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Na mira da Comissão de Ética da Fifa, Blatter nega suspensão

07/10/2015 17h33

Lausana, Suíça, 7 Out 2015 (AFP) - Sob pressão cada vez mais intensa em meio ao mega-escândalo de corrupção que abala a Fifa, o presidente demissionário Joseph Blatter vê seu destino nas mãos da Comissão de Ética da entidade, enquanto seus advogados negam relatos da imprensa britânica de que o cartola tenha sido suspenso por 90 dias.

"Publicamos este comunicado em resposta a informações divulgadas na imprensa sobre a Comissão de Ética da Fifa. O presidente Blatter não foi notificado de nenhuma ação tomada contra ele", explicaram o advogado suíço Lorenz Erni e o americano Richard Cullen em nota oficial conjunta.

Eles alegam que Blatter ainda não foi ouvido pelas instâncias disciplinares da entidade, o que impediria a tomada de qualquer decisão oficial.

"Nossa expectativa é que a Comissão de Ética queira ouvir o presidente e seus advogados, para comprovar as evidências antes de emitir qualquer recomendação e tomar uma ação disciplinar", completou o comunicado.

Vários veículos britânicos, entre eles Sky News e o jornal The Guardian, haviam publicado pouco antes que a Comissão de Ética da Fifa tinha recomendado a suspensão provisória por 90 dias de Blatter, que é alvo de uma investigação penal na Suíça.

- Fifa tenta minar ex-conselheiro -Pouco antes da divulgação do comunicado dos advogados, um colaborador próximo de Blatter já tinha afirmado à AFP que o dirigente não foi informado sobre tal punição.

"Eu estava com o presidente Blatter há trinta minutos, e nenhuma informação desse tipo nos foi comunicada", explicou esta fonte.

Solicitados pela AFP, os porta-vozes da Fifa, da câmara de instrução e da câmara de julgamento da Comissão de Ética se recusaram a fazer qualquer comentário.

Os veículos britânicos citaram como fonte Klaus Stoehlker, apresentado como um conselheiro próximo do cartola.

No dia 15 de junho, a Fifa negou qualquer legitimidade deste ex-conselheiro de Blatter, ao alegar que ele deixou suas funções no dia 31 de maio.

A entidade fez isso na época para negar afirmações de Stoehlker de que o suíço pretende se manter à frente da Fifa depois do dia 26 de fevereiro de 2016, se nenhum "candidato convincente" entrar na disputa.

- Blatter diz que sai em fevereiro -Em entrevista publicada nesta quarta-feira na revista alemã Bunte, Blatter confirmou que deixará o cargo depois do congresso eletivo.

"Eu sairei em 26 de fevereiro. Depois terá terminado. Mas não acontecerá nem um dia antes", insistiu o dirigente.

"Vou lutar até 26 de fevereiro. Por mim, pela Fifa. Estou convencido de que do mal aparecerá a luz e que o bem vai prevalecer", completou Blatter.

A comissão de ética da Fifa está reunida desde segunda-feira em Zurique para avaliar os casos de Blatter, do francês Michel Platini, favorito à sua sucessão, e do sul-coreano Chung Mong-joon, outro candidato à presidência.

Esta reunião não tinha sido confirmada oficialmente pela Fifa até quarta-feira, mas o senegalês Abdoulaye Diop, membro da comissão, deixou a informação vazar, aparentemente sem o aval da entidade.

O próprio Chung anunciou nesta quarta-feira, num evento do qual participou em Londres, que pretende entrar com ação na justiça contra o suíço.

"Pretendo processar o senhor Blatter por desvio. Para resumir, o senhor Blatter é um hipócrita e um mentiroso", disparou o sul-coreano.

O bilionário de 63 anos, que já foi vice-presidente da Fifa e é membro da família proprietária da montadora Hyundai, acusa Blatter de ter "bagunçado" as últimas eleições dentro das Confederações continentais.

Chung também disse que a comissão de ética atua como "matador de aluguel" para Blatter e não espera que nenhuma sanção seja tomada contra o suíço.

- Pressão dos patrocinadores -Na semana retrasada, a justiça suíça abriu uma investigação criminal contra Blatter, por "abuso de confiança" e "pagamento indevido" de dois milhões de francos suíços (1,8 milhão de euros) a Michel Platini, presidente da Uefa e favorito à sua sucessão.

A Procuradoria-Geral também suspeita que o suíço de 79 anos assinou "um contrato desfavorável para a Fifa" com a União Caribenha de Futebol (CFU), presidida por Jack Warner, na venda dos direitos de transmissão das Copas do Mundo de 2010 e 2014.

Por conta dessas acusações, Blatter enfrenta forte pressão para deixar o cargo antes da próxima eleição, inclusive por parte dos principais patrocinadores da Fifa, que pediram sua renúncia imediata na última sexta-feira.

O escândalo estourou no dia 27 de maio, com a prisão num hotel de luxo em Zurique de sete altos dirigentes da Fifa a pedido da justiça americana, entre eles o brasileiro José Maria Marin, ex-presidente da CBF.

Os cartolas estavam na Suíça para participar do congresso em que Blatter foi reeleito para um quinto mandato, no dia 29 de maio.

O suíço, porém, acabou colocando o cargo a disposição quatro dias depois. Mesmo assim, Blatter, que está à frente da Fifa desde 1998, pretende permanecer nas suas funções até o dia 26 de fevereiro, data marcada para a eleição do seu sucessor.

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