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De Ronda Rousey a Ana Maria Braga! Campeã Amanda Nunes faz planos para 2016

29/07/2016 10h00

Amanda Nunes pode se tornar a primeira brasileira campeã do UFC, assim como a primeira homossexual assumida a afivelar o cinturão do maior evento de MMA do mundo, Basta

Amanda Nunes se tornou a primeira brasileira campeã do UFC – Diego Ribas

Depois de encabeçar o histórico show do UFC 200 e garantir para o Brasil o inédito cinturão peso-galo (61 kg) feminino, Amanda Nunes descobriu talvez o lado mais difícil de uma campeã: a séria de compromissos com imprensa, patrocinadores e aparições midiáticas. Não que se trancar no octógono com outra lutadora também de alto nível seja mais fácil do que isso, mas ao menos para chegar lá as atletas se preparam por anos a fio. Mas na hora de passar dias e por vezes semanas em função do trabalho midiático, são poucas que aguentam.

“Nem espanhol eu falo . Eu também falei com um cara da China”, se divertia Amanda por telefone ao narrar a quantidade de entrevistas para jornalistas de diversos países que lhe tomou a agenda instantaneamente desde a sua conquista no último dia 9 de julho. Rotina essa que, a depender da disposição da baiana de 28 anos em permanecer como número um do mundo, deve durar bastante tempo.

Isso graças ao otimismo que sempre lhe acompanhou, desde os tempos de iniciante. Confiante que a vitória e o título seriam seus, a lutadora iniciou não apenas sua preparação física e tática, mas também psicológica. Afinal, a grandiosidade do evento por si só já garantiria a procura midiática que agora ela enfrenta.

“Eu já sabia que o fato do UFC ser tão grande, e pelo show que lutei ser histórico, que eu deveria estar preparada. Só estava esperando. Antes da luta, fui uma vez no psicólogo, mas eu já estava fazendo um trabalho comigo mesma. Fiz umas pesquisas sobre como fortalecer a mente, e fiz muitos exercícios para ficar fria. Tanto que nesse camp eu fui apenas uma vez e na verdade para ver se o que eu estava fazendo estava correto. E ele me disse: ‘Keep going’ . Não precisei mais ir lá”, narrou com aquela que seria a primeira de uma séria de misturas entre o seu idioma nativo com o inglês que aprendeu após morar nos EUA, país que reside desde 2011.

Após a mudança para a América do Norte, Amanda adotou o hábito de visitar seus parentes no interior da Bahia sempre que conseguia uma folga entre treinos e combates. Desta vez, com passagem marcada para este domingo (31), a atleta reencontrará sua ‘mainha’ após um ano e meio longe, período maior do que o habitual graças a uma promessa feita por ela própria. “Eu disse para ela que só voltaria com o cinturão. Demorou apenas um ano e meio, foi mais rápido do que eu pensei. E agora estou voltando com ele”.

Além de matar a saudade, a ‘Leoa’ aproveitará para se reaproximar do passado cada vez mais distante. A infância limitada e sem luxo, como ela mesma relata, deu lugar a um padrão de vida inimaginável para aquela criança que cresceu com o sonho de se tornar jogadora de futebol. E no compromisso marcado para este sábado, quando atenderá os jornalistas presentes no UFC 201, em Atlanta, Amanda terá seu último obstáculo profissional antes da viagem que, como ficou claro pela conversa de 40 minutos com a reportagem da Ag. Fight, não sai de sua cabeça.

“Eu ainda não recebi a minha agenda no Brasil. Mas adoraria tomar um café da manhã com a Ana Maria Braga, de quem eu sou muito fã, ou ir no Encontro com a Fátima Bernardes. Seria demais. Ou até mesmo se desse para ir no Faustão… Mas depois dos compromissos oficiais? Acho que vou jogar bingo e assar milho com a minha família. A gente vira a noite dando risada e jogando bingo. A cartela custa um real e quem vencer leva tudo ”, narrou com a simplicidade que lhe é peculiar.

Futuro audacioso

Se a agenda está lotada até meados de agosto, a campeã já tem uma meta clara em sua mente: retornar ao estado americano da Flórida para voltar aos treinamentos na equipe America Top Team e defender seu cinturão ainda este ano. O objetivo audacioso de Amanda faz lembrar um ‘Grand Slam’, termo usado em esportes americanos como beisebol, que nada mais é do que, adaptado para a realidade da lutadora, uma temporada perfeita.

