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Do desemprego ao Prêmio Puskas, o gol que mudou a vida de Wendell Lira

01/12/2015 21h22

São Paulo, 1 dez 2015 (AFP) - Quando Wendell Lira voou debaixo de chuva para acertar uma lindo voleio numa partida do Goianésia, em março, havia apenas 342 torcedores no estádio Serra Dourada para presenciar o golaço.

Nenhum deles imaginava que, oito meses depois, o desconhecido atacante de 26 anos iria competir com o craque argentino Lionel Messi pelo prêmio Puskas de gol mais bonito do ano.

A notícia veio com um grande susto. Na manhã de segunda-feira, Wendell saiu da sua casa, em Goiânia, quando um carro freou bruscamente e se aproximou dele.

O jogador chegou a pensar que seria assaltado, mas o motorista simplesmente desceu do veículo para pedir uma foto da nova celebridade da região.

Poucas horas antes, a Fifa tinha anunciado que a meia-bicicleta espetacular de Wendell entrou na final do prêmio Puskas, ao lado das pinturas de jogadores bem mais renomados, Messi e o italiano Florenzi, da Roma.

"Quando recebi a notícia, não acreditei. Mas aí minha esposa me ligou chorando, e comecei a chorar com ela. Foi muito emocionante", conta o atacante à AFP, ainda atordoado pela tormenta midiática que mudou para sempre sua vida.

Operário da bolaNo dia 11 de janeiro, o atleta revelado pelo Goiás viajará a Zurique para participar da badalada cerimônia de entrega dos prêmios da Fifa, ao lado de Neymar, finalista da Bola de Ouro com Messi e Cristiano Ronaldo.

Neymar, aliás, já levou o prêmio Puskas. Foi em 2011, pelo gol antológico que marcou com o Santos, na derrota por 4 a 3 para o Flamengo.

"Quero muito conhecer Neymar, porque é um ídolo brasileiro, mas também adoraria cumprimentar Cristiano Ronaldo. Adoro a forma como joga, é um fenômeno", avisa Wendell

O conto de fadas começou no dia 6 de novembro, quando soube que seu gol foi indicado entre os dez mais bonitos do ano pela Fifa.

Naquele momento, o atacante estava desempregado. Em março, quando anotou o golaço na vitória por 2 a 1 sobre o Atlético Goianiense, pelo Campeonato Goiano, ele ganhava 5.000 reais.

Depois da eliminação do Goianésia nas semifinais do Goianão, o atleta foi jogar do Tombense, na Série C, mas não vingou e acabou dispensado.

Sem clube, ele passou pelo mesmo aperto de milhares de outros 'operários da bola'. O movimento Bom Senso FC calcula que 20.000 jogadores profissionais ficam desempregados em maio, quando terminam os campeonato estaduais.

"A vida dos jogadores que não jogam na Série A é muito complicada. Passamos por muitas dificuldades, muitos vezes não recebemos salários e temos que continuar lutando para manter a nossa família", relata Wendell, que em 2013 precisou exercer outras atividades para pagar suas contas.

Campanha na InternetA fama repentina acabou tirando o atacante do desemprego. Ele acertou com outro time goiano, o Vila Nova, campeão da Série C, que disputará a segundona no ano que vem.

"O gol mudou minha vida. As pessoas me reconhecem, querem tirar fotos comigo, pedem autógrafos. Uma loucura. Recebi até ofertas de outros clubes, mas agora, graças a Deus, já tenho meu emprego", se emociona o atleta.

Wendell ainda não sabe explicar como seu gol viajou quase 10.000 quilômetros, de Goiânia a Zurique, para chamar a atenção da Fifa.

Eleito pelo internautas entre os três finalistas, ele precisa de mais cliques para tentar suceder ao colombiano James Rodríguez, que ganhou o prêmio Puskas no ano passado.

O brasileiro sabe que terá que enfrentar uma concorrência feroz. "Messi é um gênio da bola. Tudo que faz tem um toque de genialidade. Com certeza é o grande favorito para ganhar o troféu, mas se depender de mim, não terá vida fácil", brinca.

O argentino tem quatro Bolas de Ouro e quatro Ligas dos Campeões no currículo, mas tem uma coisa em comum com Wendell: nunca venceu o prêmio do gol mais bonito do ano.