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Aumenta pressão para rever escolha de sedes das Copas de 2018 e 2022

27/05/2015 22h51

Após a revelação do suposto esquema de corrupção envolvendo altos dirigentes da Fifa, cresceu a pressão para que a instância máxima do futebol mundial reveja as escolhas da Rússia e do Catar como sedes das Copas do Mundo de 2018 e 2022, respectivamente.

Há também um pleito cada vez mais forte para que a entidade adie a eleição para a escolha de seu presidente, marcada para esta sexta-feira.

Ao cargo, concorrem o príncipe Ali Bin Al-Hussein, da Jordânia, e o atual ocupante do cargo, o suíço Joseph Blatter.

"Não podemos continuar com essa crise na Fifa", disse Hussein nesta quarta-feira.

Além da investigação criminal conduzida pelos Estados Unidos, autoridades suíças estão analisando as escolhas dos países-sede dos Mundiais de 2018 e 2022.

Em nota divulgada à imprensa, a Fifa elogiou as investigações envolvendo seus principais dirigentes, mas disse que não há motivo para rever as decisões sobre as escolhas da Rússia e do Catar para receber o mais importante torneio de futebol do mundo.

A entidade acrescentou que a eleição do presidente acontecerá como planejado.

O Comitê independente de Ética da Fifa também baniu 11 dirigentes citados pelas investigações de exercerem qualquer atividade ligada ao futebol.

"Esse tipo de mau comportamento não tem espaço no futebol e vamos garantir que os implicados sejam excluídos do jogo", disse Blatter.

O sueco Lennart Johnson, ex-presidente da Uefa, entidade que controla o futebol europeu, afirmou que as escolhas da Rússia e do Catar deveriam ser reexaminadas após as últimas acusações de corrupção na Fifa.

Em entrevista ao jornal Sportbladet, Johansson disse esperar que "eles (Fifa) reconsiderem as decisões. Blatter afirmou que a decisão de rumar ao Oriente não era acertada. Estou seguro de que a iniciativa agora será (...) fazer uma nova escolha".

O ex-atacante inglês e apresentador da BBC Gary Lineker concorda. "Há agora grandes investigações em curso não só envolvendo a Fifa e a corrupção, mas também duas escolhas ? a Copa do Mundo de 2018 e de 2022 ? então muito dependerá do quão enraizado e do quão corrupto o processo de votação foi".

"Se (as acusações) forem substanciais o bastante então eu acho que eles não terão opção, mas repensar e votar novamente. É uma confusão, é uma grande confusão".

O britânico Mark Palios, ex-presidente da Football Association (FA), entidade que controla o futebol no Reino Unido, disse acreditar que a determinação da Fifa de não rever a candidatura pode ser "examinada".

"No passado, eles disseram que, se houvesse prova de corrupção, fariam mudanças, e pela primeira vez isso seria realmente examinado", disse à BBC.

Entenda os principais pontos do caso:

A eleição de sexta pode ser mantida?

O príncipe jordaniano Ali Bin Al-Hussein é o único adversário do suíço Joseph Blatter depois que o ex-jogador português Luis Figo e o ex-dirigente da confederação holandesa de futebol Michael van Praag abandonaram a disputa para não dividir os votos anti-Blatter.

Blatter, que comanda a Fifa desde 1988, deve vencer seu quinto mandato como presidente, já que teria a maioria dos votos dos 209 membros da entidade esportiva.

A Uefa, contudo, pediu o adiamento das eleições.

Por meio de um comunicado, a entidade europeia afirmou que há "uma forte necessidade para uma mudança na liderança da Fifa. O Congresso da Fifa deve ser adiado, e novas eleições presidenciais devem ser organizadas nos próximos seis meses".

No entanto, o ex-conselheiro da Fifa Michael Hershman afirmou à BBC: "Considero que eles vão seguir adiante. Acho que Blatter está suficientemente confiante para ganhar, o que é realmente triste. Apesar de não ter sido preso, ele deve ser responsabilizado por criar um clima dentro da Fifa que levou a vários escândalos e essencialmente a essas prisões".

Como as investigações se desenrolaram?

A operação policial foi realizada no hotel Baur au Lac em Zurique, na Suíça, onde os dirigentes estavam hospedados.

