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Imprensa britânica denuncia manipulação de resultados em torneios ATP

18/01/2016 11h56

Londres, 18 Jan 2016 (AFP) - Dezesseis jogadores que apareceram na última década entre os 50 melhores tenistas do ranking mundial podem ter manipulado os resultados de partidas, incluindo vencedores de torneios de Grand Slam, denuncia a imprensa britânica.

"Durante a última década, 16 jogadores do Top 50 mundial foram apontados ao comitê de ética do tênis por suspeitas sobre a manipulação de suas partidas", informa a BBC.

De acordo com a emissora, "todos os jogadores, entre eles vencedores de torneios de Grand Slam, foram autorizados a prosseguir com suas carreiras".

A BBC e o site BuzzFeed News, que não citam o nome de nenhum atleta, afirmam que tiveram acesso a arquivos secretos e a provas de uma corrupção em grande escala no mundo do tênis.

Os documentos estão vinculados a uma investigação da ATP, a entidade que dirige o circuito profissional, em 2007, que revela que apostadores na Rússia e na Itália gastavam centenas de milhares de dólares em partidas que consideravam manipuladas, três delas em Wimbledon.

"O relatório confidencial dos investigadores destinado ao comitê de ética, com data de 2008, sugere que se investigue 28 jogadores, mas isto nunca aconteceu", afirma a BBC.

As revelações foram divulgadas poucas horas antes do início do Aberto da Austrália, primeiro torneio de Grand Slam da temporada. De acordo com a imprensa britânica, oito tenistas incriminados, mas que não receberam punição da ATP, estão no torneio disputado em Melbourne.

Segundo um dos investigadores, Mark Phillips, um grupo de quase 10 jogadores "estava na origem do problema".

"As evidências eram fortes, existia uma boa oportunidade para acabar (com a corrupção) na raiz, de criar uma forte dissuasão e eliminar os elementos corruptores", disse.

Os representantes das máfias das apostas entravam em contato com os tenistas em seus quartos de hotel durante os grandes torneios, com promessas de 50.000 dólares ou mais como recompensa, segundo o BuzzFeed.

Em Melbourne, o presidente da ATP, Chris Kermode, negou qualquer tentativa de acobertar o tema.

"As autoridades do tênis rejeitam qualquer acusação de que teriam escondido provas de manipulação de resultados ou de que não teria sido completamente investigada", disse.

"Nossa posição é de tolerância zero com qualquer forma de corrupção. Não somos indulgentes, estamos vigilantes", completou.

Ao falar sobre a investigação de 2007, Kermode afirmou que os investigadores não apresentaram provas suficiente sobre uma partida suspeita entre o russo Nikolay Davydenko e o argentino Martín Vassallo Argüello.

"Precisamos de provas e não de suspeitas ou boatos", declarou o presidente da ATP, que recordou 18 punições por corrupção, incluindo seis casos de banimento do esporte.

Em 2009, a ATP estabeleceu regras de combate à corrupção, mas estas não permitem investigar delitos cometidos antes de sua entrada em vigor.

Djokovic e Federer comentam acusaçõesApós as acusações da BBC e do BuzzFeed sacudirem o primeiro dia de disputa do Aberto da Austrália, duas das maiores estrelas do circuito, o suíço Roger Federer e o sérvio Novak Djokovic, falaram sobre o caso e mostraram opiniões opostas.

Djokovic revelou ter sido alvo de uma tentativa de chantagem em 2007, quando recebeu um pedido para que perdesse uma partida propositalmente no torneio de São Petersburgo, na Rússia.

"Fui abordado indiretamente por um intermediário de pessoas que trabalhavam comigo na época. É claro que dissemos não imediatamente. A pessoa que estava tentando me contactar sequer chegou até mim", lembrou o atual número 1 do mundo, que pediu cautela ao acusar jogadores do circuito.

"As pessoas não sabem de quem se trata e não há provas envolvendo jogadores em atividade. Enquanto isso permanecer assim, serão apenas especulações", declarou, após a vitória nesta segunda-feira sobre o coreano Chung Hyeon, na estreia no Aberto da Austrália.

Para o sérvio a imagem do tênis não foi afetada pelas denúncias de corrupção. "Não acredito que isso projete uma sombra sobre nosso esporte. É claro que não há lugar para trapaça ou corrupção no nosso esporte. Tentamos mantê-lo o mais limpo possível", concluiu, afirmando que as autoridades do tênis vêm aperfeiçoando os métodos de luta contra a corrupção.

Federer, lenda viva do tênis, se mostrou mais cético que o colega sérvio, afirmando já ter ouvido essas denúncias no passado.

"Não sei exatamente se há algo de novo nesse caso. Ouvi dizer que velhos nomes voltaram à tona. Este caso já foi investigado", declarou o suíço, sem explicar a que caso se referia.

Ao ser perguntado sobre a possibilidade de jogadores vencedores de Grand Slam também fazerem parte do esquema de manipulação de resultados, Federer se mostrou mais impaciente.

"Quem? É fácil falar isso. Eu gostaria de ouvir alguns nomes, pelo menos assim seria algo concreto e que permitiria o debate. Não faz sentido dar uma resposta que seria apenas especulação", respondeu.

Ao contrário de Djokovic, Federer, recordista de Grand Slam (17) na história do tênis, afirmou nunca ter sido contactado para manipular um resultado.

"Nunca falaram comigo. Nunca tinha ouvido falar disso até que um jogador abordou este tema numa reunião. Nem sabia que existia", disse o atual número 3 do mundo.

Para o suíço, o tema precisa ser abordado com seriedade: "É preciso ser muito agressivo, como com o doping. O tênis é interessante para o público se o público não souber o resultado, caso contrário não vale a pena ir ao estádio".