma das caras do fracasso brasileiro no Mundial.

Neymar respondeu com futebol.

O impecável currículo que o Brasil de Dunga apresentou ao desembarcar no Chile para a Copa América, com 10 vitórias em 10 amistosos, foi redigido em sua maior parte pelo craque do time, autor de 8 dos 21 gols da equipe.

Naquele momento, ninguém imaginava que o brilhante companheiro de Messi e Luis Suárez no temido tridente do Barcelona perderia a cabeça, após a derrota para a Colômbia, encarando os adversários e o árbitro como uma criança mimada.

Apesar do momento de imaturidade, dos crescentes problemas legais com as Receitas Federais brasileira e espanhola pela transferência do Santos para o Barcelona, ou do turbulento começo de temporada na equipe espanhola, Neymar segue sendo a grande esperança dos torcedores brasileiros.

Mesmo se não terá Neymar neste início de eliminatórias, que prometem ser as mais difíceis dos últimos tempos, o Brasil já conta os dias para a chegada da segunda semana de novembro, quando o atacante voltará ao time a tempo de encarar o maior desafio no caminho rumo à Rússia-2018: a Argentina em Buenos Aires.