Topo

Fittipaldi defende Rubinho de críticos 'trouxas' e aconselha: "Guie um F-1 até onde puder"

Atualmente na F-Linea, Christian Fittipaldi fala ao UOL sobre lembranças da F-1 e Indy - Flavio Florido/UOL
Atualmente na F-Linea, Christian Fittipaldi fala ao UOL sobre lembranças da F-1 e Indy Imagem: Flavio Florido/UOL

Bruno Freitas

Em São Paulo

20/07/2011 07h00

Após o acidente que vitimou Ayrton Senna em San Marino em 1994, apenas dois brasileiros sobraram na Fórmula 1. Christian Fittipaldi deixou o "circo" no fim daquele ano, enquanto que Rubens Barrichello segue até hoje na categoria, em batalha constante contra uma espécie de má vontade nacional, que, na visão de seu antigo colega da "turma de 94", é totalmente injusta com a história do piloto da Williams.

RUBINHO: GUIE UM F-1 ATÉ O ÚLTIMO DIA

Em entrevista ao UOL Esporte, Christian Fittipaldi relatou que recentemente aconselhou o amigo Rubinho a superar a resistência contra seu nome e ficar na Fórmula 1 até onde as condições físicas e mentais permitirem, curtindo cada curva. Atualmente, o piloto da Williams vivencia sua 19ª temporada na categoria.

"Eu conversei com ele e disse: 'Se eu puder te dar um conselho: Guie um carro de Fórmula 1 até o dia que você não puder mais. Até quando cheguem para você e falem que você não presta mais para guiar um carro de Fórmula 1'", diz Christian, piloto com passagens pela F-1 e F-Indy, hoje aos 40 anos.

"É um mundo interessante, a gente tenta explicar, mas só quem viveu consegue entender. É muito fácil as pessoas criticarem, chegarem a uma conclusão errada, precipitada. No entanto, a história de quem está com a bunda dentro do carro é completamente diferente. Muitas vezes eu pensei nisso e tenho certeza que ele também. Dá vontade de chegar para a pessoa e dizer: 'Então vem aqui, seu trouxa. Senta aqui no carro, anda um pouquinho, depois a gente vai ali conversar, quero ver se você vai falar as mesmas coisas'", completa, ainda em referência às críticas contra Barrichello, recordista em longevidade na F-1.

  • Pascal Rondeau/Allsport /Getty Images

    Piloto brasileiro Christian Fittipaldi nos boxes da equipe Minardi em seus tempos de Fórmula 1

Atualmente Christian vive uma novidade em sua vida no automobilismo, na temporada de estreia como comentarista de F-1. Nesta missão, o filho de Wilsinho e sobrinho de Emerson tem empunhado o microfone da Jovem Pan, que nos tempos românticos do rádio esteve nas mãos de seu avô, Wilson Fittipaldi. "É uma espécie de continuação na família", diz. 

Como comentarista, Christian afirma ver o compatriota Felipe Massa em um momento de adversidade dentro da Ferrari e da própria categoria, diante do panorama interno na equipe amplamente favorável ao companheiro Fernando Alonso.

"Ele voltou do acidente na Hungria com um osso duro de roer, talvez o maior que já encontrou, que se chama Fernando Alonso. É o melhor piloto da Fórmula 1 hoje em dia, o mais completo, dentro e fora das pistas. Além disso tem um respaldo financeiro muito grande. Conseguiu criar uma redoma de vidro em volta dele na Ferrari que é difícil o Massa competir", comenta.

CHOQUE COM A MORTE DE SENNA: "PENSEI QUE ELE ERA INVENCÍVEL"

  • Christian viveu de perto o final de semana que talvez seja o mais sombrio da história da F-1, em San Marino 1994, quando Ayrton Senna e o austríaco Roland Ratzenberger morreram em acidentes diferentes. Antes, ainda na sexta, Rubens Barrichello saiu com escoriações simples depois de uma batida violenta. Fittipaldi diz que saiu em estado de choque da prova, com o falecimento do amigo que também representava um modelo de perfeição na sua cabeça.

    "Estava voltando para casa domingo à noite, para eventualmente depois pegar um avião para o Brasil na segunda. Estava em estado de choque. As pessoas estavam em estado de choque. Metade de mim estava nesse estado, pela morte dele, e a outra metade estava porque eu tinha uma imagem dele de uma pessoa tão invencível, quase atingindo a perfeição. Nunca passou pela minha cabeça que ele iria morrer numa pista", conta o ex-piloto de Minardi e Footwork.

Último Fittipaldi a obter destaque nas pistas, Christian diz que a família espera ver um próximo representante brilhar em breve. A expectativa reside sobre Pietro, neto de Emerson, que escolheu um caminho inusitado para brasileiros. Ao invés de um trajeto que aponte para a F-1, a esperança do famoso clã aposta no ingresso precoce na Nascar, um universo que Christian conhece bem. O filho de Wilsinho Fittipaldi foi um dos poucos brasileiros a correr na divisão de elite da categoria, conhecida como a última fronteira a ser desbravada pelos pilotos do país.

SORTE EM ACIDENTE DE 93: DEDO DE DEUS

"O neto do Emerson começou por um caminho inverso, apesar de ter 15 anos. Ele falou: 'Vou tentar ser piloto de Nascar'. Preferiu este caminho antes ser piloto de F-1, de F-Indy, para eventualmente cair na Nascar. Resolveu começar de baixo, para tentar se consagrar nessa categoria. É um dos primeiros exemplos que a gente tem, que pode dar certo ou não, se tiver o talento necessário", afirma. 

De volta às pistas no Brasil desde o ano passado, Christian atualmente mantém o senso de competição vivo na Fórmula Linea, categoria da Fiat que tem Felipe Massa como um dos homens de organização. Na disputa, o piloto corre pela equipe do pai Wilsinho, em experiência que o faz lembrar do início de carreira.

"Eu não tinha um relacionamento diretamente profissional com o meu pai desde a época da Fórmula Ford, em 88, e depois na Fórmula 3, em 89. A grande diferença é que naquele tempo eu tomava muita bronca do meu pai. Hoje sou eu que dou bronca nele", diz Christian, que após a prova de Londrina no final de semana ocupa a 13ª colocação no campeonato.

Na vida fora das pistas e dos boxes, Christian também tem se aventurado no comando de um projeto de mountain bike voltado ao esporte olímpico. O piloto trabalha com sua equipe Scott-Brasil com a meta de ter um atleta desta modalidade nos Jogos do Rio de Janeiro em 2016. 

CONVIVÊNCIA DURA COM MICHAEL ANDRETTI NA INDY: "EGOÍSTA"

Em toda sua vivência no mundo do automobilismo, Christian Fittipaldi aponta a parceria com Michael Andretti na Fórmula Indy como o relacionamento mais complicado. Ambos correram juntos por algumas temporadas no fim da década de 90, na equipe do famoso ator de cinema Paul Newman, já falecido (a Newman/Haas).

"A família Andretti é o pessoal mais egoísta que eu conheci na minha vida", afirma. "Em alguns momentos, a convivência era difícil por causa disso. Eu me considero egoísta, mas o Michael era 30 vezes pior do que eu", recorda.