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Dunga diz que só resultados superarão desconfiança na seleção e rejeição a ele

Por Rodrigo Viga Gaier
Imagem: Por Rodrigo Viga Gaier

22/07/2014 15h00

Por Rodrigo Viga Gaier

RIO DE JANEIRO (Reuters) - A conquista de bons resultados dentro de campo é a aposta do novo técnico da seleção brasileira, Dunga, para resgatar a confiança e a simpatia do torcedor, abaladas pelo vexame na Copa do Mundo, e, de quebra, superar a rejeição ao seu nome em sua segunda passagem pelo comando da equipe.

Dunga, que comandou a seleção entre 2006 e 2010 e fracassou nas quartas de final do Mundial da África do Sul com a derrota para a Holanda, disse saber que seu retorno ao comando da seleção não será fácil.

A equipe deixou uma péssima impressão ao sofrer uma humilhante derrota de 7 x 1 para a Alemanha na Copa do Mundo disputada em casa e ao perder a disputa de terceiro lugar para a Holanda por 3 x 0, resultado que levou à demissão do técnico Luiz Felipe Scolari, do coordenador Carlos Alberto Parreira e de toda a comissão técnica.

Para a missão de reformular a seleção brasileira, além de Dunga, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) já havia trazido o ex-goleiro Gilmar Rinaldi para o cargo de coordenador de seleções e mantido o técnico Alexandre Gallo como responsável pelas categorias de base. O restante da comissão técnica ainda não foi definido pela cúpula da CBF.

Paralelamente ao desafio de reformular a equipe, Dunga terá que superar uma barreira pessoal: a rejeição que cerca o seu nome quatro anos após ter deixado a seleção brasileira e, para isso, o treinador do Brasil elegeu o futebol de resultados nesse recomeço de trabalho como a tábua de salvação.

“O torcedor está machucado porque a seleção representa muito e tem carinho. Vamos reconquistar (o torcedor) com resultados e mostrar o quanto queremos fazer melhor”, disse Dunga em entrevista coletiva em que foi anunciado como sucessor de Felipão no comando da equipe.

Dunga citou mais de uma vez seus números em sua primeira passagem à frente da seleção, quando teve cerca de 76 por cento de aproveitamento, apesar de enquetes e pesquisas informais que mostraram rejeição de cerca de 80 por cento à sua recontratação.

"Tenho que buscar força e energia nos 20 por cento que estão a meu favor e com resultados vou ter que conquistar os demais", disse.

“Pesquisas estão aí para serem derrubadas“, afirmou o treinador. “Se 76 por cento de aproveitamento não foi suficiente, vou ter que fazer muito mais que isso para conquistar essas pessoas.”

Em setembro, começam os primeiros desafios de Dunga na sua nova era. O Brasil fará amistosos nos Estados Unidos contra Colômbia e Equador, dois adversários que estiveram na Copa do Mundo e que já têm uma base para a disputa da Copa América de 2015 e eliminatórias para o Mundial de 2018 na Rússia.

Dunga reconheceu que a Copa de 2014 deixou coisas boas e que não se pode tratar a seleção agora como se fosse "terra arrasada". O treinador disse ainda que apostará na mescla entre atletas jovens e experientes em sua nova chance no comando da seleção brasileira.

“Temos que formar para 2018 uma seleção com jovens. Vou ter que mesclar como a Holanda fez... Temos que passar as duas partes da moeda. Novos com certa experiência e pretendo colocar aos poucos. Tem que colocar pela competência e rendimento. Não só porque é novo”, frisou.

O presidente da CBF, José Maria Marin, ao ser questionado se Dunga seria o técnico na Rússia, em 2018, mesmo que os resultados não venham, foi pouco contundente ao falar do futuro do treinador.  

“Esse é o nosso projeto. Houve uma troca de ideias entre todos e a ideia é da continuidade. É nosso propósito e objetivo. Conversamos com Gilmar e Gallo e depois com o Dunga. Ele ouviu atentamente e é um projeto até 2018”, disse.

ALFINETADAS

Após uma primeira passagem pela seleção marcada por atritos com jornalistas, Dunga reconheceu que precisa melhorar sua relação com a imprensa e disse que os quatro anos que passaram desde que deixou o comando do Brasil o tornaram mais maleável e flexível.

“Sei que tenho que melhorar no contato com vocês jornalistas; não tinha tido experiência antes e foquei muito mais no trabalho”, disse.

“Tive atrito com várias pessoas. Combinado não é caro, talvez levei muito na ponta da faca e não foi cumprido. Não vou mudar minha essência que é lealdade, comprometimento, transparência.”

Dunga usou sua primeira entrevista como técnico em sua segunda passagem pela seleção também para alfinetar o trabalho de Felipão e Parreira durante a Copa do Mundo deste ano, encerrada no último dia 13.

Mais de uma vez ele repetiu que chega à seleção para executar uma realidade e que não vai vender sonhos aos torcedores.

Antes do Mundial, Felipão e Parreira afirmaram que o Brasil tinha obrigação de vencer a Copa do Mundo em casa e, durante a preparação para o Mundial o então coordenador da seleção declarou que a seleção, pela estrutura montada, estava com a "mão na taça" e que o campeão tinha chegado à Granja Comary.

"Não podemos vender ao torcedor uma ideia de que a gente vai ganhar a Copa do Mundo antes da Copa do Mundo acontecer. Não acontece nada antes de começar o jogo", afirmou.

"A realidade são os 90 minutos e é ali que nós temos que decidir tudo."

Também não passou batido pelo novo comandante da seleção, que foi capitão de Parreira na conquista do tetracampeonato mundial em 1994, a reunião que Felipão fez com um grupo de seis jornalistas, a quem o treinador classificou de "amigos", na Granja Comary após a difícil classificação às quartas de final, quando o Brasil eliminou o Chile nos pênaltis.

"As conversas têm que ser como estão sendo aqui, com todo mundo, para todo mundo ouvir", disse o treinador, prometendo que não vai cercear o trabalho dos jornalistas, mas também não dará "vantagens individuais para A, B ou C".