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Figueredo, de vendedor de carros a manda-chuva do futebol mundial

27/05/2015 19h18

Rubén Figueroa.

Montevidéu, 27 mai (EFE).- O uruguaio Eugenio Figueredo, preso nesta quarta-feira pelo envolvimento no caso de corrupção na Fifa, chegou à vice-presidência da entidade em 2014, após uma longa trajetória no esporte, no qual cresceu utilizando das habilidades adquiridas em sua primeira atividade profissional: vender carros.

Foi assim, distribuindo cartões de visita como ele mesmo chegou a reconhecer, que entrou no mundo do futebol no Huracán Buceo de Montevidéu, clube que suspendeu suas atividades profissionais, pelo qual atuou como lateral-direito. Depois passou para a diretoria e foi presidente em dois períodos (1971-72 e 1976-77).

Mais tarde, como presidente da Associação do Futebol Uruguaio (AUF), cargo que ocupou entre 1997 e 2006, foi acusado de dar tratamento preferencial ao Huracán, tentando diminuir a dívida do ex-clube para evitar seu desaparecimento.

Essa foi apenas uma das várias polêmicas que marcaram a longa história de Figueredo, de 83 anos, que ganhou novo capítulo após as acusações de corrupção reveladas hoje.

Além dos resultados esportivos ruins durante sua gestão na AUF, período no qual o Uruguai só se classificou para o Mundial de 2002, Figueredo foi várias vezes denunciado de conduzir a federação como um clube de amigos, escolhendo a dedo quem ocuparia os principais cargos e permitindo o descumprimento dos regulamentos da entidade a seu bel-prazer.

Outra denúncia foi ter concedido os direitos televisivos do futebol uruguaio a uma empresa apesar da oferta menor que a de um grupo rival, decisão influenciada pelos "favores" devidos pelo alto escalão da federação.

Em 2006, Figueredo decidiu deixar a AUF depois da vitória de Tabaré Vázquez nas eleições presidenciais do Uruguai. O novo líder do país expressou o desejo de que o dirigente deixasse a federação.

"Temos que buscar a qualidade na gestão das entidades esportivas, na autoridade moral e na capacidade gerencial de seus diretores. Qualidade e transparência, pois os negócios devem ser limpos", disse Vázquez pouco depois de sua posse.

Foi o fim da trajetória no futebol local de um dirigente que chegou a dizer que ninguém mais poderia fazer o que ele fazia no comando da AUF. No entanto, em nível internacional, Figueredo ainda tinha alguns degraus para subir.

O dirigente continuava como vice-presidente da Conmebol, posto que assumiu em 1993 e só deixou em 2013, quando se tornou presidente da entidade após a renúncia do paraguaio Nicolás Leoz, também acusado no escândalo de corrupção da Fifa.

Permaneceu no comando da entidade por um ano, até ser substituído pelo também paraguaio Juan Ángel Napout. Figueredo, porém, subiu ainda mais, chegando à vice-presidência da Fifa, no posto que permanecia aberto desde a morte do argentino Julio Grandona.

O uruguaio é um dos dois vice-presidentes da entidade máxima do futebol que foram presos hoje junto a outros cinco altos dirigentes da Fifa por acusações de corrupção. Entre os detidos também está o ex-presidente da CBF José Maria Marin.

Todos estavam em Zurique para participar do Congresso Anual da Fifa, que escolherá na sexta-feira o novo presidente da entidade. O atual mandatário, Joseph Blatter, não foi citado pelas autoridades nas investigações e, apesar do escândalo, segue como favorito.

Os sete dirigentes foram presos pela polícia suíça a pedido da Justiça americana. Eles são acusados de organização mafiosa, fraude maciça e lavagem de dinheiro, entre outros crimes, e ficarão sob custódia das autoridades até serem extraditados.