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Torcedores são banidos na Inglaterra por gritos homofóbicos contra árbitro

Árbitro Nigel Owens, vítima de gritos homofóbicos em amistoso entre Inglaterra e Nova Zelândia no rúgbi - BBC Brasil
Árbitro Nigel Owens, vítima de gritos homofóbicos em amistoso entre Inglaterra e Nova Zelândia no rúgbi Imagem: BBC Brasil

Da BBC Brasil

28/11/2014 19h58

Em um amistoso entre Inglaterra e Nova Zelândia realizado no estádio de Twickenham, em Londres, no início do mês, um torcedor denunciou a conduta de dois outros fãs que proferiam gritos considerados homofóbicos para o árbitro da partida, Nigel Owens.

O resultado foi a punição dos dois aplicada pela Federação Inglesa de Rúgbi (RFU, na sigla em inglês), que foram banidos do estádio por dois anos e terão de pagar £1.000 (cerca de R$ 4.012) a uma instituição de caridade que o árbitro ofendido escolher.

Owens é o primeiro árbitro assumidamente gay a alcançar a elite do rúgbi, apitando jogos do mais alto nível. Ele não ouviu os insultos proferidos pelos torcedores, mas um outro fã que estava perto fez a denúncia, e a Federação investigou e definiu a punição.

"É importante acabar com isso desde já, para que não se torne um grande problema para o rúgbi no futuro", disse Owens à BBC.

O presidente da Federação Inglesa de Rúgbi, Ian Ritchie, também se pronunciou sobre o caso e disse que a entidade está disposta a combater atitudes como essa para manter os "valores do rúgbi".

"Coisas desse tipo são excepcionalmente raras, mas a Federação leva os valores de trabalho em equipe, respeito, disciplina e espírito esportivo muito a sério e está determinada a mantê-los no esporte", disse.

"Todos somos guardiões desses aspectos do jogo, dentro ou fora de campo, e são esses valores que fazem o esporte especial", completou.

Denúncia

O torcedor Keith Wilson foi quem denunciou os "abusos" dos outros dois fãs que estavam na partida. Antes de falar à Federação, ele escreveu uma carta ao jornal The Guardian dizendo que os torcedores gritaram palavras "desagradáveis, racistas, homofóbicas e abusivas" para o árbitro durante a derrota da Inglaterra para a Nova Zelândia por 24 a 21.

"Acho que o que quer que eles tenham gritado, deve ter sido algo bem pesado – pesado o suficiente pra uma pessoa denunciar", disse o árbitro.

"Se eles podem prevenir isso, sim, essas pessoas têm de ser banidas do esporte e do estádio, porque não precisamos de pessoas assim no rúgbi ou em qualquer outro esporte."
Nigel Owens se tornou árbitro internacional de rúgbi em 2005 e anunciou a homossexualidade dois anos depois. Desde então, ele apitou duas Copas do Mundo de rúgbi e duas finais da tradicional Heineken Cup.

Mas, antes de assumir sua sexualidade, Owens chegou até a tentar suicídio. O árbitro também já admitiu ter pensado em desistir do esporte por causa dos comentários preconceituosos que já ouviu de torcedores e atualmente é considerado uma inspiração para a comunidade gay.

"Às vezes você pensa 'eu realmente preciso disso? Eu realmente preciso desse emprego?'. É algo que te desanima e, sinceramente, muitas vezes eu penso 'já chega!', mas você tem que se levantar e enfrentar isso", disse.

"Infelizmente, você tem algumas pessoas que vão ao estádio, ficam bêbados e que provavelmente sequer assistiram ao jogo de rúgbi, eles só estão lá para ficarem bêbados e xingarem as pessoas. Mas eles são minoria", afirmou.

O técnico de rúgbi da Inglaterra, Stuart Lancaster, elogiou a punição dada pela Federação. "Nós aplaudimos a RFU por ter investigado e punido a atitude. Precisamos entender a pressão a que essas pessoas estão submetidas e apoiar."