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Ciência ainda é incapaz de dizer se genes influenciam resultados esportivos

Maurício Lima/AFP
Imagem: Maurício Lima/AFP

Da EFE

15/09/2016 06h01

O sucesso esportivo é uma combinação de muitos fatores, como persistência, treinamentos árduos, contexto socioeconômico, mentalidade forte e também a genética, mas este último item se trata de uma variante ainda pouco conhecida.

Até hoje, só é certo que há influência do DNA no rendimento dos atletas nas provas de velocidade e explosão. Para Alejandro Lucía, médico e professor de Fisiologia do Exercício na Universidade Europeia de Madri, ainda não há "resposta clara" sobre o papel da genética no esporte.

Há uma década foi constatado que as pessoas que tem nos cromossomas uma variante do gene ACTN3 são mais lentas e menos explosivas. Calcula-se que, entre um e dois indivíduos em cada dez apresentam essas características.

Os portadores desses genes são incapazes de liberar uma proteína imprescindível para que os músculos se contraiam de maneira explosiva, como é preciso acontecer na saída dos 100 metros rasos do atletismo, por exemplo.

Essa mutação, exclusiva dos seres humanos - que são os únicos para quem a explosão muscular não é vantagem evolutiva para garantir a sobrevivência -, apareceu entre 40 mil e 60 mil anos atrás.

"Essa variável no DNA surgiu, possivelmente, com nossos ancestrais que saíram da África rumo a Europa e Ásia", explicou Lucía à Agência Efe.

Para o pesquisador, esta é a única mutação genética vinculada diretamente ao rendimento esportivo, só que no caso, negativamente. Uma pessoa que tenha esse gene, provavelmente, nunca chegará a uma final dos 100 ou 200 metros rasos.

Na literatura científica aparecem mais mutações vinculadas ao esporte, segundo Lucía, mas estas não estariam "cientificamente claras", pois os resultados apresentam pouca potência estatística e não se replicam em estudos com populações variadas e diferentes países.

"Não quer dizer que não haja genes ou fatores genéticos que condicionem o rendimento, mas, atualmente não é fácil encontrá-los. O rendimento depende de muitos fatores", avaliou o médico.

No início deste ano, a revista "Plos One" publicou um artigo que apresentava essa dificuldade, em que os pesquisadores da Universidade da Louisiana, nos Estados Unidos, liderados por Claude Bouchard, constataram que os melhores corredores de longa distância não teriam diferenças genéticas para o restante da população.

Ao todo, os cientistas analisaram dados de 1.520 fundistas de diversos países do mundo como Austrália, Etiópia, Japão, Quênia, Polônia, Rússia e Espanha, e também 2.760 não-esportistas.

Assim como existem variantes genéticas que apontam para maior predisposição para doenças cardiovasculares ou esquizofrenia, por exemplo, os especialistas buscaram "sinais" genéticos nos atletas, que explicassem por que são campeões.

Segundo Lucía, no entanto, é preciso seguir acompanhando, pois está claro que existe algum tipo de predisposição que possa ser melhorada com os treinadores, motivo pelo qual acredita ser questão de tempo e pesquisa para encontrar esses genes.

O espanhol advertiu, contudo, que será algo complexo, pois é necessário grande quantidade de participantes na pesquisas, e também que sejam replicados resultados em estudos de genética, o que iria contra a "própria definição de atleta de elite", por o DNA determinar quem será o campeão de alguma disputa.

Além do gene da "explosão", único identificado, se buscam variantes vinculadas a função cardíaca, função pulmonar, transporte de oxigênio e motivação, entre outras.