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Brasileiro revelação da ginástica está sem patrocínio a um ano da Olimpíada

Ricardo Bufolin/CBG
Imagem: Ricardo Bufolin/CBG

Renata Mendonça

Da BBC Brasil, em São Paulo

04/05/2015 13h51

Faltavam duas semanas para a etapa da Copa do Mundo de ginástica em São Paulo, quando Ângelo Assumpção, de 18 anos, recebeu uma ligação para avisá-lo de que ele poderia disputar a competição - realizada no último final de semana - em casa.

É que o ginasta Arthur Nory Mariano está lesionado e foi cortado da seleção de última hora. Ângelo não desperdiçou a oportunidade, chegou às finais das duas provas que disputou – salto e solo – e conquistou o ouro em uma delas (salto) no último sábado, o primeiro de sua carreira em Copas do Mundo.

"A gente sempre imagina que pode conseguir o ouro, não é uma surpresa porque eu estava treinando muito para conseguir esse salto e essa medalha, estou tentando há três Copas. Acho que consegui substituir o Nory bem", disse.

A medalha foi ainda mais especial por ter sido conquistada ao lado de Diego Hypolito, ídolo de Ângelo na infância. O jovem ginasta, que começou a treinar aos 6 anos de idade enfrentando uma maratona para conciliar esporte e estudos conta que, em 2005, na última etapa da Copa do Mundo que havia sido sediada em São Paulo, ele chegou a 'tietar' o então campeão mundial Diego Hypolito.

"É engraçado porque em 2005, eu vim aqui, fui pedir autógrafo, tirar foto, consegui da Daiane (dos Santos), mas quando fui tirar foto com ele, ele saiu correndo, acho que teve que ir embora", contou, rindo. "Hoje ele pede pra tirar foto comigo, a gente tira foto junto..."

"É uma honra poder competir com ele, é uma inspiração, porque quando eu vim pra cá assisti-lo, eu não sonhava que um dia eu estaria do lado dele, competindo."
Ângelo teve a nota de 15,025, superando o alemão Mathias Farig (prata) e o ídolo Diego Hypolito (bronze)

Com a conquista na Copa do Mundo em São Paulo, Ângelo espera poder alavancar de vez sua carreira. O ginasta, que treina desde pequeno no Esporte Clube Pinheiros (SP), recebe salário do clube e está tentando renovar sua bolsa-atleta com o governo federal até a Olimpíada, mas ainda não tem patrocínio particular.

"Eu espero que abra várias portas, porque eu estou sem patrocínio pra mim, queria conseguir isso pra minha carreira. Tem que abrir bastante portas para a ginástica, para as competições que vão vir."

Ele diz que precisava de um resultado expressivo para chamar a atenção dos patrocinadores e espera que o ouro na Copa do Mundo sirva para isso. Marcos Couto, técnico do campeão olímpico Arthur Zanetti e membro da comissão técnica da seleção brasileira confia que Ângelo conseguirá mais apoio agora.

"Nosso país é assim, é meritocracia. Primeiro você tem que provar que você pode ser medalhista, para depois colher os frutos. Ele conseguiu a medalha agora, agora é que vão olhar para ele."

Início
A carreira de Ângelo Assumpção na ginástica começou mais cedo até do que ele poderia imaginar. Aos 2 anos, o garoto já deixava a mãe e a tia de cabelo em pé quando subia nos muros da casa onde eles moravam na zona leste de São Paulo.

"Antes de andar, ele engatinhava e já escalava o portão engatinhando. Aí quando tinha 2 anos de idade, ele subiu num muro alto ali da casa e disse que era o super-homem, que iria voar. Ele pulou dali e a gente teve que levá-lo para o hospital", conta à BBC Brasil a tia Márcia Dias Assumpção, que teve a chance de ver o sobrinho ganhar a primeira medalha de Copa do Mundo da carreira em casa.

Ângelo foi crescendo e não perdia a mania de 'buscar as alturas'. A tia Márcia perdeu as contas de quantas vezes viu o menino caindo no capô de seu carro após saltar do muro da casa. "Ele pulou várias vezes, afundou o capô de vários carros".

Mãe, tia e tio de Ângelo estiveram no Ibirapuera para torcer pelo jovem ginasta

E se Ângelo ganhou coragem e força para se tornar um ginasta profissional hoje, ele deve muito à mãe, Magali Dias Assumpção. "Ele subia em tudo desde pequeno, mas eu nunca o incentivei a ficar com medo. Quando ele subia, eu dizia 'desce, meu filho', mas nunca falava 'desce daí porque você pode se machucar'", relata a mãe.

Ao ver as 'habilidades' do filho, Magali o levou para um teste no Centro Olímpico quando viu o anúncio de que eles estavam abrindo equipes de ginástica. Ângelo passou e começou a treinar de verdade aos 6 anos de idade. Com 7, ele foi para o Pinheiros e lá está até hoje. Mas a rotina era puxada.

"Eu estudava de manhã, das 7h às 11h30, o treino era 12h, aí saía correndo da escola, comia e ia treinar. O treino ia até umas 18h e aí eu voltava pra casa, eram mais dois ônibus, duas horas para chegar, eu ia dormindo no colo da minha mãe", conta.

Quando chegava, era difícil encontrar energia para fazer as lições de casa e por isso a tia e a mãe ajudavam bastante nos estudos.

"A gente se virava. Acho que nós não encaramos como um trabalho, quando a gente é criança, a gente se diverte, acaba gostando. Era cansativo, no começo cansou bastante, mas depois se tornou rotina."

Depois de mais de dez anos dedicados à ginástica e de ter 'abdicado da infância', como diz a mãe, Ângelo conseguiu a recompensa em forma de medalha.

"É gratificante, porque são muitas etapas que a gente tem que passar pra chegar aqui. Foi muita luta, mas agora tenho que agradecer a todos e continuar treinando para chegar mais longe."

Promessa
A medalha de ouro no salto e a evolução de Ângelo nos treinamentos o colocam como uma das grandes promessas do Brasil para a ginástica nos Jogos Olímpicos do ano que vem. Quem aposta nele é o próprio ídolo de infância do ginasta, Diego Hypolito.

Ângelo teve Diego como ídolo, e hoje os dois competem juntos pela seleção brasileira de ginástica

"Eu sempre achei o Ângelo um excelente atleta de solo e salto, ele tem nível técnico para ser medalhista mundial e medalhista olímpico, coisa que poucos têm. Se for trabalhado, ele pode chegar lá", disse o bicampeão mundial do solo, Diego Hypolito.

Depois da competição em São Paulo, Ângelo segue para o Rio de Janeiro na segunda, onde treina junto com a seleção brasileira no novo centro de treinamento da ginástica. Entre uma avaliação e outra com a seleção, ele foca sua preparação no Pan-Americano de julho, no Canadá, e também no Mundial, que é o grande objetivo da ginástica brasileira no ano porque é classificatório para a Olimpíada.