Humberto Ramos vende imóveis e sonha com o futebol 17/04/2007 às 09h06 FI/Arquivo |  |
| | Bernardo Lucas, do Pelé.Net
BELO HORIZONTE - Autor do cruzamento para o gol de Dario, na vitória sobre o Botafogo, por 1 x 0, no Maracanã, que deu ao Atlético-MG o título do Brasileiro de 1971, a maior conquista do clube até hoje, o ex-armador Humberto Ramos, aos 56 anos, ainda tenta engrenar sua carreira de técnico. Sem clube no momento, mas com algumas possibilidades em análise, o ex-jogador se dedica ao ramo imobiliário, por meio da Método Imóveis, empresa que fundou logo após abandonar os gramados no início da década de 80.
CENAS DE HUMBERTO RAMOS |
---|
 Em 99, antes da final do Brasileirão |  Durante o jogo decisivo no Morumbi |  Corinthians tira o título do Atlético | LEIA MAIS DO ATLÉTICO-MG |
Ex-treinador do próprio Atlético e de clubes de menor expressão no cenário nacional, como Vila Nova de Goiás e Marcílio Dias de Santa Catarina, Humberto Ramos tem alternado momentos em que se encontra dentro do futebol e outros em que está fora, embora mesmo quando não esteja trabalhando como técnico ou dirigente, faça questão de acompanhar de perto o mundo da bola.
Há dois anos, Humberto Ramos vive um período de folga do futebol, trabalhando em sua empresa do setor imobiliário. "Hoje atuo no ramo de empresas. Tenho uma empresa imobiliária, que mexe com aluguel, compra e venda. Porém não deixei de ser treinador", enfatizou o ex-armador atleticano. "No momento não estou treinando nenhum clube, mas continuo com a carreira de treinador. Não fico sem ver futebol, acompanho todo os jogos possíveis, gosto de analisar os times do Brasil e de fora", disse. Espécie de porto seguro, onde recorre nas fases de tempestade ou de absoluta calmaria na carreira de treinador, a Método Imóveis sempre teve de conviver com o futebol, grande paixão de Humberto Ramos. Ele já atuou como comentarista de futebol na televisão, coordenador das divisões de base do Atlético nos anos 90, e diretor de futebol do time principal em 2005.
Porém, o grande momento do campeão nacional de 1971, em sua fase pós-jogador, foi em 1999, quando era dirigente do Atlético e assumiu o cargo de treinador, durante a campanha do Brasileiro. Naquele ano, o Galo foi vice-campeão, tendo sido superado na final da competição pelo Corinthians, em uma equilibrada decisão.
Após essa passagem pelo alvinegro mineiro, Humberto Ramos continuou sua carreira de treinador e comandou Marcílio Dias e Avaí, ambos de Santa Catarina, Pelotas, do Rio Grande do Sul, e o Vila Nova de Goiás. Se não conseguiu deslanchar totalmente como técnico, ele teve também a experiência como diretor de futebol do Atlético, em 2005, ano em que o time foi rebaixado para a Série B do Campeonato Brasileiro.
Contratado após fraca campanha do Galo na temporada 2004, quando conseguiu evitar a queda na última partida, com uma vitória sobre São Caetano, no Mineirão, Humberto Ramos comandou a montagem de um time formado por jogadores experientes e conhecidos, muitos deles com passagens vitoriosas por equipes do Brasil e do exterior.
Porém, o time atleticano não rendeu o esperado. Antes da queda do clube, o então presidente Ricardo Guimarães trocou o diretor de futebol. "Ser diretor não é fácil, pois você assume responsabilidades que não são suas. Montei um time bom, que ia brigar para classificar para a Libertadores, todos estavam apoiando, porém o trabalho não deu certo", lamentou.
Sem autonomia
Humberto Ramos cita como um sério problema que enfrentou a falta de autonomia para contratar o seu técnico preferido. "Não escolhi o treinador (Tite). Foi a diretoria quem o quis contratar, quando cheguei no clube ele já estava contratado. Quando ele saiu, o outro treinador contratado (Lori Sandri) não foi o de minha preferência, já tinha acertado com outro treinador", explicou.
O ex-jogador explica que essa situação foi decisiva em sua saída do Atlético. "Não queria contratar ele, porém, a diretoria preferiu que ele fosse o comandante da equipe. Aí achei melhor largar o comando do futebol do clube. Ou seja, eu não tinha toda a autonomia que um diretor precisa ter", revelou o ex-diretor atleticano.
