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Chapecó se despede de vítimas de acidente aéreo

03/12/2016 16h46

Chapecó, Brasil, 3 dez 2016 (AFP) - Chapecó se uniu emocionada neste sábado para se despedir de seus jogadores de futebol mortos em um acidente aéreo em Medellín, no mesmo estádio onde a pequena cidade de Santa Catarina aprendeu a sonhar alto.

Ante os 50 caixões recebidos com honras militares, milhares de pessoas na Arena Condá cantaram o Hino Nacional e o da Chapecoense, e aplaudiram as vítimas da tragédia, em uma tarde em que a chuva não deu trégua.

O bispo de Chapecó leu uma mensagem do Papa Francisco, que se disse "consternado" com a tragédia, que comoveu o mundo inteiro.

No estádio, o estranho silêncio acompanhado de um fundo musical emotivo só era rompido pelos gritos de "Campeões, campeões!" e "Vamos, vamos Chape!".

"Todos nós somos chapecoenses", proclamou o diretor do clube, homenageando os "guerreiros" que viajavam para enfrentar o Atlético Nacional de Medellín na final da Copa Sul-americana.

"Queríamos eles de volta, mas não assim. A Chapecoense era como uma família, isso tudo é terrível", disse, em meio a lágrimas, Juliana Deuner, uma chapecoense de 35 anos.

"Vínhamos a todas as partidas, com chuva ou sol. Nosso sonho finalmente era real, estava tão próximo, não há explicação", disse, emocionado, à AFP Rui Alonso Thomas, um mecânico que acompanhou a passagem do cortejo com a filha de 10 anos.

"Estaremos sempre com vocês. Força, Chape!", proclamou o presidente da Fifa, Gianni Infantino, retomando o lema de toda a cidade.

No minuto de silêncio final, a ruidosa "torcida jovem", coração da Arena Condá, descansou seus tambores no gramado.

"Viemos porque a Chapecoense está no nosso coração, é nossa família. A chuva não nos deteve, porque tínhamos muita vontade de nos despedir", declarou Patricia Carraro, 32 anos, que foi à cerimônia acompanhada de sua família.

A Chapecoense foi fundada há 43 anos e, há cinco, lutava nas últimas divisões do futebol brasileiro. Sua ascensão surpreendente e brutal interrupção deixa dúvidas quanto a seu futuro.

A 38º e última rodada do Brasileirão, que seria disputada neste fim de semana, mas que foi adiada até o próximo por causa do acidente, previa um encontro entre Chapecoense e Atlético Mineiro.

O clube de Belo Horizonte anunciou que não se apresentará e que está disposto a sacrificar os três pontos e enfrentar as sanções, como um sinal de respeito às vítimas da tragédia.

O presidente Michel Temer participou da cerimônia, mas absteve-se de discursar.

Inicialmente, estava previsto que o presidente se limitaria a cumprimentar as famílias das vítimas no aeroporto, por medo de vaias. Algo que ele negou, dizendo que havia agido desta forma para facilitar o trabalho da segurança.

Tite, técnico da seleção, foi copiosamente aplaudido a ser anunciada sua presença.

Agradecimentos"Somos todos chapecoenses e, também, colombianos", declarou o clube, expressando o agradecimento geral pelo apoio logístico, médico e humano recebido no país onde o avião se acidentou.

O prefeito de Chapecó, Luciano Buligon, pronunciou seu discurso vestindo a camisa do Atlético Nacional.

O técnico do clube de Medellín, Reinaldo Rueda, viajou até Chapecó e foi ovacionado pelas arquibancadas, nas quais se destacavam várias bandeiras colombianas.

A chuva não desanimou as cerca de 100.000 pessoas que se instalaram nos arredores do estádio, procedentes de diversos pontos da região.

A multidão acompanhou o velório do lado de fora do estádio, através de telões, já que as arquibancadas da Arena Condá têm capacidade para apenas 19.000 pessoas.

Nas tendas erguidas com estruturas metálicas na grama do estádio só puderam entrar 2.000 pessoas, entre familiares e parentes dos falecidos.

A tragédia abalou o mundo do esporte, que multiplicava suas homenagens. Na Espanha, Neymar chegou ao estádio do Barcelona, antes do clássico com o Real Madrid levando sobre seu ombro esquerdo a camisa verde da Chapecoense.

A grande maioria dos 71 falecidos no acidente serão velados no estádio. Os outros eram tripulantes do avião ou jornalistas de grandes meios de comunicação que fretaram voos para transferir os corpos, indicou à AFP um porta-voz da FAB.

Após a cerimônia, as famílias poderão levar os mortos para seus locais de origem, já que a maioria do plantel era de fora de Chapecó.

O acidente ocorreu na noite de segunda-feira, quando o avião que transportava a equipe da Chapecoense, que iria disputar o jogo de ida da final da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional, da Colômbia, caiu perto de Medellín.

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