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Usar avião de 17 anos 'é plenamente aceitável', diz diretor da Lamia

Avião da Lamia caiu na Colômbia vitimando 71 pessoas entre jornalistas e delegação da Chapecoense - Reprodução
Avião da Lamia caiu na Colômbia vitimando 71 pessoas entre jornalistas e delegação da Chapecoense Imagem: Reprodução

Ricardo Senra

Em São Paulo

30/11/2016 20h19

Para o diretor-geral da companhia aérea boliviana Lamia, dona do avião que caiu na terça-feira em Medellín, na Colômbia, a idade da aeronave não teve influência no desastre que deixou 71 vítimas, incluindo boa parte do time e da comissão técnica da Chapecoense.

"Dezessete anos é (uma idade) plenamente aceitável", disse à BBC Brasil o boliviano Gustavo Vargas ao ser questionado sobre a aeronave produzida em 1999. "Só depois de 25 anos pode-se supor que ele (o avião) deva cair em desuso", completou.

Único avião ativo da companhia (outros dois estão em manutenção), o modelo Avro RJ-85 já transportou diversos times - incluindo as seleções da Bolívia, Argentina e Colômbia, além da própria Chapecoense, que já havia usado os serviços da Lamia em outubro.

Popular nos anos 1980 e 1990, o modelo foi produzido entre 1983 e 2002 pela empresa britânica British Aerospace com foco em pistas curtas e aeroportos com pouca infraestrutura. Ao todo, foram construídas 387 unidades.

"A razão de descontinuar foi técnica", explicou à BBC Brasil Décio Correa, presidente do Fórum Brasileiro de Aviação Civil. "A tecnologia mudou de lá para cá, o que gera um impacto econômico, porque o modelo antigo deixa de ser um negócio interessante".

Ao contrário do diretor da companhia aérea, Correa pondera que a idade do avião poderia ser um agravante para o acidente.

"Dezessete anos é bastante tempo. As peças podem se desgastar, ficam obsoletas. Não dá para comparar com um avião novo, seria colocar um iPhone e um telefone analógico lado a lado."

Mudança de planos

Originalmente a companhia aérea havia pedido uma autorização do governo brasileiro para transportar os jogadores da Chapecoense do Brasil para a Colômbia.

As autoridades brasileiras, entretanto, negaram a solicitação, argumentando que o trajeto Brasil-Colômbia não poderia ser feito por uma empresa boliviana, segundo as regras do setor aéreo nacional.

"O voo partiria do Brasil para a Colômbia, na segunda-feira, 28/11, segundo a solicitação. O pedido foi negado com base no Código Brasileiro de Aeronáutica (CBAer) e na Convenção de Chicago, que trata dos acordos de serviços aéreos entre os países."

"O acordo com a Bolívia, país originário da companhia aérea Lamia, não prevê operações como a solicitada", afirmou a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), em nota.

Depois do veto ao voo fretado, o time decidiu pegar um voo comercial até o aeroporto boliviano de Santa Cruz de la Sierra. De lá, embarcou no avião da Lamia rumo a Medellín.

Estavam a bordo 77 pessoas, 68 passageiros e nove tripulantes. Vinte e um eram jornalistas - do total, 71 morreram e seis sobreviveram.

O estado de saúde dos três jogadores e um jornalista brasileiros que sobreviveram ao acidente é crítico, segundo informaram médicos ao canal Sportv.

O goleiro Jackson Follmann, o lateral esquerdo Alan Ruschel, o zagueiro Hélio Neto e o jornalista Rafael Henzel estão em três hospitais nas cidades de La Ceja e Rionegro, as mais próximas do local onde o avião caiu.

A empresa

Em 2014, a Lamia foi comprada de um empresário venezuelano pelo sócio e piloto Miguel Quiroga e por um amigo, o também piloto Marco Rocha Venegas, e conseguiu licença para operar na Bolívia em julho do ano passado.

A empresa original é cercada de polêmicas. Foi criada na Venezuela em 2010 pelo empresário e suposto lobista Ricardo Albacete Vidal, com parte do financiamento vindo de empresas chinesas.

Em cinco anos, a Lamia Venezuela tentou iniciar suas operações em dois Estados do país, sempre sem sucesso.

Tanto Vidal quando o diretor Gustavo Vargas afirmam que hoje não há qualquer vínculo com a antiga Lamia venezuelana.

"Temos capital 100% boliviano", diz Vidal.

O avião Avro RJ85, que caiu perto de Medellin e deixou 71 mortos e seis feridos, era o único em funcionamento da companhia.

"Temos outros dois, que estão em manutenção e nunca foram usados", disse o diretor à reportagem.

À BBC Brasil, o dirigente diz não ter ideia sobre as causas do acidente e afirma que empresa tomava todos os cuidados.

"Já havíamos feito um voo de Santa Cruz de la Sierra até Medellin sem problemas. Nunca tivemos nenhum acidente."