As detenções estavam ligadas a uma investigação do Departamento de Justiça dos Estados Unidos envolvendo 14 pessoas por suspeita de extorsão, fraude eletrônica e lavagem de dinheiro em um esquema que teria durado mais de duas décadas.

Sete dirigentes da Fifa, incluindo o brasileiro José Maria Marin, ex-presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), foram presos acusados de terem cobrado US$ 150 milhões (R$ 470 milhões) em propinas.

Outro detido foi o americano Jeffrey Webb, vice-presidente da Fifa.

O FBI, a polícia federal americana, também fez uma operação na sede da Concacaf (Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe) em Miami, no Estado americano da Flórida.

Horas após o início da operação policial, as autoridades suíças também abriram procedimentos criminais sobre a forma como se deram as escolhas das Copas do Mundo na Rússia, em 2018, e no Catar, em 2022.

Dados eletrônicos foram apreendidos da sede da Fifa em Zurique como parte de uma investigação sobre "má administração" e "lavagem de dinheiro".

A política suíça pretende interrogar 10 membros do comitê executivo da Fifa que participaram do processo de votação em dezembro de 2010.

Qual é a versão oficial da Fifa?

O porta-voz da Fifa, Walter de Gregorio, afirmou que o pleito para a escolha do novo presidente da entidade, na sexta-feira, e os Mundiais de 2018 e 2022 serão mantidos.

Ele acrescentou que Blatter não estava envolvido nas acusações.

No ano passado, a Fifa entrou com uma queixa-crime contra a procuradoria federal da Suíça após um relatório realizado pelo então presidente do comitê de ética, Michael Garcia, que renunciaria ao cargo posteriormente.

"Vivemos tempos difíceis. Isso confirma que estamos no caminho certo", diz De Gregorio.

Segundo ele, Blatter "não está dançando em sua sala. Ele não está feliz com que o que está acontecendo".

Em seguida, o atual presidente da Fifa emitiu um comunicado condenado as práticas de corrupção e revelando que os 11 membros da entidade haviam sido suspensos de toda a atividade ligada ao futebol enquanto a investigação estiver em andamento.

"Trabalharemos vigorosamente dentro da Fifa de modo a eliminar qualquer tipo de mau comportamento, para ganhar de volta a confiança e assegurar que o futebol mundial fique livre de qualquer malfeito", informou a nota.

Quais foram as reações à prisão dos dirigentes?

O presidente da Associação Alemã de Futebol, Wolfgang Niersbach, disse que a investigação sobre o esquema de corrupção na Fifa era "chocante e prejudicial ao mundo do futebol".

"Seria terrível se as graves acusações contra os membros da Fifa fossem comprovadas".

Parte da investigação liderada pelos Estados Unidos está centrada no acordo de patrocínio feito no Brasil em 1996 com uma grande companhia americana de materiais esportivos ? a qual documentos oficiais se referem como "Companhia A".

A presidente Dilma Rousseff, que está no México em visita oficial, já se manifestou sobre o caso dizendo que o futebol brasileiro "só se beneficiará dessa investigação".

"Acho que toda investigação sobre essa questão é muito importante. Não vejo como prejudicial ao Brasil, ela só vai beneficiar o futebol brasileiro.

Se tiver de investigar a (escolha da) Copa, que se investiguem todas as Copas. Essa postura (do governo) vale para todos, desde a Lava Jato até este caso."

A Nike assinou um contrato de US$ 100 milhões (R$ 300 milhões em valores atuais) com a CBF em 1996 e emitiu um comunicado dizendo estar "preocupada com as acusações muito sérias". "Temos cooperado, e continuaremos a cooperar, com as autoridades".

O ex-jogador argentino Diego Maradona também se posicionou sobre o episódio. Em entrevista a uma rádio argentina, ele disse que "chutaria o traseiro" de qualquer autoridade da Fifa considerada culpada de corrupção.

Para o ex-jogador e atual senador Romário, "essa prisão do José Maria Marin é o início de um grande futuro para o nosso futebol, especialmente para a entidade mais corrupta que tem no esporte brasileiro, que é a CBF, e mundial, que é a Fifa".