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Comitê de ética da Fifa suspende Blatter e Platini por oito anos

Da EFE

Em Madri (Espanha)

21/12/2015 07h37

O suíço Joseph Blatter e o francês Michel Platini, presidentes respectivamente da Fifa e da Uefa, foram punidos com oito anos de suspensão "de toda atividade relacionada ao futebol, administrativa, esportiva ou de qualquer tipo", segundo decisão emitida nesta segunda-feira (21) pelo Comitê de Ética da Fifa.

A sanção entra em vigor "de forma imediata" e é válida nos âmbitos nacional e internacional. Ambos ainda foram multados, com pena de 50 mil francos suíços a Blatter e 80 mil francos suíços a Platini.

Em entrevista coletiva logo após o anúncio da punição, Blatter reclamou de ter sido informado da suspensão depois da imprensa, citou Nelson Mandela e disse ser um "saco de pancadas". O dirigente ainda prometeu apelar ao Tribunal Arbitral do Esporte (TAS) contra a punição.

"Senhoras e senhores eu sinto muito, sinto por ainda ser um saco de pancadas, sinto como presente da Fifa ser saco de pancada, sinto muito pelo futebol, sinto muito pela Fifa pela qual trabalhei mais de 40 anos. Sinto muito por mais de 400 funcionários da Fifa, mas sinto muito por mim por como fui tratado e retratado dentro deste roteiro do futebol", disse Blatter.

"Para não usar a palavra corrupção, me acusam de ter dado um presente por esse acordo, esse contrato. A Fifa fez um contrato oral e por essa razão, eu estou suspenso por oito anos. Mas eu vou lutar, por mim e pela Fifa. Estou suspenso por oito anos e eu pergunto por que?", defendeu-se. "Falei com meu advogado, vamos ao TAS e também procurarei meus direitos como cidadão suíço. Na lei suíça, para você ser suspenso, tem que ter cometido algo muito grave".

Em entrevista à AFP, Michel Platini, presidente da Uefa, também informou que irá recorrer ao TAS e a Justiça comum. “Além de ir ao TAS, estou determinado a procurar tribunais civis para obter indenização por todo prejuízo que sofri ao longo das semanas”, falou.

O comitê considerou ilegal o pagamento de 2 milhões de francos suíços efetuado por Blatter a Platini em fevereiro de 2011. Ambos alegavam que o montante havia sido acordado verbalmente entre as partes em 1998 e seria referente a trabalhos efetuados pelo francês na Fifa.

Os argumentos, porém, não foram aceitos pela câmara julgadora do comitê de ética, que considerou que ambos os dirigentes feriram o código da Fifa. Em seu comunicado, a entidade afirma não ser possível afirmar que o dinheiro se tratava de suborno ou corrupção, mas diz que houve conflito de interesses e abuso de poder.

"Podemos chamar de um contrato oral, acordo de cavalheiros, feito em 1998, depois da Copa da França, quando senhor Platini me procurou porque queria trabalhar para Fifa. Achei maravilhoso, pois era uma pessoa com muita experiência. Disse ok, mas que não poderia pagar naquele momento. 'Pode trabalhar agora e pagamos vocês depois'", rebateu Blatter após o anúncio da punição.

"Outras pessoas sabiam deste acordo. O dinheiro passou pelo comitê executivo, dois comitês de controle e também aprovado em congresso. E a decisão do comitê julgador é que este contrato nunca existiu, que é uma doação, um presente. Tiveram cuidado de não usar a palavra corrupção, mas chegaram a conclusão que dei este dinheiro para comprar os votos da Uefa para a Fifa em 2011", completou Blatter.

A decisão do comitê de ética da Fifa enterra de vez as pretensões de Platini de concorrer à presidência da Fifa em fevereiro. O dirigente francês era considerado o favorito para a disputa até o surgimento da investigação pelo pagamento irregular. O pleito terá como candidatos o atual secretário-geral da Uefa Gianni Infantino, o príncipe da Jordânia Ali bin al-Hussein, o sheik do Bahrein Salman bin Ebrahim al-Khalifa, o francês Jerome Champagne e o empresário sul-africano Tokyo Sexwale.

As acusações contra Blatter e Platini surgiram em setembro deste ano, quando ambos foram indiciados pela Justiça suíça pelo suposto pagamento irregular. O mandatário da Fifa ainda foi acusado de corrupção na venda de direitos de transmissão, em esquema que incluía o ex-vice-presidente da entidade Jack Warner.

A investigação na Justiça suíça fez com que o comitê de ética da Fifa abrisse sua própria averiguação do caso e suspendesse preventivamente Platini e Blatter por 90 dias. Ambos tentaram recorrer da punição, sendo que o francês acionou até mesmo o Tribunal Arbitral do Esporte (TAS), mas sem sucesso.

Em sua defesa, Blatter depôs no comitê de ética na última quinta-feira. Já Platini, em protesto, optou por enviar apenas seus advogados para representa-lo. Não foi suficiente, porém, para evitar que ambos fossem suspensos pela entidade.

A punição a dois dos principais dirigentes da Fifa é mais um capítulo do escândalo de corrupção que abalou o futebol mundial. Por pagamento de propinas ligadas à venda de direitos de transmissão, 39 pessoas foram indiciadas pela Justiça americana, entre dirigentes e empresários ligados ao esporte. Os últimos três presidentes da CBF, Ricardo Teixeira, Marco Polo Del Nero e José Maria Marín, estão entre os acusados.

Já Justiça suíça investiga o pagamento de propinas ligado à escolha das sedes das Copas do Mundo de 2018 e 2022, que serão respectivamente na Rússia e no Qatar.

Os diversos casos de corrupção fizeram com que os patrocinadores da Fifa pressionassem a entidade por uma reforma. AB InBev, Adidas, Coca-Cola, McDonald's e Visa se uniram em comunicado exigindo transparência, sendo que alguns deles ameaçaram até mesmo romper seus contratos.