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Em encontro, clubes demonstram preocupação com formação humana de jogadores

18/12/2014 16h04

Lisboa, 17 dez (EFE).- O desenvolvimento do jogador como indivíduo é o segredo das divisões de base de clubes como Boca Juniors, Ajax, Anderlecht e Sporting, que consideram esse aspecto tão importante quanto a formação na parte técnica.

Essa foi a principal conclusão da conferência sobre "O Futuro do Futebol", organizada pelo Sporting em Lisboa e que durante esta semana reuniu representantes dessas equipes para refletir sobre os desafios quanto à base.

O argentino Carlos Fernando Navarro Montoya, apelidado 'El Mono' durante sua época como goleiro, representou o Boca e defendeu que entre os jovens jogadores é preciso fomentar os valores éticos e morais ao mesmo tempo que se atende a seu desenvolvimento esportivo.

Atualmente responsável pelas categorias de base do clube de Buenos Aires, Montoya criticou os clubes que enfocam as vitórias e não a revelação de atletas. "A chave não é vencer, é formar", resumiu.

"Temos a preocupação de deixar à disposição dos jovens as melhores ferramentas para que eles possam enfrentar os desafios de um esporte cada vez mais competitivo, mas sem descuidar de sua formação como pessoas", disse 'El Mono'.

Ele lembrou que apenas entre 2% e 5% dos garotos chegam a se profissionalizar, e que com isso a aprendizagem não termina no treino.

O desenvolvimento pessoal também foi um aspecto destacado por Ruben Jongkind, um dos dirigentes das deivisões de base do Ajax. A estratégia do clube de Amsterdã está centrada no desenvolvimento a longo prazo e dá uma importância primordial aos treinadores, que exercem ao mesmo tempo o trabalho de mentores, acompanhando os jogadores desde a escola até o time principal.

Atualmente, as divisões de base são dirigidas por grandes ex-jogadores do Ajax, como Dennis Bergkamp e Mark Overmars, enquanto o ex-zagueiro Frank de Boer é o técnico da equipe profissional.

Jongkind defendeu uma atenção individual às pratas da casa, sobretudo em um mercado global como o de hoje em dia, e lamentou a perda da cultura do futebol de rua, algo que também acontece no Brasil.

A opinião foi compartilhada por Aurélio Pereira, porta-voz do Sporting e olheiro responsável por descobrir Cristiano Ronaldo na Ilha Madeira e recomendar sua contratação pelos 'Leões' quando tinha apenas 11 anos.

Pereira reconheceu sentir saudades do "futebol de rua", onde, segundo ele, se joga com "uma criatividade ingênua e inocente", espírito que hoje é mais difícil de encontrar pela pressão à qual os jovens são submetidos desde cedo.

Proporcionar bases sólidas aos jogadores para prepará-los tanto em nível profissional quanto pessoal é fundamental segundo o olheiro. Ele citou o caso do atacante Mario Balotelli, protagonista de vários atos de indisciplina, como exemplo a ser evitado.

Enviado do Anderlecht à conferência, Jean Kindermans considerou as divisões de base como o elemento diferenciador para clubes como o seu, que disputa um campeonato com menos peso que outros rivais europeus e com um menor poder econômico. "Tentamos não formar campeões, mas jogadores capazes de encarar qualquer desafio", resumiu.