Apesar desse momento conturbado vivido no Atlético, Humberto Ramos não guarda nenhuma mágoa do clube ou do então presidente Ricardo Guimarães. "Ele me deixava sempre à vontade. Eu conheço o Atlético, a pressão é muito grande em cima das pessoas", ressaltou. "Ele acreditava que o treinador contratado poderia tirar o time da situação difícil. Porém não guardo mágoa dele, o Ricardo sabe do meu potencial, sempre me apoiou", acrescentou.
De acordo com Humberto Ramos, se no futuro ele tiver uma proposta para voltar a trabalhar no Atlético ele poderá aceitar tranqüilamente. "Não tenho problema quanto a isso, se tiver a oportunidade eu volto e treino o Atlético sem o menor problema. Eu sou profissional e sei da minha qualidade", afirmou.
O ex-jogador, no entanto, garante que voltar a ocupar um cargo de dirigente não é do seu interesse, preferindo comandar a equipe dentro de campo. "Este cargo não me agrada, não gosto desta área da política. Não tenho um perfil de trabalhar fora do campo. O meu negócio é trabalhar no campo, e ficar lá em baixo. Nisso eu sou bom. Sei avaliar o jogador, sei comandá-los, e assim eu posso mostrar meu verdadeiro valor", comentou.
No exterior
Humberto Ramos revela que nesses últimos dois anos teve propostas para treinar algumas equipes do futebol Brasileiro, mas não as aceitou. Segundo ele, as ofertas partiram de clubes do Paraná e de São Paulo, que estavam em dificuldades financeiras e em campo, e que tentaram contratá-lo para salvar as equipes.
"Os times queriam me contratar para ser o salvador da pátria, porém assim eu não quero. Quero treinar uma equipe que tenha condições. Eu não sou o salvador da pátria, conheço muito de futebol, porém se a equipe não me der uma estrutura, um bom projeto de treinamento fica mais difícil para mostrar a minha qualidade", afirmou Humberto Ramos, que informa estar estudando, no momento, propostas de equipes do exterior e admite que deverá sair do Brasil para prosseguir a sua carreira. Ele não quis revelar os nomes desses clubes.
Além do Atlético em 1999, o treinador teve uma boa campanha com o Vila Nova de Goiás em 2001, mas, por causa de problemas financeiros do clube, que geraram um desentendimento com a diretoria, o treinador deixou o comando da equipe. "Na época em que treinei o Vila Nova (de Goiás) eu lancei oito jogadores da divisão de base, e com estes jogadores consegui fazer uma boa campanha", lembrou.
"Porém, o time perdeu dois desses jogadores durante a competição. Com esta queda de rendimento o time perdeu força e o presidente do Vila veio me cobrar resultados. Resolvi então sair da equipe. Pois não tive a expectativa e o reconhecimento esperado", explicou
Técnico exigente
Humberto Ramos se considera como um treinador que analisa bem o elenco com que está trabalhando. "Analiso o meu plantel, os meus jogadores e o adversário, para poder saber contra quem eu estou jogando, e depois analiso a competição. Além disso, é sempre bom você conhecer sua cidade e a torcida do clube, para saber se tem o apoio de todos, o que é muito importante sempre", comentou.
Ele observa ainda que é um técnico exigente, que cobra sempre empenho dos seus comandados. "Cobro a excelência, cobro sempre que o jogador tem de atuar bem, tem de dar 100% dele. Além disso, sou transparente em que faço, trato sempre bem meus atletas, afinal eles são seres humanos, e administro meu time como administro em casa, sendo sempre verdadeiro", ressaltou.
Para Humberto Ramos, futebol não tem surpresa. Segundo ele, todos trabalham do mesmo jeito, o diferencial sempre é a condição de trabalho que o treinador tem. "Futebol não tem segredo, não tem mistério. Os treinos são iguais, é igual a um circo, os treinadores fazem praticamente a mesma coisa. O diferencial de uma equipe com a outra é a estrutura, é a capacidade do clube de honrar com o que ele prometeu", disse.
O treinador vê o futebol como algo mais tático do que técnico. "A técnica foi deixada de lado", diz o ex-armador, que era um jogador de muita técnica e que se notabilizou pelas assistências aos companheiros, especialmente por meio de lançamentos. "O jogador que tem uma força física adequada, uma boa preparação consegue se destacar no futebol", criticou.
Para o treinador, a preparação física é muito melhor do que na época em que ele jogava. "Com a avaliação tecnológica que evoluiu nos últimos anos, os médicos podem prevenir as lesões que os jogadores podem ter. Os jogadores atualmente têm uma longevidade maior", revelou. |