Afinal, a campeã dos galos abriu o ano vencendo Valentina Shevchenko no UFC 196, evento que, por ser encabeçado por Conor McGregor, se tornou até o momento o segundo maior do ano e foi superado apenas pelo card de número 200, justamente quando a brasileira bateu Miesha Tate na luta principal e garantiu o título. E para fechar com chave de ouro, porque não sonhar alto?

“É claro que agora estou visando uma luta grande. Tem que ser a Ronda Rousey, ela tem que voltar. Ela não teve a chance de revanche, sei que ela está voltando e o UFC bota ela direto. Se ela falar para o UFC que quer, amanhã ela luta pelo cinturão. Essa é uma luta que os fãs estão esperando. Espero que ela volte, estou muito interessada nessa luta. E, claro, seria perfeito se fosse em Nova York”, afirmou mirando no show de estreia da organização na cidade que tem data marcada para o dia 12 de novembro.

Infância agitada

Em um breve apanhado de todos os brasileiros que foram campeões do UFC, de Anderson Silva a José Aldo, passando por Junior ‘Cigano’ e Renan ‘Barão’, são poucos os que não caem na estatística de que o esporte em algum momento se tornou a única opção para vencer na vida e driblar a infância humilde. E Amanda, metade por vocação e metade por insistência, também faz parte deste grupo.

“Hiperativa desde criança”, a hoje lutadora tinha dificuldade de concentração, o que rapidamente se refletiu nos resultados em suas provas nos colégios. Mas ao mesmo tempo, o excesso de energia se tornou o combustível necessário para que a baiana se aplicasse de corpo e alma em modalidades esportivas.

“Eu tinha problema, mas ninguém sabia. Tinha problema em me concentrar no colégio. Não conseguia ficar sentada, tinha que conversar e chamar a atenção dos meus amigos. Não conseguia manter atenção no professor. Tinha problema mesmo, era muito hiperativa. A única coisa que ma chamava atenção era quando eu jogava futebol. Até hoje eu ainda jogo bola . Mas era quando eu focava em algo mesmo, desde os meus cinco anos. Falava que não precisava estudar. ‘Eu vou ser atleta e vou embora daqui. Um dia a senhora vai ficar com saudade de mim’, falava para a minha mãe. Eu fingia que ia para o colégio, mas ia jogar bola e voltava na hora que a aula acabava. Sei que não é bom isso, mas foi a minha vida. Não vou mentir e esconder isso quando eu tiver meu filhos”, revelou.

O estilo inquieto marcou sua infância, de todas as formas. Valente no campo de futebol, bagunceira no colégio e encrenqueira nas ruas, Amanda era um terror para sua mãe. Com confusões constantes, ela terminou por ver nos castigos parte de sua rotina. E, apesar de tanto apanhar, a Leoa garante que nãos e arrepende.

“Eu tinha umas brigas na rua também. Minha mãe mandava eu buscar o melhor cipó para ela me bater.’Se eu buscar você vai apanhar duas vezes’. Eu apanhava todos os dias . Mas eu aprontava mesmo e a mainha era durona, sempre foi disciplinadora. Eu tinha respeito por ela, mas não deixava de aprontar”, brincou com ar de saudades dos castigos impostos pela mãe.

O tom de alegria, no entanto, muda quando ela mesma se pega lembrando de seu pai. Figura ausente por alguns anos, ele voltou a falar com Amanda recentemente, sem data precisa pela atleta. E para que isso, ele precisou aceitar a profissão e estilo de vida da filha, agora uma campeã mundial.

“Meu pai está me dando uma força agora, depois que viu que não era brincadeira, que era uma profissão. Não tive muito apoio dele no inicio, mas claro que era uma coisa que eu queira. Por eles ser o homem da casa, claro que eu queria o suporte dele. Mas ele não foi presente, foi minha mãe e minhas irmãs mesmo. A gente mantém contato com ele, mas eu não tenho nenhuma mágoa, pelo contrário, foi o cara que me colocou no mundo”, finalizou, mais uma vez, com o hábito de enxergar o lado bom em todos os momentos de sua vida.