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Diretor do COI topa 'desafio do mergulho' na Baía de Guanabara: 'Sou resistente'

Júlia Dias Carneiro e Renata Mendonça

Da BBC Brasil no Rio de Janeiro e em São Paulo

22/05/2015 16h48

Local de competição da vela na Olimpíada do Rio de 2016, a Baía de Guanabara tem sido uma das principais polêmicas dos Jogos até aqui.

Mas apesar das críticas sobre a poluição das águas, o diretor-executivo do Comitê Olímpico Internacional (COI) Christophe Dubi reforça a posição do órgão de que não há possibilidade de um plano B para a competição – e diz que não se furtaria a um mergulho nas águas da baía para convencer os céticos de sua balneabilidade.

Provocado pela BBC Brasil sobre se seguiria os passos do secretário estadual de Meio Ambiente do Rio, André Corrêa – que recentemente se exibiu para as lentes do Fantástico, na TV Globo, em um banho na Baía de Guanabara – Dubi disse que não recuaria: "Estou preparado", afirmou. "Sou muito resistente", acrescentou rindo, sem dar detalhes de quando o mergulho poderia ocorrer.

Dubi antes quis saber se a reportagem da BBC Brasil lhe faria companhia, e mostrou disposição mesmo ouvindo que não.

As declarações de autoridades sobre a poluição da baía e o cumprimento ou não da meta de tratar 80% do esgoto que flui para o corpo d’água trazem diferentes versões, em uma ’novela’ que vem ganhando novos capítulos ao longo dos últimos meses.

No fim de abril, o chefe de competições da Federação Internacional de Vela, Alastair Fox, chegou a dizer que as regatas olímpicas poderiam acontecer apenas nas raias do lado de fora da baía, caso as condições da água não melhorassem. Na ocasião, Christophe Dubi afirmou que o tema seria levado à mesa de discussões da reunião de revisão de projetos entre o comitê organizador Rio-2016 e o Comitê Olímpico Internacional (COI), realizadas nesta semana no Rio.

Após a conclusão das conversas, no entanto, Dubi disse à BBC Brasil que não houve mudanças e que o evento-teste da vela já está sendo planejado em detalhes e vai usar todas as raias da baía.

Uma das principais velejadoras do Brasil, Martine Grael publicou foto com televisão encontrada na baía em protesto em janeiro de 2014

"Não discutimos um plano B. O evento-teste (programado para agosto deste ano) acontecerá conforme o plano original, com três raias dentro da baía e duas fora. Não falamos absolutamente nada sobre um plano B", afirmou.

Dubi ainda reiterou que a promessa do governo do Rio de tratar 80% do esgoto despejado na baía até 2016 ficará de legado, ainda que ela seja cumprida depois dos Jogos. "O objetivo final segue 80%. Se isso será atingido logo antes dos Jogos ou logo depois, é um compromisso que permanece e que ficará de legado."

Carlos Arthur Nuzman, presidente do Rio-2016, também reforçou a ideia de que não haverá mudança de planos para a vela em 2016. "A competição será na baía, não tem outra hipótese que não seja essa. Tudo está sendo feito pra ser na baía, tivemos vários campeonatos lá e nunca ninguém reclamou de nada."

Novela

Sete anos depois de o Rio ter se comprometido com a meta da baía na candidatura para os Jogos, ainda não se sabe se a promessa será cumprida. E ela tem sido tema de declarações dúbias e contraditórias das autoridades envolvidas, que ora confirmam o cumprimento da meta dentro do prazo, ora voltam atrás e dizem que não haverá tempo hábil para tanto.

A polêmica ganhou força com os protestos de atletas da vela por conta do lixo flutuante encontrado na Baía de Guanabara e que, segundo eles, prejudica bastante as regatas. Ao longo do ano passado, em competições internacionais e temporadas de treino de equipes olímpicas, muitos velejadores se queixaram da qualidade da água.

Veja algumas das principais frases dessa 'novela'.

17 de maio de 2014

"Mesmo se os recursos necessários forem disponibilizados, não seria possível planejar e implementar todos os projetos a tempo de fazer diferença na poluição da água para 2016."

Carlos Francisco Portinho, então Secretário do Meio Ambiente do Rio, em carta ao Min. do Esporte

8 de junho de 2014

"Lamento que nós não tenhamos usado os Jogos para limpar completamente a Baía de Guanabara."

Prefeito Eduardo Paes à agência de notícias AP

3 de agosto de 2014

"Não tem plano B. Em 2009, quando nos candidatamos, apenas 12% do esgoto despejado na baía era tratado. Hoje, temos 49,5%. Ainda temos bastante tempo para cumprir o prometido."

Rodrigo Garcia, diretor de esportes do Rio-2016

23 de janeiro de 2015

"Isso (o tratamento de 80% do esgoto da baía) não vai acontecer. Aliás, até hoje não entendi muito bem como foi feito o cálculo dessa meta."

André Corrêa, atual secretário estadual do Meio Ambiente do Rio

27 de janeiro de 2015

"A posição do comitê é que a meta do governo do Estado de tratar 80% do esgoto bruto continua valendo."

Mario Andrada, chefe de comunicação do comitê Rio-2016

23 de fevereiro de 2015

"Temos o compromisso de 80%. Mas, se não ficar pronto, o importante é que já saímos de 17% para 49%. Se não chegar para a Olimpíada, vai chegar depois."

Luiz Fernando Pezão, governador do Rio de Janeiro

25 de abril de 2015

"Se tivermos que velejar fora da baía, é assim que vai ser, para garantir uma regata justa. Então isso é algo que vamos analisar e podemos fazer."

Alaistair Fox, chefe de competições da Federação Internacional de Vela, à AP

29 de abril de 2015

"A possibilidade é zero das provas saírem da Baía de Guanabara. Já tivemos campeonatos mundiais, Pan-Americano, sem problema nenhum. Ninguém nunca ficou doente."

Prefeito Eduardo Paes

3 de maio de 2015

"Olha aí, aqui dá pra mergulhar igual a Ipanema. Como eu disse, o desafio é o lixo flutuante."

Secretário do Meio Ambiente do Rio, André Corrêa, após mergulhar em parte mais limpa da baía em reportagem da TV Globo

*Colaborou Camilla Costa, da BBC Brasil em São Paulo