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Sonho do Top 10 olímpico esbarra na realidade econômica e esportiva do Brasil

26/07/2016 14h29

Rio de Janeiro, 26 Jul 2016 (AFP) - Quando o Rio de Janeiro foi escolhido para receber os Jogos Olímpicos, em 2009, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) enxergou a oportunidade de conquistas históricas, com uma meta ambiciosa: duplicar o total de 15 medalhas conquistadas um ano antes, em Pequim.

Depois de uma edição de Londres-2012 promissora, com 17 pódios, o objetivo é ficar entre as dez melhores nações do mundo, usando como critério o total de medalhas, sem dar prioridade aos ouros, como costuma ser feito.

Até porque, na capital inglesa, esse número deixou a desejar: foram três títulos olímpicos, contra cinco na edição histórica de Atenas-2004, para um total de dez medalhas.

Desde então, porém, o país enfrentou uma crise política e econômica que esfriou o entusiasmo popular pelo mega-evento e as expectativas de desempenho do Time Brasil. Desde o início de 2016, o país teve nada menos de três ministros do Esporte.

O ministro atual, Leonardo Picciani, já disse que o não cumprimento da meta não seria "o fim do mundo".

Mesmo assim, o COB continua confiante: "continuamos acreditando que é uma meta difícil. Não é fácil, mas é factível", afirmou na semana passada Marcus Vinícius Freire, diretor de Esportes da entidade, que avaliou entre 23 a 28 o total necessários para chegar ao top 10, um seleto grupo pelo qual o Brasil deve lutar com países como Holanda, Ucrânia, Itália ou Espanha.

Fator casaNo Rio, o Time Brasil terá a maior delegação da sua história, com 465 atletas, muito mais que o recorde anterior, quando foram levados 277 a Pequim, e foram investidos nada menos de 1 bilhão de reais na preparação dos atletas.

Geralmente, o país-sede sempre dá um salto de qualidade quando conta com o fator casa a seu favor.

O exemplo mais emblemático foi o da China, que pulou de 63 medalhas conquistadas em 2004, na Grécia, para 100 em Pequim -51 de ouro-, superando até os Estados Unidos para assumir a liderança do quadro, graças a investimentos astronômicos no esporte.

O início do ciclo olímpico foi promissor, mas Marcus Vinícius Freire tocou o "sinal de alerta", em fevereiro, ressaltando à AFP que 2015 foi um ano com resultados abaixo das expectativas, com 16 medalhas conquistadas em mundiais, o mesmo total do ano anterior aos Jogos de Londres.

O tradicional levantamento feito pela respeitadíssima revista americana Sports Illustrated, com projeções de medalhas em todas as modalidades, trás boas perspectivas para o Brasil, mas não necessariamente o suficiente para cumprir a meta.

A publicação prevê 19 medalhas brasileiras, seis delas de ouro, com as duplas de vôlei de praia Alison/Bruno Schmidt e Larissa/Talita, as seleção masculinas de vôlei de quadra e futebol, as duplas de canoístas Isaquias Queiros e Erlon Silva e das velejadoras Martine Grael e Kahena Kunze.

Judô, o carro-chefeModalidade que mais rendeu medalhas ao país na história, com 19 pódios, o judô do Brasil estará representado no tatame com uma delegação forte, principalmente no feminino.

Atual campeã olímpica da categoria até 48 kg, Sarah Menezes caiu de rendimento nesse ciclo olímpico, mas mostrou nos últimos meses que está voltando ao seu melhor nível para buscar o bi.

Mayra Aguiar (até 78 kg), bronze em Londres e campeã mundial em 2014, também tem tem tudo para brigar por uma medalha.

No vôlei, a seleção feminina, atual bicampeã olímpica, chega forte para disputar o tri, depois do título no Grand Prix, no início do mês, com vitórias expressivas sobre rivais históricas como Rússia ou Estados Unidos.

Os homens amargaram o vice-campeonato na Liga Mundial, título que escapa há seis anos, mas, como lembrou a Sports Illustraded, os comandados de Bernadinho são candidatos ao ouro, num panorama de muito equilíbrio entre as equipes. O fator casa promete ser decisivo, num Maracanãzinho que promete vibrar como nunca.

No futebol masculino, a CBF apostou todas as suas fichas na conquista do único título que falta à seleção pentacampeã mundial ao abrir mão de Neymar na Copa América do Centenário para poder convocá-lo para o torneio olímpico.

Os esportes coletivos também trazem perspectiva de medalha para o futebol feminino, liderado por Marta, ou para as mulheres do handebol, que se sagraram campeãs mundiais em 2013.

O basquete masculino, que não poderá contar com o pivô Tiago Splitter, corre por fora, por ter que enfrentar uma concorrência muito forte logo na primeira fase, com Espanha, Lituânia, Argentina, Croácia e Nigéria, sendo que quatro avançam para o mata-mata.

Candidatos a heróisNa natação, o principal baque é a ausência de César Cielo, que não conseguiu passar das seletivas. Mesmo assim, os 50 m nado livre, modalidade em que 'Cezão' conquistou o ouro em Pequim, terão um representante de peso: Bruno Fratus, que ficou na beira do pódio em Londres (4º).

Medalhista de prata nos 400 m medley na capital inglesa, Thiago Pereira quer brilhar em casa nos 200, e João Gomes Júnior é outra boa chance de medalha nos 100 m peito, assim como Ana Marcela Cunha, na maratona aquática.

Grande destaque individual dos Jogos de Londres, onde conquistou a primeira medalha do Brasil na ginástica artística, Artur Zanetti, atual campeão olímpico nas argolas, vai com tudo atrás o bi, mas terá um concorrente de peso, o grego Eleftherios Petrounias.

Outro candidato a herói olímpico é Isaquias Queiroz, que perdeu um rim na infância e lutará por três medalhas na canoagem de velocidade.

"Todo mundo diz que eu sou uma das maiores chances de o Brasil ganhar medalhas de ouro. Eu não vejo isso como pressão, mas como um incentivo. Isso me faz me sentir mais motivado, com mais vontade de treinar para ganhar três medalhas. Seria histórico para o Brasil", afirmou à AFP o baiano de 22 anos, que já conquistou três títulos mundiais.

A primeira medalha do Brasil pode vir no tiro esportivo, com Felipe Wu, líder na pistola de ar 10 m.

Maior medalhista da história do país, com 5 pódios (2 ouros e 3 pratas), o velejador Robert Scheidt também sonha em fazer história nas águas do Rio.

Qualquer que seja o resultado Marcus Vinício Freire se diz confiante: "Dormimos tranquilos, sabendo que foi a melhor preparação da nossa história", sentenciou.