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Doping ameaça tirar Rússia dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos

22/07/2016 19h52

Moscou, 22 Jul 2016 (AFP) - A menos de 48 horas da decisão do Comitê Olímpico Internacional que pode resultar na exclusão total da Rússia dos Jogos do Rio, o país sofreu outro baque nesta sexta-feira, com a notícia de que também corre risco de perder os Jogos Paralímpicos, por causa das práticas de "doping endêmico".

O Comitê Paralímpico Internacional (CPI) iniciou um procedimento de suspensão contra o Comitê Paralímpico do país, com base nas revelações do relatório McLaren.

Divulgado na segunda-feira pela Agência Mundial Antidoping, o documento forneceu mais detalhes sobre o "sistema de doping de Estado" na Rússia, com ajuda "ativa" dos "mágicos" dos serviços segredos do Kremlin.

O CPI não mediu palavras, apontando a "cultura de doping endêmico no mais alto nível".

"Essa decisão não foi tomada de forma leviana. Depois de ter estudado o relatório McLaren, o CPI considera que o ambiente, no qual o esporte russo se encontra atualmente não permite que o Comitê Paralímpico russo tenha condições de cumprir suas obrigações como membro", explicou o presidente do CPI, Philip Craven.

Foi mais um duro golpe para o esporte russo, no dia seguinte da confirmação pelo Tribunal Arbitral do Esporte (TAS) da suspensão do atletismo do país de todas as competições internacionais.

Uma decisão que tirou de fato estrelas como a lenda viva do salto com vara Yelena Isinbayeva dos Jogos.

Segunda colocada do quadro de medalhas do atletismo nos Jogos de Londres, com 17 medalhas, oito delas de ouro, a Rússia só deve ter duas representantes no Engenhão, sem real chance de medalha.

A primeira exceção à regra é a saltadora em distância Darya Klishina, "repescada" pela Federação Internacional de Atletismo (IAAF) por treinar na Flórida, sendo submetida a exames mais rigorosos do que em seu país.

A outra é Yulia Stepanova, especialista dos 800 m, que revelou o esquema de doping generalizado em documentário do canal público alemão ARD e foi repescada a título de "delação premiada".

Refugiada na América do Norte, entre Estados Unidos e Canadá, ela é vista como uma traidora no seu país.

- 'Não há fumaça sem fogo' -A Rússia já perdeu sua principal fonte de medalhas, mas a situação ainda pode ficar muito pior no domingo, se o COI resolver estender a punição para todas as modalidades.

"O esporte russo não está a um passo, mas a poucos milímetros do abismo", resumiu nesta sexta-feira o jornal local Komsomolskaïa Pravda.

O relatório McLaren, mais um documento bombástico produzido por uma comissão independente da Wada, deixa claro que o esquema afetou nada menos do que 30 esportes.

Outro relatório desse tipo levou a IAAF a banir a Rússia do atletismo mundial, em novembro.

"Não há fumaça sem fogo", reconheceu Sergey Shubenkov, atual campeão mundial dos 110 m com barreiras, em entrevista ao jornal Sport-Express. Mesmo assim, o atleta de 25 anos ainda acha que a punição é um mero "acerto de contas" entre instâncias esportivas.

Na Rússia, muitos concordam com o ponto de vista do ministro dos Esportes Vitali Mutko, diretamente acusado no relatório, que considera a decisão do TAS "política".

"O problema do doping existe em muitos países. Por que a Rússia é o único bode expiatório do COI?", indagou em entrevista à AFP o presidente da Federação russa de Pentatlo Moderno, Viatcheslav Aminov.

"O COI precisa tomar uma decisão que condiz com os ideais olímpicos. Se a Rússia não participar dos Jogos, a competição não será igualitária", opinou.

- Putin coloca panos quentes -Até Mikhail Gorbatchev entrou no debate. Em carta enviada ao presidente do COI, Thomas Bach, o último chefe de Estado soviético manifestou sua "grande tristeza" com a situação e considerou "inaceitável o princípio de punição coletiva".

"Consideramos que os atletas que não tenham sido atingidos por suspeitas (de doping), que não tenham sido declarados (dopados), ou que não sejam alvo de qualquer acusação de doping devem ter o direito de participar dos Jogos Olímpicos", concordou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

O presidente Vladimir Putin preferiu colocar panos quentes, afirmando que o doping "não tem lugar na Rússia". Ele também anunciou a criação de uma comissão independente, com a participação de especialistas estrangeiros, para cuidar do problema.

Nem tudo está perdido para o esporte russo. Até mesmo se o COI resolver excluir o Comitê Olímpico Russo (ROC), as federações internacionais de cada modalidade ainda podem repescar os atletas que considerarem limpos.

O problema é que eles poderiam competir apenas como neutros, como deve ser o caso de Klishina e Stepanova.

Na noite de quinta-feira, a Federação Internacional de Judô já tinha deixado claro que iria apoiar atletas russos da modalidade que não foram citados em casos de doping.

Além disso, 14 agências nacionais antidoping enviaram uma carta conjunta ao COI, pedindo a punição coletiva para todo o esporte russo.

A decisão final deve sair no domingo (24) para os Jogos Olímpicos, e na primeira semana de agosto, para os Paralímpicos.

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